Mansão Lyon - Jardim Botânico - Refúgio de Vincent Lyon

Bruno se acalma e, estranhando os fios de sangue no rosto do anfitrião, responde:

"- Infelizmente não fiz nada do que eu queria graças à tentativa dessa louca de me fazer beber seu sangue. Obviamente que eu cuspi o sangue na cara dela."

Ele então ajeita suas calças e puxa um lenço do bolso com o qual enxuga a testa que não tinha uma gota de suor. Observando o entorno como quem procura por algo ou alguém, Bruno pergunta:

"- Você viu o Natanael? Ele ficou de me levar ao príncipe pra eu me apresentar. Aí acabei me distraindo e só agora percebi que ele não está por aqui."

A resposta de Bruno faz com que Vincent revire os olhos e leve a mão direito à sua testa. Bruno e Francisca não estavam brigando, pelo que ele pôde entender.

-Parecem duas crianças. Utilizando disciplinas e ardis na casa de um anfitrião. Mon dieu.....terei que ser o papai de vocês e lhes ensinar etiqueta agora? Terei de ser o objeto castrador em suas não-vidas? Agradeça.....você e mademoiselle da Silva por eu não invocar a Lei da Hospitalidade.

Suspirou fundo, sem nem precisar disso e respondeu as outras palavras de Bruno:

-Ele saiu do Rio de Janeiro por motivos pessoais e me deixou como Primógeno do clã.

Encarou Bruno nos olhos e sua face ainda estava com os fios de sangue. Depois de meio minuto proferiu:

-O levarei até a Príncipe Wilson para sua apresentação. Temos que nos reorganizar pela enésima vez e conversarei com mademoiselle da Silva a respeito do engodo que ela estava tentando fazer com monsieur assim que ela sair deste tipo de.....momento animalesco de fuga. Venha comigo monsieur Modenesi....deixemos mademoiselle da Silva se acalmar...

Convidava o Toreador para seguir com ele. Pretendia deixar Francisca sozinha para poder se recuperar. Subiu para a sala de estar que ficava no térreo e pegou o celular. Poderia conversar com Modenesi tranquilamente enquanto estava no telefone. Agradecera que sua carniçal tinha colocado alguns números em seu celular. Escrevera uma mensagem rápida à Príncipe (enviada ao Narrador pelo facebook) e ligava para Guille França. Ele tinha que estar a par da situação do clã, já que era o ex secretário.

OFF: Mensagem à Príncipe: (Mensagem por celular: Bon soir Príncipe Linda. Peço desculpas por incomodá-la, mas o Primógeno Lacerda deixou a cidade e me deixou como responsável do clã. Gostaria de saber sua localização para que a reunião dos Toreador para contigo seja realizada.
Atenciosamente,
Vincent Lyon.)

Bruno escuta as palavras de Vicent sobre o ocorrido entre ele e a apavorada negrinha com sua cara de paisagem habitual (vide o avatar). Aquilo fazia parte do passado agora e o bicheiro estava mais interessado nas notícias que se seguiram. A saída repentina do primógeno, a passagem do posto e a cara com fios de sangue de Vicent levam Bruno a arquear a sobrancelha involuntariamente. Ele escuta Vicent em silêncio e acena positivamente quando este se coloca a disposição para levá-lo ao príncipe. Já sobre Xica o bicheiro se resume a dar de ombros.

Vicent caminha em direção a outra parte da casa e antes de acompanhá-lo Bruno da uma última conferida no que sua ex- futura concubina estava fazendo. Seu semblante é pensativo e seu olhar é vago até que algo lhe vem à mente. Ele acelera o passo para alcançar Vicent e pergunta:

"- Você disse que ele te deixou...?"

Enquanto estava no celular Vincent percebe que ele vibra, indicando uma mensagem de texto. Era a príncipe, tinha quase certeza. Natanael não o deixaria daquela forma para depois lhe enviar uma mensagem de texto com os dizeres: ”Pegadinha do Malandro”. Se fizesse isso saberia que sua não vida seria um inferno com um ex amante como Vincent em seu encalço.

O celular tocava e Guile ainda não tinha atendido. Neste momento ele ouve as palavras de Bruno e sorri, carismático:

-Não....monsieur Modenesi....ele nos abandonou. Acredito ter sido claro em minhas palavras?

Os fios rubros na face do Toreador já perdiam a cor e tornavam-se escuros. O celular estava no ouvido e Vincent estava preocupado. Precisaria falar com Guile logo e tentar angariar o cargo de Delegado para ele se isso fosse possível. Bruno poderia ser o Secretário do clã? Não saberia dizer pois o homem era muito grosseiro, mas isso poderia ser de alguma valia. Francisca da Silva com certeza seria a encarregada pela Guilda Toreador.

Bruno pode ouvir as palavras de Vincent para Guile no celular, e o Toreador não fazia a menor questão de escondê-las:

-Boa noite monsieur França. Peço desculpas por incomodá-lo, mas estou entrando em contato para informá-lo que Natanel Lacerda deixou a cidade para cuidar de assuntos pessoais e me deixou como o Primógeno do clã. Devido a esta situação...gostaria de saber se deseja um dos cargos de Delegado da Camarilla. Acho que ser delegado é um cargo mais adequado ao monsieur e caso aceite posso tentar angariar isso junto a Príncipe na reunião que terei com ela daqui a pouco.

Há um momento breve onde provavelmente Guile falava e Bruno consegue ouvir a resposta do novo Primógeno:

-Infelizmente ainda não sei quem é o xerife. Mas pela experiência que tenho em outras cortes....será com certeza um Brujah, imagino. Mas ainda não tenho certeza...e o que lhe ofereço não pode ser definitivo. Só acredito que tens as habilidades necessárias para desempenhar muito bem o papel de Delegado. Sobre o acúmulo de cargo...bem...ainda não tenho certeza. Mas fico deveras feliz que monsieur deseje continuar como o Secretário do clã.

Vincent demora um pouco para continuar a conversa com Guile no celular e profere, olhando Modesi:

-Talvez sua presença comigo no Elísio temporário seja interessante para angariar o cargo de Delegado. Monsieur está livre para seguir ao Elísio comigo e com monsieur Modenesi?

A toreador prosseguia correndo pelo refúgio de Vincent, morta pelo medo que tinha sido provocado misticamente por Modenesi.

Bruno continua ouvindo a conversa que Vincent tinha com Guile:

-Tudo bem. Nos encontramos lá. Lhe envio uma mensagem com o endereço assim que desligar o telefone. Estamos eu e monsieur Modenesi a caminho do mesmo local. Monsieur França.....tome cuidado. E se eu souber de algo a respeito de monsieur Lacerda você será o primeiro a saber, já que por enquanto continuará a ser o Secretário do clã. Até breve.

E encerra a ligação. Abre a mensagem enviada e confirma que era a Príncipe que havia lhe contatado. Envia uma mensagem à Guile imediatamente e volta sua atenção à Bruno:

-Por gentileza monsieur Modenesi....me acompanhe.

Vincent deixa a mansão, adentra o carro e aguarda que Bruno faça o mesmo. Após, ele deixa a residência Lyon e ganha as ruas da Zona Sul.

Bruno escuta a reposta de Vicent à sua pergunta e mesmo sem entender direito opta pelo silêncio. *Esse puto não tinha dito que o Natanael o deixou... como primogeno?*

Ainda com um semblante de dúvida o bicheiro observa o toreador ligar para Guile. Logo no início da ligação Vicent desdiz o que disse para Bruno ao dizer para Guile que Natanael dissera que era para ele ser o primogeno. Bruno arqueia a sombrancelha ainda com semblante de dúvida e tenta puxar pela memória o recente diálogo para ver onde tinha ocorrido a falha na comunicação. Se lembra de sua pergunta sobre Natanael deixar Vicent....como primogeno e da reação do mesmo. Bruno troca a perna sobre a qual tiha o peso de seu corpo apoiado, cruza os braços, leva uma das mãos ao queixo e coça sua barba por fazer, baixa a sobrancelha e arqueia a outra enquanto, discretamente, filma o anfitrião de cima a baixo.

*Será?*

O bicheiro conçando o queixo procurava trejeitos afeminados no anfitrião. Sabia que em se tratando de artistas era natural certa viadagem pra ajudar no estilo, mas daí a.... Convivia com um monte de bichinhas na Escola de Samba e aprendera a identificar alguns indícios de viadagem alheia. Troca a perna de apoio e a sombrancelha arqueada e:

*Não pode!?!*

Bruno escutava o que Vicent conversava ao mesmo tempo em que realizava sua averiguação até que Vicent desliga o telefone e se vira pra ele. Com a rapidez que lhe é peculiar o bicheiro baixa os braços, cruzando as mão para trás, baixa a sobrancelha e faz sua cara de paisagem. Vicent pede que ele o siga. Prontamente Bruno espera o anfitrião tomar a dianteira para segui-lo e enquanto percorre o caminho até o carro filma o andar de Vicent pra ver se ele não dava uma desmunhecada. Seu pensamento estava a mil por hora tentando chegar a alguma conclusão.

Ela não sabia quanto tempo tinha perdido. Ainda estava desorientada pelo que tinha acontecido. A tentativa de Xica da Silva de envolver Bruno Modenesi em sua presença e depois mergulha-lo na vitae embriagante que ela carregava tinha falhado miseravelmente e, além de tudo, o maldito a tinha humilhado, provocando profundo medo que descontrolou a negra malemolente.

Entretanto, ela não esqueceria. Ao apelar para o olhar aterrorizante, o bicheiro tinha assinado a sua sentença. A mente dela vagava ao acaso, imaginando formas e mais formas de se vingar. Poderia não ser naquela noite, naquele ano, quiçá naquele século. Mas aconteceria. E ela começaria pelas beiradas, mas faria de tudo para evitar demonstrar que guardava ressentimentos. Sua roupa estava cheia de sangue, sujo de uma forma que ela não esperava. Voltaria ao seu refúgio para se reorganizar?

A toreador olhou para o lado de fora e percebeu que a chuva continuava de uma forma que ela não esperava. Tanta água daquele jeito atrapalharia qualquer deslocamento na cidade. Se fosse por si mesma ela partiria atrás de Vincent. E foi isso que resolveu fazer, ao pegar o telefone e enviar uma SMS para ele.

O celular de Francisca acusa uma mensagem. Era Vincent.

SMS "Não há com o que se desculpar mademoiselle da Silva. Como lhe disse anteriormente, a minha casa é sua casa. Estou chegando ao Elísio neste momento. Precisa de alguma coisa?"

SMS: Centro Cultural Banco do Brasil. Venha socializar conosco mademoiselle. Uma beleza feminina como a sua está fazendo muita falta neste ambiente.

A toreador recebeu a mensagem e começou a se preparar para seguir em direção ao elísio.

Finalmente estava em sua residência. Um imenso sorriso se riscava na face do belíssimo Toreador. Olhou pelo retrovisor de seu carro e então pegou o aparelho que abria o portão de sua humilde residência. O portão se abriu como num passe de mágica e ele adentrou o terreno que comportava seu porto seguro. Estacionou e quando saiu do automóvel viu que sua carniçal o esperava na porta da residência Lyon.

-Boa noite querida.....como está?

Ela respondeu que estava bem com um sorriso no rosto. Vincent então a indagou:

-Onde estão os mortais? E a propósito…os outros membros não os machucaram, não é mesmo? Poderia chama-los na sala para bebermos um pouco de vinho para que eu possa laçá-los?

Caminhou casa adentro e deixou as chaves do carro na mesa de cabeceira junto com o pen drive de Bruno Modenesi. Seguiu até o pequeno barzinho da sala de estar e pegou algumas taças, suficientes para todos os mortais presentes na casa, e duas garrafas de vinho. Uma de tinto e outra de branco. Não sabia a preferência dos mortais e não queria desagradá-los, apesar que agradá-los era fácil demais. Aguardou-os chegar na sala para depois servi-los.

Ele quase gargalhou com o ciúme de Alanis, deixando a sua atenção aos vinhos e às taças para lá. Era muito hilário ela achar que seria substituída depois de tantos anos servindo-o. Será que ela não imaginava que ele desejava laçar outros para abraça-la definitivamente? Claro que ele não tinha permissão da feiosa Nosferatu que achava que mandava no Rio de Janeiro, mas ele precisava disso? Claro que não.

Tocou o lado direito do rosto de Alanis com carinho e sorrindo proferiu:

-Fique tranquila minha querida. Deixemos como está.

Pensou por um instante e resolveu deixar sua carniçal descansar. Vincent tinha muito o que pensar ainda.

-Querida....se quiser se recolher, por gentileza, pode fazê-lo. Deixarei um recado em uma folha de papel com o que preciso para amanhã a noite.

Caminhou na direção do sofá sem esperar resposta da carniçal e ligou a televisão, colocando no canal 40 para ver as notícias. Precisava saber o que tinha acontecido na Capela Tremere. Esquecera de perguntar se Linda tinha enviado alguém para ajudar os feiticeiros. Sabia que tinha esquecido de algo.

Já não bastava a cidade estar passando por um dilúvio. As notícias que se seguem no noticiário eram horríveis, tremendas e denotavam que a cidade maravilhosa não era mais tão maravilhosa quanto pintavam. O caos tomava conta de tudo e a cada notícia daquelas que se espremem sai sangue, Vincent fica boquiaberto.

Quando ouve o massacre na Cidade de Deus ele pega o cartão da academia de Guille para verificar a proximidade do local e constata que o massacre fora próximo da casa do irmão de clã.

-Foi você Guille França? Você matou todos aqueles coitados a mando de sua namoradinha Emilie Blanc foi? É muita coincidência você estar muito estranho no Centro Cultural e esta chachina mostrar as pessoas sem sangue próximo do seu dojô. Mon Dieu....preciso falar com Guille.....e logo.

Pegou o celular e mandou uma mensagem para o Secretário do clã. A situação não poderia ficar pior, mas estava ficando. Era apenas uma suposição de Vincent sobre a ligação da chachina com Guille, mas ele poderia estar errado e queria estar errado.

OFF - SMS para Guille França: Boa noite Secretário e Delegado França. Precisamos conversar urgentemente. Me ligue quando estiver disponível. Boa noite.

Pronto. Agora era aguardar Guile entrar em contato com ele. E sinceramente ele esperava que fosse ainda aquela noite. Depois das notícias terríveis das quais tomara conhecimento, Vincent  resolve, desta vez entrar em contato com Victoria Ash, a senhora de seu amado amante. Não ligaria para ela, pois sabia que a cainita era uma pessoa ocupada e quando saiu da reunião com a príncipe, ela já não estava mais no centro Cultural, não a vista pelo menos.

Digitou uma mensagem para a senhora de seu amado e enviou. Dela, não esperava uma resposta prontamente. Victoria Ash, somente seu nome, já dizia muito e dela não cobraria nada, absolutamente nada.

OFF – SMS para Victoria Ash: Boa noite mademoiselle Ash. Quando estiver livre, poderia por gentileza entrar em contato? Gostaria de saber se tens notícias de monsieur Lacerda. Até breve, Vincent Lyon.

”Desgraçado. Então eu não era interessante o bastante para ti? Para mantê-lo aqui no Rio de Janeiro? Volte para a calma Europa então e não retorne nunca mais, porque se o fazê-lo irei transformar sua não vida em um inferno do qual o Rio de Janeiro iria ser uma vaga lembrança de como a não vida iria ser ótima.”

Pensou enquanto lia a maldita mensagem enviada por Victoria Ash. Mas Vincent também pedira por isso. Já não tinha lido a carta escrita em sangue de Natanael? Suspirou fundo e agora faria o contato mais complicado. Emilie Blanc.

Pegou o celular e ligou para a Primógena Malkaviana.

O Toreador acabara de falar com Emilie que parecia um pouco distante. O que para uma Malkaviana era normal demais. Estava deveras preocupado com Guille e ele não entrou em contato desde sua mensagem. Precisaria criar um laço social com ele devido ao cargo de Secretário do clã ou poderia destituí-lo e dá-lo a outro membro.

-Bruno Modenesi? Não...claro que não. Ele é muito vulgar para este cargo. Francisca da Silva é um nome a se cogitar para ser a Secretária. A classe dela, apesar dos atos um pouco impensados da noite anterior, é uma ótima candidata.

Resolveu ponderar suas questões enquanto criava uma obra de arte. Seguiu para o seu atêlie, que ficava no anexo da mansão e sentiu-se aliviado de que a chuva estava terminada. Abriu a porta e sentiu o cheiro característico de tinta a óleo. Abriu um imenso sorriso e foi até uma tela em branco, que havia sido coberta com tinta branca para suavizar as cores que seriam pintadas por cima. Pegou a paleta de cores e um pincel e ponderou alguns instantes.

-Pintarei Emilie, Luiz Fillipi, Guile, eu, Natanael...não....ou mortos não.

E começou a pintar o quadro sem nenhum esboço. Somente o que vinha em sua mente.

OFF: Narrador...solicito rolagem de dados para a criação de uma obra de arte.

Depois de começar a imaginar a obra, viu que ela realmente não era lá aquelas coisas.

-Talvez a presença de Guille esteja acabando com o contexto da minha obra ou a cor depressiva dos cabelos de Emilie. Este branco leite azedo é terrível, se ela tivesse um cabelo vermelho fogo acenderia qualquer paixão somente ao observá-la. Mon Dieu....minha criatividade está fora de forma. Preciso treinar mais....

Começou a pincelar o quadro, mesmo com a péssima ideia que teve e percebeu que sua técnica artística era melhor elaborada do que sua criatividade. Continuou trabalhando na obra quando ouve raios e trovões lá fora.

Se aproxima da janela do anexo e vê que o céu estava mais um vez carregado.

-Deste jeito vamos morrer afogados no Rio de Janeiro. Très désolée.

Voltou para o quadro e continuou pintando-o.