[BOTAFOGO] CASARÃO GIOVANNI

Finalmente o automóvel estaciona à frente da residência Giovanni. Ida observa o casarão em silêncio. Aguarda seu lacaio abrir a porta para ela e sorrindo ela diz:

-Obrigada querido. Quero que devolva este carro o mais rápido possível. Depois lhe passarei algumas orientações, portanto, retorne o mais breve possível.

Ela segurava um urso de pelúcia e segue na direção da residência, tocando a campainha. Luca deixa Ida seguir sozinha, entra no carro e deixa o local. A Giovanni esperava ser atendida.

Ida esboça um sorriso carismático ao mordomo e pode perceber que a casa era dignamente decorada nos moldes da família necromante. Aquilo a agrada e diante da pergunta do mordomo, ela profere:

-As senhoritas Paola e Isabel estão?

Abriu sua pequena bolsa de mão e olhou o relógio no seu celular. Com os fusos todos ela acabou se atrapalhando com o horário e viu que era bem tarde e que poderiam estar ocupadas ou se preparando para descansar durante o dia. Apesar da briga com seu gêmeo, ela começava a se preocupar se o voo dele pousaria antes do nascer do sol.

Tinha ouvido falar de Paola, mas era a primeira vez que a vê pessoalmente. A face da Giovanni denotava uma beleza ímpar e algo que a Necromante não consegue deixar de notar, a falta de qualquer emoção. Quase como um cadáver ressuscitado pela Necromancia. A irmã de clã e parente estava bem vestida, assim como Ida.

Ida se senta depois do gesto de Paola e comenta:

-Entendo. A viagem levou mais tempo do que imaginei, mas não tive nenhum imprevisto. Uma pena ter chegado tão tarde. Não teremos muito tempo para conversar a respeito da situação de nostra famiglia ainda hoje e também não quero causar-lhe atrasos indevidos.

Ida coloca o urso de pelúcia na mesa ao lado da poltrona em que estava acomodada e coloca a mão direita sobre a perna e a mão esquerda sobre a mão direita de forma muito lenta, como se estivesse ensaiando aquela posição.

-Meu irmão deve estar chegando em breve.

Sorriu, demonstrando sua educação e carisma e emoção da qual Paola parecia não ter nenhuma.

Ignácio chegava ao Casarão enquanto ainda via as notícias, um incêndio a essa hora não podia ser natural, ainda mais no meio de um Parque, aparentemente o que a Família havia dito sobre aquela cidade ser uma zona de guerra era realmente verdadeiro.

O carro do Giovanni então desliza para a entrada do casarão, então ele, junto com Pablo, famoso Carniçal da Família que o acompanhava, desciam do carro. O motorista, contratado que não tinha ideia de quem eram seus transportados, desce para ajudar com as malas, que deposita na soleira da porta, enquanto Pablo toca a campainha, acompanhado de Ignácio, que ainda esbravejava.

"- Mal espero ter Ida em minhas mãos... Esmagarei aquele lindo pescocinho delicado e alvo dela."

Fazia como que torcesse o pescoço de alguém com as mãos enquanto esperava ser recepcionado no Casarão.

Ignácio surge quase que imediatamente às palavras de Ida. Ela o encara com um sorriso no rosto e comenta, após as boas vindas de Paola:

-Espero que tenha feito boa viagem, querido irmão.

Tinha um quê de desafio na voz de Ida para Ignácio. Mas ela estava aliviada que ele tenha conseguido chegar antes do nascer do sol. Iria se culpar eternamente pela morte do irmão, caso acontecesse. Voltou seus olhos para Paola, que continuava não demonstrando nenhum sentimento e fazia um relato breve a respeito da situação da família Giovanni na cidade.

-Nenhuma dúvida de minha parte, senhorita Paola. Ignácio?

Ela olha novamente para o irmão gêmeo, esperando que ele falasse alguma coisa antes da conversar continuar.

Assim que o mordomo os recebe e indica onde estavam Paola e Ida, Ignácio pede para que ele mostre para Pablo e o motorista onde ficaria seu dormitório e que levasse as malas dele e de Pablo para seus respectivos quartos.

Ignácio é recepcionado e conduzido até a sala, quando cruza a porta que guiava até aquela sala.a primeira coisa que vê é o sorriso de sua irmã, que faz com que sentimentos incongruentes surjam dentro dele, primeiro o fogo da raiva pelo trabalho que ela lhe dera, e depois um fogo diferente, do carinho que sentia por ela, mas como um bom carcamano, naquele momento a raiva lhe tomava, Ignácio franze o cenho e quando ia começar a gritar com Ida ele ouve as palavras de Paola, parando em meio a primeira palavra e se voltando para a Giovanni desconhecida, todo simpático e sorridente, a culprimenta.

"- Senhorita Paola, prima, prazer imenso em cknhecê-la."

O Matarazzo estava vestido com um terno cinza de seda da mais alta grife, trazia em seus braços um grande sobretudo bege escuro e se mantinha simpático, havia algo estranho e um pouco perturbador para mortais em seu sorriso, como se ele soubesse demais sobre quem ele estava falando, como se sempre estivesse um passo a frente, mas podia ser apenas impressão, visto que Ida havia lhe dado um trança-pés nesta noite mesmo.

Paola começa a falar sobre a situação da Família na codade, seus inimigos e aliados, a maior parte já haviam lhe dito na Itália, mas era bom ouvir de alguém envolvido, mesmo sendo alguém com tão pouca emoção nas palavras.

"- Obrigado pelas informações, garanto que o Casarão está em boas mãos a partir de agora. Mal espero para conhecer nossos aliados, e mais ainda nossos inimigos."

Então finalmente se volta para Ida, a fuzilando com o olhar, retirando forçadamente qualquer alegria e simpatia de seu semblante, se forçando a não sorrir ao ver o sorriso de sua gêmea.

"- E você, irmã, tenho muito a falar com você."

Levanta sua sobrancelha como de costume quando estava nervoso.

Ignácio era o irmão que cuidava das finanças, da política e de toda a parte chata no tocante da família. Ida era a mulher que cuidava do sobrenatural. A dupla era perfeita deste jeito, apesar das brigas frequentes por causa da cor da gravata de Ignácio que não combinava com as joias de Ida, entre outras coisas supérfluas, mas nada que atrapalhasse de fato a evolução dos gêmeos.

Quase deu uma gargalhada alta quando o olhar de Ignácio a fulmina, sabia que ele estava bravo com ela por ter causado alguns pequenos problemas de logística ao irmão, mas o que seria d anão vida se não fossem os desafios? Desafios faziam as pessoas evoluírem, para o bem ou para o mal. Muito educada e com um sorriso carismático no rosto, ela diz:

-Claro querido. Estou sempre disponível para a famiglia.

Assim que percebe o arquear de sobrancelhas de Ignácio, o sorriso de Ida se desfaz aos poucos, como um castelo de areia atingido pelas ondas do mar. Ignácio estava MUITO bravo. Voltou-se para Paola, tentando evitar trocar olhares com o irmão:

-Paola...se precisar de alguma ajuda nos trabalhos que você e Isabel estão desenvolvendo, pode contar conosco.

Olhou rapidamente para Ignácio:

-Não é mesmo Ignácio?

Era claro que ele concordaria.

Ignácio percebe os gracejos de sua irmã, ela estava se achando muito engraçada pelo truque que aplicara com os voos, mas ela mesma percebe que o irmão estava bravo, mudando então de assunto, ele se volta para Paola, se tornando novamente um poço de boas intenções e simpatia.

"- Claro, o que precisarem estou disponível, estamos disponíveis, e todos os recursos da família Matarazzo, é claro."

Dá um sorriso e uma olhada de canto de olho para a irmã, dando um sorriso sádico, pois sabia que estavam a passos de começar uma de suas épicas brigas.

Sorrindo para Paola com sua resposta, Ignácio rapidamente continua o diálogo, deixando de lado as alfinetadas por uns minutos.

"- E sua irmã, Isabel? Está bem? Estou ansioso para conhecê-la, devemos nós quatro traçarmos nosso futuro aqui, fiquei sabendo que tudo passa por aquele Hospital."

O Hospital era do maior interesse Necromântico, mas Ignácio, com sua praticidade, tinha planos de como retomá-lo para os bens da Família, e com isso, aumentar seu poder de barganha com seus primos.

A resposta de Paola só dá mais fogo para Ignácio fazer o que tinha que ser feito, ele apenas sorri de volta para sua prima e responde.

"- Entendo, o foco agora é na nossa Tríplice Aliança, agora que atacamos o antro dos Lobisomens qual é o próximo passo da Aliança Independente?"

Ignácio estava realmente curioso, adorava se meter em assuntos políticos, e depois que perdeu seu cargo de tesoureiro da Família tinha planos de retomar sua posição de poder aqui no Brasil.

Ida permanece em silêncio enquanto Ignácio toma a frente das negociações e dos detalhes sobre a família na cidade do Rio de Janeiro. Tinha ouvido falar sobre o Hospital e que ele estava em disputas recentes. A clã Giovanni tinha sofrido um golpe pesado recentemente, apesar de ter revidado de forma excepcional.

O interesse de Ignácio por estas questões políticas era igual o interesse de Ida a respeito da Necromancia. Seria Paola a Giovanni que cuidava da política e Isabel a que cuidava da Necromancia? Aparentemente sim. As figurinhas que tinha teriam que ser trocadas com Isabel e não com Paola. A cainita continua apenas observando, sem dizer nenhuma palavra.

As observações a respeito dos Ravnos e Seguidores de Set eram anotadas mentalmente pela Matarazzo. Aqueles tipos de negócios dos quais não poderiam se envolver não faziam parte da competência de Ida. Ignácio era o vampiro dos negócios políticos e financeiros. Mas conseguir que os Ravnos devam favores á eles seria muito interessante.

-Paola, pode nos passar os contatos dos Ravnos e dos Seguidores de Set? Favores podem ser conseguidos com um pouco de apoio, independente de qual apoio seja.

Abriu um sorriso carismático. Agora começavam a falar a língua de Ida. Seus escravos espirituais poderiam encontrar os Seguidores de Set e os Ravnos, mas isso poderia demorar demais e ela queria economizar tempo, afinal tempo era dinheiro e ela odiava desperdiçar dinheiro. Já imaginava que deveria adquirir um apartamento para ser sua base de operações, na verdade dois seriam mais sensatos, um próximo dos Seguidores e outro próximo dos Ravnos.

Assim que pega o papel entregue por Paola, Ida imediatamente os registra em seu celular. Não poderia perder aqueles contatos de forma alguma e depois pediria para seus espíritos encontrarem o refúgio deles para que fosse mais fácil encontrá-los.

-Não esqueceremos disso, senhorita Paola.

Olhou para o irmão e estendeu o pedaço de papel para ele pegar, sem se movimentar muito. Ela nem lembrava mais que estava nervosa com Ignácio, afinal o cenário no Rio de Janeiro era preocupante. Sorriu para Paola, dizendo:

-Não desejo atrasá-la mais, senhorita Paola. Seu relato já nos deu um panorama interessante da situação Giovanni na cidade. Obrigada.

Olhou para Ignácio:

-Querido...tem mais alguma questão a ser discutida?

Abriu o seu melhor sorriso para o irmão gêmeo.

Assim que o papel com os contatos é passado a Ida, Ignácio se aproxima do ombro de sua irmã e por sobre eles observa os nomes e números ali anotados, ela, então lhe passa o papel, ele, ainda registrando os contatos em seu celular fala para Paola, assim que termina dando um sorriso.

"- Imagine! Não sabia que estávamos atrasando nossa prima! Uma conversa em famiglia sempre me faz perder a noção das horas."

Ignácio ria colocando o braço ao redor da cintura de sua irmã, talvez a segurando com força excessiva, maior do que aquele gesto simpático parecia sugerir, a apertando tal qual um espartilho, mas apenas brevemente.

Ignácio se despede de Paola e a espera se retirar, quando escuta as portas da mansão se fechando ao longe ele olha para sua irmã e retira todo o sorriso do rosto, em um rápido italiano começa a falar com o tom de voz muito alto.

"- Irmã querida! Me confunde com um tolo? Non ci posso credere* que faria isso com seu gemello**! Tive que ir até a França! A França! Você sabe o quanto odeio os bambinos franceses, esnobes desgraçados! Sorte que um amigo da família ia para Marselha, e de lá vim para cá, ainda, por sorte sono arrivato presto***. Mas isso não vai ficar assim irmã! Chi la fa l'aspetti****! Ti prego, dimmi qualcosa*****!"

O Giovanni estava com sua sobrancelha arqueada, a direita, como de costume quando estava realmente irritado, e Ida sabia disso, sabia que o irritaria no momento que partira sem ele, na verdade o que o irritava era a insegurança do Brasil, ela chegando antes não poderia protegê-la, e a impotência o irritava profundamente.

Glossário:
*Não posso acreditar
**Gêmeo
***Ainda cheguei cedo
****Aqui se faz, aqui se paga
*****Por favor, fale alguma coisa

Era lógico que Ignácio iria começar a falar, falar e falar depois que Paola fosse embora. A aproximação dele e o braço em sua cintura, da qual a apertava de leve, denotava isso. Assim que a porta de entrada da Mansão Giovanni se fecha atrás de Paola, Ignácio começa a falar no seu italiano, rápido como um foguete.

Ida se desvencilha do “abraço” de seu irmão, se acomoda e se dá conta que ele estava certo. Nem ela tinha noção do tipo de problema que tinham no Rio de Janeiro e a birra que ela fizera foi completamente desnecessária, apesar de ela estar com vontade de jogar alguma coisa na cara de seu irmão. Claro que para irritá-lo um pouco mais ela iria falar algumas coisas em francês, em vez do italiano de sempre.

-Mon Dieu, Ignacio . Vous ne devez pas faire une tempête dans un verre d'eau.*

Abriu um sorriso maldoso para o irmão enquanto passava a mão direita por entre os cabelos. E desta vez em português.

-Fiquei preocupada com sua não chegada e percebi que a situação no Rio de Janeiro é muito mais complicada do que imaginei. Me desculpe, irmão. Fiquei muito brava com você e acabei deixando meu sangue italiano falar mais alto do que meu cérebro Giovanni.

Olhou com cordialidade e Ignácio poderia sentir que ela dizia a verdade.

-Nossa situação no Rio de Janeiro é preocupante. Precisamos começar a trabalhar imediatamente. Pretendo colocar minhas companhias espirituais para encontrarem os Ravnos. Já que precisaremos que eles devam para nós, precisamos primeiro saber onde eles vivem.

Bateu a mão no sofá onde estava sentada, convidando o irmão para se sentar também:

-Também acho que devamos ter apartamentos funcionais na cidade. Assim que localizar os Ravnos, vou adquirir um apartamento perto deles. Monateri uma base de observação lá e se eles forem atacados, poderemos ajudá-los. Assim vão ficar nos devendo um favor por salvarmos a não vida daqueles trapaceiros. O que acha?

OFF: *Meu Deus, Ignácio. Não precisa fazer uma tempestade em um copo de água.