[CAERN] Alojamentos

Severino escutava atentamente o desenrolar da conversa e quando pensa em responder ao questionamento de Lilibeth acaba antecedido por Boom. A ragabash interpela o Theurge da matilha sobre uma conversa com o Alpha da esquadrão da fúria. Parece que a resposta foi além da expectativa de todos e o Uktena não entende por que até aquele momento ninguém tinha noção desse relato. Michel havia esquecido de informar sobre a existência de três poderosos fetiches e sobre o surgimento de um novo reino na Umbra, simplesmente esquecido. Um misto de incredulidade e raiva, se possível, esse era o semblante do Alpha ao final da história. Um Ahrou não dar a devida atenção ao fato ou não ter a dimensão dele seria, para ser bondoso, compreensível, mas um Theurge esquecer era o fim da picada.

*- Rapariga de cego!!!*

A fala de Sylvia, sob um ponto de vista próprio, vai de encontro ao que Severino pensava. Talvez a menção à glória da matilha fosse um aceno para aqueles que não conseguiriam alcançar a real importância da missão ou fosse apenas o lado Senhor da Sombras falando mais alto do que o lado Theurge, mas Severino sabia que aquilo era muito maior do que a matilha e sua busca por Glória.

O Uktena se sentia estranho diante dos questionamentos. Para ele a forma ou o caminho para ter a missão eram secundários diante do fato de tê-la. E tê-la não era uma escolha e sim uma obrigação. Seu sangue parecia correr mais rápido em suas veias enquanto sua mente trabalhava a mil tentando resgatar tudo o que conhecia ou ouvira falar sobre os fetiches. Antes mesmo de qualquer decisão o Uktena já parecia tentar bolar a forma como a matilha atuaria e o que fazer quando os fetiches estivessem sob sua posse. Para alguns poderia parecer loucura, mas o que esperar de um jovem Uktena diante da possibilidade de seu primeiro grande segredo?

Essa relativa euforia ou ansiedade é interrompida pela fala do Fenris que Severino responde:

"- ...nossa ética, Irmão. Você também faz parte dessa matilha."

Ele então se volta para Boom que também o questionara.

"-Tá registrado, baixinha."

E a discussão prossegue até que Boom dá um pantim. Logo a Galiard ajuda a conter Boom e Severino apenas observa. O pernambucano volta a focar no principal.

"- Um negoço desse não é problema de uma matilha apenas e sim da Seita. Se ninguém tá tratando disso temos a obrigação de alertar a todos e nos colocar na linha de frente pra ajudar a resolver."

Ele então olha para o Fenris e conclui tranquilo e firme

"- A decisão caberá à Ira-de-Thor como líder da Seita e disso essa matilha não tem dúvida."

Sylvia não tivera tempo de defender suas próprias ideias, mas mesmo com a boa defesa do Fenris não podia deixar que alhos fossem misturados com bugalhos. O Ahroun da tribo de pouca inteligência havia confundido tudo mas muita gente falava ao mesmo tempo e Sylvia não tinha tempo de dar respostas adequadas.

*Merda!*

Para piorar, a atitude do Fenris faz com que a Andarilho tenha um tipo de surto psicótico socorrido pela nova Galliard da matilha.

*Vai ser difícil*

Boom falava que via alguém e aquilo não ia passar despercebido. Conversaria depois sobre aquilo, mas após as falas de Severino se pronuncia:

- Todos nós sabemos disso, Severino, mas uma coisa que dizes é muito verdade: hoje a Seita tem um problema que ninguém está resolvendo e acho que isso embasa nosso desejo de resolvê-lo.

Olha para o Fenris e fala dirigindo-se a ele:

- No entanto, precisamos desfazer mal entendidos. Ninguém conspirou contra ninguém, tivemos uma ideia ruim, que não foi usada, para defender a honra e os membros dessa matilha. Depois lhe explico melhor se quiser, mas esse assunto não é para agora e você foi injusto nessa acusação.

Logo em seguida fala novamente com o conjunto da matilha:

- Talvez possamos buscar um consenso. Nosso alfa parece já ter uma decisão tomada, mas conversar para negociar a missão com a Esquadrão não impede que recorramos à liderança da Seita caso eles não queriam cooperar.

Olha para todos e espera as reações. Não ia aceitar sem lutar ir como coadjuvante para que um Presas de Prata ganhasse glórias e honras para si e para sua matilha às suas custas e às custas da Renascidos pelo Fogo.

Boom se mantém em silencio, escutando apenas o que os outros tinham a dizer. Não destinou olhares a Severino ou Sylvia quando estes falaram, muito menos ao desgraçado do Fenris, mas somente a Michell, quando este a apoia em suas palavras. Ou os dois Andarilhos estavam loucos, ou eram os únicos a ver onde aquilo podia terminar.

Felizmente, mesmo que sem ter certeza, Severino não havia aceitado 100% a ideia de Sylvia, ficando "em cima do muro". Talvez a Honra batesse no peito do Ahroun, mas já tinha dito o que pensava daquilo tudo e bastava apenas esperar.

A vontade que tinha era de mandar o Fenris ir se fuder mais uma vez, mas se controla por Lili ainda estar entre eles. Manteve então sua cabeça abaixada, com medo de olha-lo novamente e ver o fantasma de Steven a assombrando mais uma vez.

Amanda mantinha o olhar abaixado, apenas tentando não pensar nos estresses que estava tendo. Imaginava que sempre que se via nervosa, a figura de Steven se mostrava presente.

Quando achou que estava calma o suficiente ouve novamente a voz do Senhor das Sombras vindo logo atrás dela. A raiva cresce novamente no coração de Boom que deixa sua fúria queimar, mudando para a forma crinos novamente e desvencilhando-se dos braços de Lili.

- MALDITO!!!

Virou-se para trás procurando por Steven. A voz estava em sua mente, mas sabia que ela não era real. Levou então as mãos até a cabeça e apertava com força na intenção de lhe infringir dor:

- SOME! SOME! SOME DA MINHA CABEÇA!!!

A matilha começa a discutir o que Michell havia descoberto pela manhã, e então, dentro da própria matilha, começam a receber mais um julgamento moral, mas dessa vez era correto, Amanda e Michell não tiveram qualquer sensibilidade com a tribo do novo membro da Matilha, enquanto pareciam querer defender os Presas de Prata com unhas e dentes, a discussão se expande e chega ao ponto que Amanda começa a gritar, e o Cria começa a os ameaçar de contar para a liderança uma conspiração que nem existira, além de dar mais uma cutucada no seu lado de juíza.

Aquilo a deixa bem irritada, mas ela deixa passar aquele momento, no entanto, Amanda surta novamente, então Aman coloca a mão no ombro da Andarilho que estava de costas para si e voltada para Michell e a Fianna do nome complicado, Aman então fala com um tom sério, sem estar simpática como sempre, como se desse bronca numa criança.

"- BOOM! Apenas pare! Fale o que está acontecendo ou se controle, parece uma criança birrenta."

Lili fica calma diante das palavras de Boom. Ela parecia prestes a perder o controle e já bastava os erros cometidos antes pela Arautos, um frenesi ali não aumentaria em nada a reputação da recém Renascidos e nem as palavras das lendas da Nação Garou iriam apagar qualquer outro erro da matilha. Mas todo mundo começa a falar ao mesmo tempo sobre a missão e a Galliard apenas observa o desenrolar.

O que assusta a Galliard é a transformação repentina de Boom em Crinos, neste processo, a Fianna é jogada ao chão. As palavras da Andarilho são estranhas e não eram para Lili realmente.

-O que está acontecendo?

Michell muda para Crinos e tenta acalmar Boom, mas Aman faz um trabalho tão bom quanto o Cria de Fenris que tinha dito que era diferente dos outros membros de sua tribo. Pífio e desnecessário. Se levantou, mudando para Crinos e ergueu a palma da mão enorme da forma Crinos para Aman, dizendo:

-Um momento Aman. Não é desta forma que ela vai se acalmar.

Pegou o rosto de Amanda e olhando nos olhos dela, disse:

-Amanda. Fique tranquila que estamos aqui com você. Com quem está falando? Vamos lá gata...respire devagar...vamos...você consegue.

Olhou de relance para Severino e depois para o Cria de Fenris. Siegfried não estava ajudando em nada e quem era ele para julgar alguma coisa do que estava acontecendo na matilha? Pelo que a Galliard sabia isso não era função de seu augúrio.

Amanda esta descontrolada com aquelas alucinações. Iria acabar machucando alguém de sua matilha se as coisas continuassem assim. Precisava dar um jeito nisso, nem que a solução fosse uma bala na própria cabeça.

As mãos de Michell lhe alcançam enquanto este tenta lhe acalmar, mas antes que tivesse sucesso em sua tentativa a voz de Aman entra como uma faca no coração da Andarilha. Gostava da Peregrina, gostava mesmo dela, mas aparentemente era sua sina ser apunhalada por aqueles que mais gostava.

Lagrimas começavam a verter de seus olhos e um ganido igual ao de um cachorro ferido é emitido em meio aos soluços.

Novas mãos tocam o corpo de Amanda. Desta vez era Lili, em sua forma de batalha. A Andarilha continuava a chorar enquanto a voz da Fianna entrava por seus ouvidos. Amanda soluça mais algumas vezes até conseguir falar:

- S-Ste-Steven... E-ele... Não me d-deixa e-em paz. E-ele não sai da m-minha ca-cabeça... Eu... Eu n-não sei ma-mais o que faz-fazer...

Amanda chorava, descarregando toda a tristeza que tinha em seu coração. Involuntariamente abraçou Lili, aninhando-se nela como uma suplica por ajuda.

A conversa desandava a olhos vistos com a intervenção dos Andarilhos e as posições do Fenris. Severino não queria dar muita bola pra fala desastrada do Theurge, mas o Fenris não iria deixar por menos aquelas palavras. Sylvia tenta ajudar a limpar o terreno e se oferece para conversar com o galego em outro momento e explicar o inexplicável. Severino acena positivamente concordando com a atitude da SS e reforça a iniciativa respondendo ao Fenris, mas falando para todos.

“- Então tamos entendidos.”

Era o ponto final naquele debate. Porém, no momento em que pretendia continuar a conversa num rumo melhor a Ragabash assume sua forma de batalha e começa a reclamar de algo em sua cabeça. Em instantes o Theurge e a Galiard também assumem a forma Crinos e tudo vira um caos.

*- Agora fudeu!*

Os dois, mais a Juíza, resolvem consolar a andarilha que apenas chora e se agarra na Galiard. Severino se coloca de pé instantaneamente e abre os braços como quem cobra explicações por aquilo. Como falava com o Fenris que era quem discutia com Boom ele faz um gesto pedindo que se mantivesse calmo. Queria se antecipar a qualquer reação mais agressiva dele diante da atitude de Boom. Ao mesmo tempo ele aproveita o olhar da Galiard e faz um gesto para que saia dali com a desleriada ragabash que só fazia falar no falecido Stevie.

Estava torcendo para que suas palavras chegassem realmente à Amanda. Ela poderia entrar em frenesi a qualquer momento e quando a Andarilho balbucia algumas palavras das quais Lilibeth entende apenas que alguma coisa estava na cabeça dela e que esta coisa era Steven, olha automaticamente para Sylvia e Mitty. Os dois eram Theurges e poderiam ter mais respostas do que a Galliard.

O que a pega de surpresa é o abraço involuntária da menina. Ela precisava de apoio e Lilibeth a abraça de forma maternal tentando acalmar a garou. Passava a mão direito na sua cabeça, enquanto começava a falar com sua voz encantadora:

-Está tudo bem querida. Fica tranquila que vamos te ajudar com o Steven... você só precisa se acalmar, oks? Você é muito forte e aguentou muita coisa...vai passar por isso também.

Continuava a abraçar a irmã de matilha e acariciar seus pelos para tentar acalmá-la de vez. Percebeu o olhar de Severino para que deixassem o local e Lilibeth, muito tranquila, diz:

-Vem querida. Vamos andar um pouquinho. Vem comigo.

Acenou positivamente com a cabeça para Severino e apoiava Boom no seu braço direito, tirando-a dali. E dá uma satisfação para a matilha:

-Nos vemos na assembleia daqui a pouco.

E deixa a matilha acompanhada de Boom.

-Próximo Post – Grutas e Cavernas

As palavras de Michell mostra que ele era tão fraco e inconsistente emocionalmente quanto sua irmã de tribo. Sentia falta de End Bum, um Andarilho que não tinha medo de fazer o que tinha que ser feito. Foi fazendo o que tinha que ser feito que a Arautos do Trovão fez seu nome e foi essa nova leva de Andarilhos do Asfalto: Punhos de Aço, Boom e Michell que levavam ela ao fracasso. Já tiveram Andarilhos do Asfalto melhores, era esse o pensamento que passava pela cabeça de Sylvia enquanto evitava até olhar para Michell para que o desgosto que ela não conseguia esconder a cada palavra dele se manifestava em seus olhos.

O Fenris, que era quem ela esperava que fosse um pé no saco, era o mais pertinente.

*As coisas estão invertidas aqui...*

Boom tem um novo ataque histérico e mobiliza a turma do mamão com açúcar da matilha. Apenas Aman tinha uma postura adulta com a Andarilho. A Fianna e Michell tentava ser legais com a Andarilho histérica. Em meio a tudo que era dito, Sylvia apenas cruza os braços quando a recém-chegada começa a se deslocar com Boom e comenta com quem ainda estava ali:

- Se alguém for seguir a dupla, avise para Boom que eu posso ver o que está acontecendo com ela, se não a retirarem de perto de mim antes, e que se há alguma conexão espiritual dela com Steven ela não tem que ficar brigando contra ela, tem que a compreender, saber o que o espírito quer e tirar algo de bom disso.

Estava super contrariada pela postura de arrastarem para longe dela a Garou com problemas espirituais. Chegava a conclusão que além da fraqueza dos Andarilhos, a Fianna também devia ser meio desequilibrada. Não sabia se aquela matilha ia dar certo, cada vez tinha mais dúvidas.

Severino observa Boom ser retirada, ouve as palavras de Sylvia e aguarda a decisão de Michel

"- E você Michel? Vai ou fica?"

A Senhor das Sombras opina sobre Michell ir ou não:

- É melhor que ele vá, sem saber o que ela tem o ideal é manter Theurges por perto e não o contrário.

Ainda estava indignada com a Fianna, mas dá a deixa para que Michell pudesse ir como imaginava que ele iria querer, afinal era da mesma laia de Boom e os dois pareciam bem próximos.

Amanda não resiste a tentativa de ser retirada do local enquanto tenta controlar suas lágrimas. Definitivamente Steven estava acabando com seu autocontrole e se não desse um jeito logo naquilo teria que por uma bala em sua cabeça. Talvez assim aquela maldição acabasse.

Sylvia aguarda a decisão de Michell ou novos pronunciamentos.

O trio em Crinos sai do alojamento, mas não antes do theurge perder uma ótima oportunidade de ficar calado.

*- Oxi... vai tabacudo!*

Severino já estava começando a ficar incomodado com a postura de todos ali de fazer futrica por pouca merda. Porém, segura um pouco mais a onda e concentra no principal.

Diante do comentário ironicamente despretensioso do Fenris, Severino não tem o que dizer. Até onde sabia era bem possível que ele estivesse certo, mas como diziam seus conterrâneos no Recife *- Pior é nada!*. Era o que tinha para hoje e o pernambucano não tinha por hábito fazer críticas públicas. Um sábio de sua tribo uma vez lhe disse que elogios sem faz em público e a crítica no privado.

Sem concordar e sem contestar Severino traz a assembleia de volta à pauta.

“- A hora avança e temo que fechar as coisa pra assembleia. Vou requisitar a Ira-de-Thor que a Renascidos assuma a missão na Umbra e se ele achar que que deve envolver alguma outra matilha na conversa será uma decisão dele. Nossa Galiard cantará nosso renascimento e você, Vingança-de-Hermod, honrará sua tribo e matilha num combate. Acho que temos tudo pra recomeçar com sucesso nossa caminhada na Seita.”

"- O que acha Aman?"- pergunta Severino na tentativa de ouvir a única opinião que ainda não havia sido posta.

Sylvia nota que Severino se esquiva, mas mesmo com os problemas que haviam ela começava a simpatizar pela praticidade do Fenris e fala com ele em tom de sinceridade, olhando-o nos olhos:

- Parece que sim... Michell, mesmo com a excelente ideia do Totem, até agora se mostrou um Theurge muito fraco, Amanda ainda não mostrou ao que veio como Ragabash e parece preferir a morte ao amadurecimento e sobre a Fianna acho que ainda é cedo para avaliarmos.

Olha para Severino, pois aproveita para passar a ele a imagem que tinha da matilha e conclui dizendo:

- O fato é que eles são a nossa matilha e se quisermos reconquistar o espaço que perdemos teremos que transformar porcos em pérolas e conseguir fazer deles e de quem mais tiver deficiências, grandes Garous. Uma missão difícil, mas não impossível.

Pelo Caern, garous ouvem o anuncio de chegada de um garou:

-'Sombra da Noite, Fostern, Ragabash dos Senhores das Sombras, anunciando sua chegada ao Caern.

Boom aparentemente ficara ofendida e se retirava para as grutas com a Fianna e Michell, Aman tinha cansado de ser boazinha e só se ferrar por aquilo, estava na hora de crescerem se quisessem se tornar alguém naquela seita, não achava que os três eram o elo fraco, mas eles teriam que ser martelados e moldados para se tornar fortes, pelo fogo do Vulcão.

"- Temos que nos preparar para a Assembléia, o duelo de Vingança-de-Hermod nos fará bem aos olhos da Seita, lidaremos com a infantilidade de alguns depois, por favor, evitemos que eles falem na Assembléia, afinal, já perdemos prestígio demais por nossas bocas falarem mais do que devíamos. O fogo do Vulcão nos fez Renascidos, e com ele devemos abraçar nossos defeitos e moldá-los como numa forja e transformá-los em nossas forças."

Aman falava com convicção, uma convicção diferente do que demonstrara logo após sua destituição como Juíza, precisava se fazer valer aos olhos de Gaia e Luna, e começaria tentando eliminar sua inocência que as vezes atrapalhava seu julgamento, o traidor lhe havia tirado uma parte dessa confiança nos outros.