Edifício Torre de Babel - Apt 312 - Refúgio de Sophia Mckee

Em um prédio comum do subúrbio carioca, Sophia fez seu discreto Refúgio.
Ao contrário do que a fachada do prédio pode indicar, o apartamento da Brujah possui uma decoração que denota um toque de sofisticação associado à praticidade, tornando o ambiente de dois quartos, um banheiro, uma cozinha e uma sala pequenos, porém de certa forma aconchegantes. As janelas são protegidas por persianas resistentes com trincos, e sempre com pesadas cortinas escuras, as portas possuem trincos além da chave, uma precaução para evitar "problemas", além de garantir privacidade e isolamento, bastante apreciados pela proprietária...

Entrego algumas notas referentes ao custo da corrida até a frente do prédio, onde se localizava o refúgio que havia preparado há alguns meses antes, com a ajuda do vampiro que havia me criado... Apesar do cansaço pela viagem, elevadores nunca foram meus ambientes favoritos, o que me leva até o lance de escadas, três, para ser exata:
*Preciso descansar, aquilo vai começar no próximo anoitecer, como todas as noites...* Penso com certo desânimo, jogando a bolsa com a bagagem em cima do sofá, após abrir a porta.
Tranco a porta, e em seguida os trincos de segurança, tirando a jaqueta e colocando-a em cima do encosto do sofá, onde me deito deixando a bagagem cair no chão, e junto dela, um papel que meu "mestre" havia me dado, para casos de emergência... Mais cedo ou mais tarde, teria que seguir os "procedimentos padrões" para vampiros na minha posição...

Continuo olhando o papel com os contatos, desviando o olhar para o celular em seguida:
*Melhor fazer isso agora, quanto mais rápido fizer, menos riscos...* Penso em meio a um suspiro, me levantando e pegando o telefone.
A pessoa para quem eu estava ligando era alguém do meu clã, pelo que meu criador havia falado, ele era um dos mais influentes de nosso sangue na cidade, porém nunca havia o conhecido pessoalmente... Na verdade, conhecia muito poucos vampiros na cidade, a pedido de meu senhor sempre tinha me mantido abaixo dos radares sociais enquanto estava sob sua proteção, mas agora a situação era diferente, era o momento de eu começar a me virar sozinha uma vez que ele tinha me mandado de volta para o Rio de Janeiro sem ele:
*Espero não fazer besteiras...* Penso, discando o número, escrevendo o SMS para Luiz Filippi...

OFF: Estou enviando um SMS para Luiz Filippi.

"Me telefone amanhã no início da noite para combinarmos sua apresentação. Filippi"

Meu celular emite um bipe referente a SMS recebido:
*Certo, agora tenho que me preocupar com o que vou vestir...* Penso, enquanto leio a mensagem de Luiz Filippi.
Por sorte, suor não era mais um problema, mas isso não diminuía a preocupação com as roupas, afinal, sair na rua com uma jaqueta cheirando a guarda-roupa velho e naftalina não é algo que costuma ajudar na "caça"... Certamente poderia achar algo que pudesse se aproximar do "formal", pois meu senhor sempre havia me alertado sobre a necessidade de sempre parecer apresentável, pelo menos enquanto não se tem muita visibilidade social. Causar boa impressão nunca tinha sido uma das minhas prioridades em vida, mas agora a questão é bem diferente...

Me levanto, seguindo para o quarto a passos curtos... Não tinha pressa, era quase hora de "dormir":
*Pelo menos você tá arrumada...* Penso enquanto olho a cama, exatamente igual à que havia deixado antes da viagem...
Ao menos a poeira e a rinite não eram mais problemas com os quais deveria me preocupar, não mais... Vou até o guarda-roupas, pegando na prateleira mais alta um edredom e jogando-o na cama. Me jogo logo em cima, cruzando as mãos por trás da cabeça, apoiando-as no travesseiro enquanto olho para o teto, esperando o sono chegar...

Sensação de peso, o único fio de consciência presente era a sensação de imobilidade, como se meu corpo estivesse mergulhado em piche... Essa sensação não era exatamente desesperadora, talvez o tempo começasse a me deixar de certa forma insensível a isso, pelo "hábito", uma vez que usar o termo "natural" não seria algo aceitável, não na minha condição. A impressão de dormência e falta de movimento me fazem acordar lentamente, enquanto sinto uma dor aguda no abdômen, quase a dor de uma queimadura localizada... Aos poucos meus pensamentos começam a tomar uma forma mais consciente, e menos onírica, um momento de transição do sonho para a consciência, instintivamente sinto como se meu corpo fizesse um esforço concentrado para forçar um fluxo do líquido precioso, o significado de "vida" para nós, vampiros, um batimento cardíaco "forçado", uma necessidade humana de ar de um pulmão que já não mais era vital, mas ainda uma marca da humanidade recente.

OFF: Usar 1 ponto de sangue para acordar.

Me levanto, sentindo uma pontada no estômago... Desde meu Abraço, aquele ferimento insistente sempre estava lá a cada anoitecer, como uma lembrança da condição que me levou a ser o que sou hoje... Me concentro mais uma vez no sangue que havia em meu corpo, novamente sentindo como se um batimento cardíaco estivesse sendo "forçado", enquanto o líquido corre entre o que talvez fossem minhas veias, se concentrando onde os ferimentos em meu abdômen e causando uma sensação extremamente desconfortável, uma leve pulsação trazendo uma dor aguda, estranhamente "humana" em tudo aquilo que havia acontecido...
Enquanto minha memória começava a se organizar, me lembrava das coisas que tinha que fazer... A apresentação à Príncipe:
"Fillipi, tenho que enviar a mensagem para ele..." Penso em um sobressalto, procurando pelo celular, me levantando rapidamente...
No entanto, apesar da dor, e das preocupações, havia algo no ar, uma sensação, uma coisa ruim, era estranho... Era humano demais pra deixar alguém como eu confortável... Alguma coisa estaria muito errada, ou seria apenas ansiedade?

OFF: Usar 1 pontos de sangue para curar ferimento no abdômen.

Pego o celular, procurando o número de Filippi, que já estava gravado na lista de chamadas devido à mensagem que havia enviado na noite anterior, avisando-o de minha chegada na cidade... Aperto o botão de discagem automática, levando o celular ao ouvido, escutando os sinais da chamada...

Assim que Luiz Filippi desliga o celular, pego as roupas que tinha escolhido para o encontro com o Príncipe, uma calça social preta, uma blusa social branca de mangas 3/4, e um casaco blazer de couro, uma combinação que era particularmente elegante... Pelo menos, era o que as vendedoras e as revistas sempre diziam e, de qualquer forma, me parecia agradável e confortável.
A parte das lingeries sempre ficavam na outra parte do guarda-roupas, intercalado ao meu "arsenal" de couro, os "corsets", "catsuits", botas, luvas, e outros "acessórios", o que me faz parar por ali e passar a mão sobre um dos corsets:
*Interessante... Preciso ir em algum ponto de encontro, mas não hoje.* Penso com um sorriso de canto de rosto, apreciando a injeção de ego que me servia muito bem para me dar confiança, principalmente ao me lembrar "daquelas" situações em que o controle era só meu...
Volto a escolher a lingerie para aquela noite, uma singela combinação de cor branca, para não correr o risco de errar e acabar marcando através da blusa. Prendendo o cabelo em coque e pegando toalhas, me dirijo até o banheiro com decoração singela, sem superfícies espelhadas...

O banho não demora. Por questão de praticidade e de tempo, decido não lavar os cabelos nessa noite, prendendo-o em um coque para não molhá-lo... De frente ao espelho, desembaraço a última mecha de cabelo dando especial atenção às pontas, impedindo que elas ficassem espigadas devido à umidade do creme para pentear. Àquela altura, fazer um penteado que usasse chapinha não seria exatamente indicado, não com a chuva fina que caía do lado de fora...
Finalizo uma trança simples, saindo do banheiro e me dirigindo ao quarto... Visto a camisa social, deixando dois botões abertos, não parecia vulgar à primeira vista, sem decote exagerado, no entanto, nada fechado demais, "puritano"... Aproveito o espelho de corpo inteiro, meio empoeirado, para arrumar a calça:
*Perfeito...* Penso observando meu corpo de perfil, atenta à qualquer detalhe, tomando o cuidado de não deixar passar qualquer imperfeição.
- Boa noite, sr. Príncipe, eu sou Sophia. É um prazer conhecê-lo... Falo em frente ao espelho, ensaiando um conjunto de gestos, treinando uma espécie de performance para não parecer tão pega de surpresa... Lidar com o inesperado é um sério problema para mim...
*Droga... Formal demais...* Penso sozinha, repassando a imagem em minha cabeça como se estivesse parecendo mecânico demais, artificial.
- Sr. Príncipe, boa noite... É um prazer conhecê-lo, eu sou Sophia. Repito em frente ao espelho, analisando mais uma vez os gestos e a articulação das palavras...
*Será que ficaria egocêntrico demais se me apresentasse antes de cumprimentá-lo? E se houver mais pessoas na sala, como será que deveria me dirigir a eles?* Continuo pensando, tentando antecipar o máximo que podia a situação que se apresentaria dali há algumas horas...
Me sento na cama, pensativa, cruzando a perna esquerda por cima da direita, ajeitando a meia...

Ao me sentar, sinto uma pontada forte no estômago:

*Maldição...*

Praguejo mentalmente, levando as mãos ao estômago... Me concentro, sentindo o líquido viscoso percorrer minhas veias numa sensação visceral, desconfortável, fazendo a região de meu abdômen formigar levemente...

OFF: Usar 1 Ponto de Sangue para curar ferimento no abdômen.

Forço um respirar fundo, sentindo meus pulmões se expandirem com um pouco de dificuldade, talvez pela inércia do tempo, conferindo se não haveria mais resquícios daquele ferimento:
*Ótimo...*
Penso, soltando o ar dos pulmões num ato confortável de alívio... Todas as noites as perfurações me traziam lembranças de meu doloroso Abraço e, com um estranho sentimento, de meu senhor... Volto minha atenção ao que estava fazendo, colocando a meia, e em seguida uma bota de cano curto com salto plataforma, típicos de motoqueira... Tratava-se muito mais de um toque pessoal, "quebrando" a formalidade da calça e camisa sociais, e seria improvável que alguém a acusasse de ser "brega":
- Ótimo...
Falo para mim mesma, dando uma última olhada no espelho de corpo inteiro...

Visto o casaco de couro tipo blazer, cheirando levemente a gola para garantir que não estivesse com cheiro de mofo ou de naftalina... Poderia parecer um gesto bobo ou sem sentido, mas quando não se respira mais, as falhas com cheiros desagradáveis precisa se tornar alvo de uma cautela dobrada.
Pego meu estojo de maquiagens, seguindo para o banheiro, não perdendo a atenção do relógio, não seria nada educado me atrasar para a apresentação... Começo passando uma solução adstringente na pele, retirando qualquer resquício de maquiagem da noite anterior que por acaso, poderia ter restado apesar do banho... O corretivo facial era o primeiro, passo-o sobre a testa, o nariz, maçãs do rosto, bochechas e queixo, tomando o cuidado de não deixar nenhum excesso ou imperfeição à mostra...

Continuo a maquiagem até concluí-la, cuidando de não deixar nenhuma assimetria... Guardo meu estojo de maquiagens, pegando o celular e discando o número de um táxi, não poderia me atrasar...

Saio do apartamento, trancando-o cuidadosamente, verificando mais de uma vez a fechadura para garantir... Caminho até o elevador, que no momento se encontra no térreo. Chamo o elevador, que em poucos segundos apita avisando que já estava no andar. Faço alguns últimos retoques no cabelo e em minha roupa, aproveitando o espelho:
- Boa noite...
Cumprimento o porteiro, que já parecia estar de saída... Desço os degraus da entrada do prédio, sinalizando para o táxi que havia chamado minutos antes:
- Boa noite, eu preciso chegar no Hotel do Bairro da Glória. Estou um pouco atrasada...
Falo para o taxista, que me cumprimenta e faz um sinal para entrar no banco traseiro de passageiros, e aciona o taxímetro, dando partida imediata.

OFF: Próxima postagem no tópico Ruas-Zona Norte.