Instituto Europeu de Design - Antigo Cassino da Urca

O Hotel-Balneário, que foi construído para abrigar os visitantes da Exposição Internacional de 1922, comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, nunca chegou a se tornar um grande hotel como os demais do Rio de Janeiro construídos fora do Centro à mesma época. Mas se tornou muito famoso quando transformado em cassino no ano de 1933.

O Cassino da Urca reunia um complexo de diversões para acompanhar as horas de lazer, ao lado da principal atividade que eram os jogos de roleta e outros. Os shows apresentavam artistas nacionais e internacionais. Porém, em 1946, houve a extinção, por lei, dos jogos de azar no país, o que determinou o fechamento do cassino.
Na década de 1950, o prédio do Cassino da Urca voltou a ser ocupado. Dessa vez pela televisão. A TV Tupi, canal 6, dos Diários e Emissoras Associados, transferiu seus estúdios do Centro para a Urca. Ficou ali até fechar as portas em julho de 1980, quando foi tirada do ar por ordem do governo federal que cassou a sua concessão.

Por anos, ficou vazio, mas, desde 21 de novembro de 2006, o cassino, que estava sobre posse da prefeitura, foi alugado ao Instituto Europeu de Design, que irá investir 17 milhões de reais em troca da concessão de 50 anos para uso do local. O Instituto Europeu de Design pretende instalar no local uma "incubadora de projetos para pensar o Rio". Ao iniciar sua atividade, depois de concluídas as restaurações do antigo prédio, está será a segunda maior filial. Contudo, se as obras de restauração têm progredido, o funcionamento da escola no prédio, a que se opõe uma parte significativa dos moradores do bairro, está atualmente impedido por uma decisão judicial do Ministério Público, por falta de numerosas autorizações, como estudos de impacto (trânsito etc.). Entre outros obstáculos à ocupação do prédio pela escola de design, podemos citar também o zoneamento vigente naquele local da Urca, que exclui a possibilidade da implantação de um estabelecimento de ensino superior.

Nesse local, de propriedade de seu senhor e antigo consorte, Xica da Silva vai se abrigar no Rio de Janeiro.

Depois da conversa por telefone que foi tensa, apesar de Xica não demonstrar, ela chegou até o prédio onde se refugiaria. A estrutura do local ainda estava comprometida, as obras seguiam a galope, mas não ficaria completamente pronta antes da Copa do Mundo. Apesar disso a negra se hospedaria ali. Por uma entrada lateral ela chegaria aos seus aposentos privados. Um dos andares do antigo hotel e cassino estava magnificamente pronto.

Antes que chegassem ao seu refúgio a negra pegou seu celular, retirou o chip e jogou o aparelho pela janela. Falou nele por tempo suficiente com o sabbat para que pudessem rastreá-la, então era melhor comprar um aparelho novo. Quando chegou ao seu apartamento Carlos, Terese, Luna e Anita já estavam esperando pela toreador. José, o segurança particular, foi estacionar o carro. Assim que viu o grupo reunido, eufórica, ela os cumprimentou.

- Boa noite meus queridos. Tudo bem com vocês?

- Vejo que estão apreensivos - a toreador falou enquanto retirava os sapatos de salto e se jogava em um dos sofás. - A crise que se abateu sobre o Rio não estava nos meus planos, mas agora que estou aqui, precisamos prosseguir. Temos um cronograma de tarefas a cumprir. Terese, vejo que as obras de restauração e reforma do complexo estão adiantadas. Mantenho as ordens de continuar os esforços nesse sentido.

- Também verifiquei sua agenda de shows, Anitta, e percebi que estamos com várias festas espalhadas pelo país para que possa tocar. Entretanto aquilo sobre o qual tínhamos conversado há alguns dias deverá ser implementado. - ela parou de falar por alguns instantes, voltando-se para Erick e sorrindo. - Os paparazzi iam adorar fotografa-los juntos, meus amores. A funkeira poderosa e o lutador de MMA darão um casal e tanto. Já vejo a manchete no Ego."Anitta e Erick Silva são flagrados aos beijos em praia carioca

Alguns instantes depois, o motorista José voltou com um novo aparelho celular. Depois que deixara sua senhora ele tinha ido até um quiosque no shopping próximo e comprado um novo modelo, o suficiente apenas para completar ligações.

- E você, Luna, tem alguma novidade? Um de seus agenciados perto de se tornarem a nova subcelebridade do momento? - assim que recebeu o novo aparelho das mãos de José, discou o número de seu contato no exército. Queria informações oficiais sobre a cidade.

- Francisca da Silva Oliveira, Coronel. Tudo bem com o senhor? - ela respondeu imediatamente ao contato, enquanto permanecia atenta à conversa e as informações repassadas por seus carniçais. - Cheguei recentemente ao Rio, no meio de uma confusão dos diabos. Sabe me dizer o que está acontecendo?

A toreador realmente estava preocupada. Por quanto tempo ela teve oportunidades de se aproximar do Rio de Janeiro e, agora que finalmente decidira se mudar para a cidade maravilhosa, chegava em meio a um caos como aquele provocado pelo sabbat? E a forma como seu interlocutor na tentativa de ligação para Horázio Pezzini descobriu sua provável identidade em poucos instantes de conversa a assustou mais do que seria prudente demonstrar, mesmo apenas aos seus carniçais.

Ligação em espera no celular de Xica. Número desconhecido.

- Não posso negar a proposta, Coronel. Quero ambos os homens para a minha segurança. Não quero ir embora do Rio logo, acabei de chegar na cidade e ainda nem fui ao mar. - ela respondeu com uma risada aparentemente despreocupada. - Se puder me enviar o nome e o contato dos seguranças por SMS, pedirei que José entre em contato com eles. Se me da licença, e me desculpe o incômodo de ligar para o senhor numa noite como essa, deve estar extremamente ocupado, vou desligar e deixa-lo retornar aos seus afazeres.

Ela termina as suas palavras pela ligação e espera que ele se despeça. Depois do telefone encerrado a negra viu que tinha uma outra ligação na espera. Atendeu, apesar dos riscos que corria.

- Quem fala? Como conseguiu esse número, meu querido? - havia uma fina ironia na pronúncia da palavra querido.

Natanael, propositalmente, fala no Português materno, vigente no início do século XIX. Certamente seria muito próximo ao que Xica ouvira durante sua vida mortal:

_Pela bela voz acredito que eu esteja mesmo falando com a senhorita Silva. Tentarei ser breve. Seu número está em nossos registros, mas não se preocupe, não direi meu nome por motivos óbvios, mas sou um Membro da Família das Rosas e pretendemos reunir todas em um mesmo jardim. A senhorita já deve estar sabendo dos últimos acontecimentos e deve querer saber exatamente do que se trata. Caso tenha interesse, será bem vinda.

Espera que tenha sido claro o suficiente.

Mimos. Paparicos. Assim estava melhor do que antes. Era mais fácil conversar com um igual, do que com um bruto do sabbat. Apesar disso ela corria riscos e não queria se expor completamente.

- Senhor não direi meu nome por motivos óbvios, posso te chamar assim? Eu tinha dois contatos nessa corte. O senhor Horazio Pezzini e a senhorita Hildergand Eloa. Soube que um deles virou cinzas e o outro serviu de suco para assamita. Não seria muito inteligente da minha parte me encontrar em um jardim, mesmo que cheio de rosas, se eu não tiver referências da procedência dessas flores.

Xica ouve vozes ao fundo da ligação.

_Vejo que a senhorita acabou sabendo de muita coisa, isso é bom. Infelizmente, por telefone fica complicado lhe passar as devidas informações. Estamos nos decidindo a respeito do lugar exato para nos encontrarmos e já estamos chegando a um consenso. Lhe darei o endereço por mensagem.

Passam-se alguns segundos em silêncio.

_E não temo me expor demais. Caso seja para não fazer com que uma rosa tão bela fique em perigo, eu mesmo me arrisco: me chamo Natanael Lacerda e sou cria de Victoria Ash. É uma maneira de me chamar bem melhor do que a que a senhorita havia sugerido.

Ela sente um toque de humor no final da frase. Natanael esperava que a menção do nome de sua Senhora fizesse com que a Toreador se sentisse mais à vontade. Além do mais, Victoria tinha problemas demais com o Sabá americano, alguns baderneiros do Rio não poderiam fazer nada contra sua Senhora. A menção do seu nome não traria problemas.

Ela estava sentada com as pernas cruzadas, enquanto ouvia o que o outro toreador lhe falava. Ele usava um português um tanto quanto arcaico, mais próximo ao de quando Xica era viva do que aquele falado hoje. Isso a lembrava de coisas do seu passado. Quando Natanael afirmou que estavam discutindo um local onde se reunirem ela sorriu. A cidade estava sem elísio. E Xica tinha um espaço relativamente bem proporcionado para receber a corte. Mas não nesse momento. Não era de seu interesse encher o cassino de vampiros desconhecidos, pontando nele um alvo que dizia: incendeiem-me.

Quando derrotassem o sabbat, se é que isso iria acontecer, e a reforma estivesse completa, talvez o IED recebesse os nobres irmãos do Rio de Janeiro.

- Senhor Natanael... fico aguardando seu contato então. Mas lembre-se de que precisamos nos manter seguros, se essa decisão for tomada muito tarde às vezes eu não compareça nesse salão. As ruas não estão seguras, se é que precisamos de alguém pra nos lembrar disso.

_A sensatez em pessoa. - responde com um ar de riso o Toreador. - Também não quero que a senhorita se exponha a algum risco desnecessário. Aguarde minha mensagem e, em poucos minutos, lhe digo o local exato para o encontro. E saiba que sempre cumpro minha palavra para uma bela irmã.Tenha uma boa noite, senhorita Silva.

Aguarda a moça desligar. Era cavalheiro até nisso...

- Assim espero, senhor Natanael. - ela desligou o telefone sem se despedir. Assim que o fez voltou aos seus carniçais. Ali estavam todos eles reunidos. Terese com os documentos que mostravam os negócios da toreador espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Luna lhe falara sobre as possibilidades. Provavelmente em breve colocariam alguns de seus garotos nos reality shows da televisão brasileira.

Após alguns instantes ela levantou-se e foi até a cristaleira, onde guardava seus jogos de cristais. Com um pequeno estilete ela abriu seu pulso direito e deixou que a vitae vertesse em uma jarra própria para vinho do porto. Dividiu-o em cinco pequenas taças, com sangue apenas suficiente para que pudesse saciar seus lacaios.

Com uma outra taça, dessa vez maior do que as que tinha usado para verter sua vitae que serviria para alimentar seus carniçais a toreador passou por cada um deles, fazendo também um pequeno corte em cada um. Com a sua vitae a negra os alimentaria. E com a vitae deles beberia. Poderia se deslocar até a casa de shows onde Anitta se apresentaria dali há uma hora, mas no clima de insegurança que rondava a cidade achou melhor beber em seu próprio lar. Também poderia deixar para que se alimentasse quando os vampiros se reuniam, mas não queria nem podia depender dos outros para sua própria alimentação.

Quando as seis taças estavam cheias de vitae rubra e brilhante a vampira fechou as feridas de cada um dos mortais que lhe serviam e a sua própria ferida no pulso. Elevou a taça, oferecendo um brinde.

- Vamos brindar à nossa reunião. Por algum tempo eu não via todos os cinco juntos. O círculo de Xica da Silva. Anitta, Erick, José, Luna e Terese. E eu mesma. A própria Xica. Meu filho Jacó mandou lembranças para todos vocês. - os carniçais permaneciam em silêncio, mas todos levantaram as próprias taças. Aguardavam, entretanto, que sua senhor bebesse o primeiro gole de sangue para que pudessem fazer o mesmo. Quando a ex-escrava levou a taça de cristal aos lábios foi acompanhada por eles, que agiam numa sincronicidade incrível. Todos degustaram o sangue como se tratasse de uma safra dos mais nobres vinhos de Bourdeaux.

Assim que terminaram de beber a vitae, Xica degustando, enquanto seus carniçais tomaram tudo em um único gole, Anitta pediu licença. Ela se apresentaria ainda naquela noite em uma casa de shows na Lapa. A toreador não fez nenhuma objeção. os seus tinham que seguir com as próprias atividades, para não provocarem mudanças drásticas na rotina. Em breve Luna, Terese e Erick também deveriam se retirar. Todos tinham que cumprir atividades no período diurno, o que impedia que permanecessem a noite toda junto à senhora. Apenas José permaneceria com ela, uma vez que era o segurança e motorista particular. Se os outros vampiros realmente fossem se reunir, ela precisaria de alguém que guiasse o carro.

Anitta foi a primeira a se retirar, logo Terese e Luna também pediram licença. Xica autorizou que ambas deixassem o ambiente e seguissem para suas próprias casas. Agora ela estava só com os dois carniçais seguranças. Esse não era o papel principal de Erick, mas ainda assim ele sabia se defender e defendê-la, caso fosse necessário. E havia algo mais. Um dos motivos que levaram-na até o Rio de Janeiro. A negra não se tornaria uma lutadora, mas aprenderia alguns golpes com o lutador.

Enquanto esperava pela ligação do tal Natanael, Xica, Erick e José foram para o tatame. Praticariam alguns movimentos de artes marciais.

Sem muito o que fazer a toreador prosseguia com seus treinamentos de defesa pessoal.

Uma mensagem chega ao celular de Xica, era o número que havia ligado há minutos atrás:

(mensagem) Linda Rosa, estamos indo para o Jardim. Precisamos que fique em um local para ser colhida por nós, é a maneira mais segura. Vá, em segurança, até o local X. Mais informações em breve, linda Rosa.

Off: X = algum lugar da Zona Oeste

Quando ela recebe o SMS de Natanael a vampira já tinha terminado seu treinamento noturno e estava nos seus adaposentos privados, terminando de se lavar para seguir até a capela. Seu objetivo hoje não era surpreender, portanto evestiu-se com simplicidade. Dispensou Erick e seguiu junto com José até o ponto indicado pelo irmão de clã.

A toreador chegou ao seu refúgio e encaminhou-se diretamente para os seus aposentos. Ela pegou o telefone e fez uma ligação. Queria falar com a malkaviana Emilie Blanc.

Xica acomoda-se para o descanso diurno, logo depois de informar aos carniçais de que forma deveriam agir durante o dia.