[BOTAFOGO] CASARÃO GIOVANNI

Aquela confusão de línguas na conversa seria extremamente engraçada se Ignácio não estivesse bravo. Ela até lhe pede desculpas, sabia que não era normal, então ela estava realmente preocupada, preocupada com ele, e com o Rio de Janeiro, definitivamente ela tinha prestado mais atenção em Paola do que ele.

"- Está desculpada Ida, mas apenas, apenas... porque temos coisas muito interessantes para fazer por aqui."

Ignácio abre um sorriso e se senta numa poltrona próximo à Ida, enquanto escutava ela falando de seus planos para os Ravnos.

"- Além dos Ravnos, eu me interesso pelos Setitas também, tente descobrir com os seus amados espíritos se eles, quando humanos tinham parentes no Brasil, podemos tirar vantagem disso, vide que moramos ao lado de um cemitério agora."

Além disso, ela já esperava salvar os traiçoeiros Ravnos de um ataque.

"- Acho excelente, assim que descobrir onde eles estão, compre o apartamento em nome desta empresa aqui."

Entrega um cartão de crédito em nome de uma empresa que servia como laranja para qualquer negócio que devesse ficar escondido na família.

"- Assim vai ser difícil você ser localizada, seja pelos traiçoeiros Ravnos, seja por nossos inimigos. Assim que adquirir, o apartamento automaticamente vai ser mobiliado, quando for desocupar, mande uma sms para o numero 9XXXX-XXXX, dizendo 'feito', e o apartamento será deixado vazio e vendido em uma semana."

Ignácio conhecia os truques da especulação imobiliária também, afinal, qualquer um que tenha gerenciado os fundos da Família inteira por anos a fio saberia como esconder uma aquisição sem problemas.

Então o irmão continua depois de passar o plano prático para Ida.

"- Não me interessa o que Paola disse, o Hospital é o ponto principal de nosso clã a muito tempo, vou obter todas as informações financeiras e burocráticas sobre o local, e então farei minha jogada para adquiri-lo, nem que seja para demoli-lo, se a Família não vai ter o poder daquele lugar, ninguém terá."

O brilho nos olhos e o sorriso de Ignácio provam que ele tinha um plano.

Pedir desculpas para ida era como matar um parente, inconcebível, mas estas coisas raras aconteciam de vez em quando na vida da Giovanni. Se sentiu bem por Ignácio entender e aceitar as desculpas de Ida, nem ela sabia ao certo o tamanho do problema em que estavam se metendo, mas já estavam no Rio e tinham que resolver aquele problema.

-Não sei. Tenho um pouco de receio a respeito dos Seguidores de Set. São serpentes astutas que podem lhe dar o bote antes mesmo de perceber.

Tocou o ombro do irmão gentilmente.

-Tome muito cuidado com eles. Tentarei enviar alguns espíritos atrás desses dois membros do clã deles. Mas meus amados espíritos não têm ou tinham parentes aqui no Brasil em vida. Marla é francesa, Akin africano e Alexander é inglês....

E então ela tem uma ideia ótima:

-...mas posso questioná-los a respeito e se for o caso, trazer algum espírito do cemitério para nos ajudar neste trabalho.

”Em troca de sua redenção. Que você não saiba disso Ignácio.”

Pegou o cartão oferecido por Ignácio e ouviu-o com muita atenção. Ignácio era perito neste tipo de trabalho e se dependesse de Ida, nunca chegariam àquele nível de maestria no quesito negócios.

-Farei isso. Obrigada irmão.

Ouve sobre o hospital e Ida já esperava aquela atitude do irmão. Abre um sorriso malicioso e complementa:

-Também penso desta forma. Mas não vá fazer nada sozinho. Posso ajudá-lo nisso. Começarei o trabalho com os Ravnos e os Seguidores de Set ainda esta noite...

E olhou seu relógio:

-Já são cinco horas e devemos descansar. A viagem foi muito cansativa e temos muito trabalho a fazer. Colocarei meus espíritos para trabalhar e acredito que terei novidades já no começo da noite.

Imaginou que não teria tempo de trazer mais algum espírito do cemitério próximo para si ainda aquela noite. Mas poderia tentar.

Ignácio escuta atentamente sua irmã, a irritação passara com as desculpas dela e eles já tinham grandes planos, assim, responde quanto ao horário.

"- Colocarei o setor de aquisições para investigar quem são os proprietários atuais do tal Hospital, e depois bolaremos um plano quanto a ele. Agora, assim que descobrirmos os Setitas e os Ravnos, acho que devemos nos colocar um passo a frente deles, ou seja, começar a influenciar onde eles influenciam, e deixar uma arapuca armada, pois tenho quase certeza que assim que os Lobisomens não forem mais uma ameaça aquelas cobras e maledetos ciganos vão se voltar contra nós, mas os estaremos esperando, prontos."

O Giovanni sorria à luz de uma traição bem bolada, era como em uma novela, em um romance, estariam um passo a frente dos antagonistas, e dois a frente da audiência.

"- Mas de fato já é tarde, e imagino que teremos um dia ocupado amanhã. Pretende subir a seu aposento agora, ou talvez uma volta no nosso futuro lugar favorito da casa, vulgo, cemitério?"

Ignácio dá uma leve risada brincalhona, já era novamente um italiano de bom humor.

O Giovanni ainda aguardava a manifestação de sua irmã.

Ida ficou pensando um tempo a respeito do que seu irmão dissera. Olhou seu relógio mais uma vez e percebeu que infelizmente não tinha tempo hábil para um passeio pelo cemitério se quisesse colocar seus amigos espíritos para buscar o que ela desejava. Olhou o gêmeo com carinho e disse, acariciando a mão dele:

-Infelizmente é melhor nos recolhermos. O passeio pelo cemitério terá que ficar para outro dia. O sol está prestes a nascer e meu desejo é sobreviver por mais alguns séculos.

Pensou mais um pouco sobre o cemitério e teve uma ideia interessante.

-Colocarei Lucca para pesquisar a respeito dos detentores do poder diante dos cemitérios do Rio de Janeiro. Precisaremos de um plano para derrubá-los e tomar a frente destes negócios.

Levantou-se do sofá onde estava e olhou em volta, percebendo mais uma vez o poder financeiro da família Giovanni principal.

-Se me der licença...vou me retirar, querido irmão. Caso queira me acompanhar.

Abriu um sorriso para Ignácio, mesmo sabendo que talvez o seu gêmeo tivesse mais assuntos financeiros a tratar e não poderia acompanhá-la.

Enquanto Ida pensava, Ignácio havia tirado o celular novo que comprara com um número brasileiro, ele pega os e-mails que normalmente usava para distribuir suas ordens financeiras e envia alguns, relativos ao Hospital que a Família tanto almejava, logo depois, Ida olha para o relógio e nota que realmente já estava muito tarde.

"- Uma pena não podermos fazer uma caminhada lá hoje mesmo. Acredito que a Prefeitura seja a dona dos cemitérios aqui, se precisarmos posso mexer alguns pauzinhos."

Ignácio sorri para a irmã e então a acompanha no ato de se levantar respondendo.

"- Vou acompanhá-la irmã, nada a se fazer numa hora tão avançada que já não tenha sido feito."

Com um sorriso dá o braço direito para conduzir sua irmã até os quartos daquela imensa mansão.

Seu irmão era um gentleman, assim como ela era uma lady. Exceto durante as brigas que eram ferrenhas entre os dois. Na verdade eram brigas saudáveis onde utilizavam os objetos ao redor para se atacarem mutuamente. Mas esse não era o caso no momento. Ela toma o braço do irmão, não sem antes pegar o ursinho de pelúcia que tinha colocado na mesa da sala, respondendo-o.

-Realmente uma pena. Mas teremos muitas outras oportunidades. E sobre os cemitérios...

Abriu um sorriso maligno enquanto caminhava na direção dos aposentos:

-...vamos tomar conta de todos eles. Mexa seus pauzinhos...quanto mais corpos disponíveis, mais poderosos ficaremos. Além disso...abrir funerárias com preços abaixo de mercado vão quebrar a concorrência e nos dar pleno acesso aos corpos do Rio de Janeiro. Poderemos usar esta tática com a sua empresa de fachada?

Continuou caminhando na companhia do irmão.

Ignácio mantinha sua simpatia enquanto subia as escadas com sua irmã, ela lhe falava e ele prestava atenção, aprendera, desde sempre, que era assim que deveria agir com ela, o que ela falava costumava ter muita importância, diferente de 90% do resto do mundo.

"- Excelente ideia, farei com que seja feito, em breve teremos acesso a todo sistema funerário do Rio, e a morte será muito melhor na Cidade Maravilhosa."

Caminhava e com o braço livre arrumava seu já perfeito cabelo penteado para trás, o mantendo no perfeito alinhamento, que adorava.

Um sorriso malicioso se abre na face da Giovanni. Havia satisfação em seu sorriso e uma malícia aterrorizante. Logo chegam aos aposentos da mansão e ela se despede do irmão gêmeo com um beijo na maçã do rosto. Um beijo carinhoso.

-Bem meu irmão. Está na hora de nos despedirmos. Tenha um ótimo descanso. Conversarei com meus amigos espíritos para encontrarem os ravnos e as malditas serpentes.

Só de comentar nos Seguidores de Set, a Giovanni estremece. Não confiava em nada e nem ninguém que sua família, Ignácio era o membro com a maior confiança que tinha em toda a sua não vida e em segundo vinham os familiares Giovannis. Era muito mais fácil acreditar, mesmo que parcamente, nos Ravnos do que nos Seguidores de Set.

Depois de se despedir, ela profere:

-Até amanhã querido.

E adentra o quarto, deixando Ignácio no corredor para seguir com seus afazeres antes de descansar. Ida ainda tinha que conversar com os seus espíritos e deixar algumas ordens para Lucca, seu lacaio. Trancou a porta por dentro e então chamou:

-Marla? Alexander? Akin? Podemos conversar um pouco?

Ela coloca o ursinho de pelúcia, que era de Marla, em cima da mesa de cabeceira. O sono sobrenatural começava a pesar na cainita e ela sabia que a conversa que teriam seria muito, mas muito breve.

Ida desperta de seu sono sobrenatural revigorada. Mesmo tendo chegado no fim da noite anterior, já tinha colocado seus espíritos e seu lacaio para trabalhar e esperava resultados concretos já no começo da noite.

Seguiu ao banheiro para tomar um banho simples. Tinha noção de que Lucca estava do lado de fora de seu quarto, esperando para dar-lhe as notícias das quais conseguiu durante o dia e que seus espíritos estavam próximos. Mas preferiu ouvir as boas notícias depois de seu banho.

Banhou-se, não demoradamente, já que estava um pouco ansiosa sobre os assuntos que trariam os seus confrades. Trocou-se, escolhendo uma roupa adequada para uma festa de verão. Vestido até os joelhos, brincos que combinavam e um scarpin preto. Antes de se maquiar, ela segue até a porta e a abre, encontrando Lucca.

-Boa noite. Por favor querido, entre. O que conseguiu para mim sobre os negócios que envolvem os cemitérios do Rio de Janeiro? Quero nomes dos donos, empresas envolvidas, licitações em aberto. Absolutamente tudo sobre o assunto.

Se sentou na cama, ainda sem maquiagem, esperando as palavras de Lucca a respeito dos cemitérios que seriam, com toda certeza, adquiridos pela família Giovanni.

Ignácio, como de praxe, se desperta assim que o Sol se põe, sem surpresas, apesar da cama, que mesmo sendo deveras confortável, não era sua cama, ao menos ainda, se levanta e imediatamente, sem delongas, checa seus e-mails e mensagens, afinal, seus contatos e aliados tinham sido informados.

Ao saber que precisaria de homens na Prefeitura, já sabia o que fazer, mas antes, envia uma e-mail para um colega, para lidar com outro problema, o do Hospital, seria interessante o que tinha imaginado fazer, talvez tivesse chance. O e-mail era direcionado para Jayme Monjardim, atual diretor de TV da TV Bandeirantes.

"Querido Jayme,

Acabo de chegar ao Rio de Janeiro, dessa vez para ficar no Brasil, essa linda terra, e tenho uma ideia que pode ser um programa top de linha, vai te ganhar o Ibope todas as noites dessa TV brasileira.
Se quiser conversar, podemos nos encontrar na minha nova sede das Indústrias Matarazzo, aqui no RJ.
Enviarei um helicóptero lhe buscar, se aceitares.

Abraços fraternos,
Ignácio Giovanni.

Então, partia imediatamente para o próximo passo, pega seu telefone e disca o número de seu Senador favorito. Ele devia estar disponível nesse começo de noite de Domingo, afinal, ir pra Brasília não era o que ele fazia de melhor. Esperava que atendesse.

Entendeu perfeitamente a hesitação no lacaio. Ida gostava de trabalhos bem feitos e com rapidez. A lista com os donos lhe seria muito útil. Saber da influência daquele cartel também lhe renderia frutos prodigiosos. Ida pega o recorte de jornal velho e lê todas as linhas. Ao fim da leitura, ela abre um sorriso e conclui:

-Obrigada Lucca. Fez um ótimo trabalho. Espere por mais orientações minhas para tarefas do próximo dia. Por enquanto não precisarei de você, mas fique atento que posso ligar para você.

Era a deixa do carniçal partir ou falar mais alguma coisa. Ida tinha um início. Lucca saindo ou ficando, Ida diz para seus escravos espirituais:

-Akin, Alexander, Samantha...por gentileza, me digam o que conseguiram sobre Abigail Rosemberge e Charlie Grason.

Esperava boas notícias, assim como as de Lucca.

Ignácio estranha ser atendido rapidamente, porém não o suficiente para duvidar de nada, então, em seu português carregado em sotaque italiano forçado fala.

"- Buona notte mi amigo Francesco. Estás bem?"

Ida estranha que Alexander não estava presente. Seus espíritos sempre a acompanhavam por toda a parte, exceto quando ela solicitava que não o fizessem. Um quê de preocupação toma conta de seu ser, já que os espíritos eram como seus parentes. Ela tinha uma amizade muito forte com eles, indo diretamente contra o comum na família Giovanni.

-Não encontraram nada? Não tem problema.

Ida acaricia o cabelo de Samantha e toca o ombro de Akin com carinho.

-Vocês sabem onde Alexander está? Sabem onde ele seguiu para investigar sobre estas pessoas?

Ida fica apreensiva diante da respostas dos espíritos, mas tenta não demonstrar.

-Tudo bem.

Esboça um sorriso e então termina de se arrumar. Sai do quarto e segue ao quarto de seu irmão. Precisava passar as informações que conseguira e sobre o desaparecimento de Alexander.

Ida bate três vezes na porta do quarto de Ignácio, esperando ser atendida.

Ignácio escuta a resposta do senador e prossegue.

"- Está ótimo, pode me encontrar no meu escritorio novo, vou te mandar uma mensagem com o endereço, até mais amicce mio."

Assim que terminara de falar, começa a digitar uma mensagem e então batem a sua porta, poderia ser Pablo ou sua irmã, portanto não demora a abrir a porta, e assim que vê Ida fala, simpático.

"- Mi amore! Buonna notte!"

Ida aguardava que seu gêmeo abrisse finalmente a porta. Não ouviu a conversa da qual Ignácio tivera com o senador e se soubesse que estava ocupado já tão cedo, não teria o incomodado. Quando o Giovanni abre a porta, ela percebe, além da simpatia inerente dele, que estava com o celular em mãos.

- Buona sera mio caro fratello. Espero não estar incomodando-o ou atrapalhando seus negócios.

Dirigiu o olhar na direção do celular do irmão enquanto se aproximava dele com os braços abertos, para dar-lhe um abraço.

-Tenho os nomes dos donos dos cemitérios do Rio de Janeiro. Na verdade...das famílias donas dos cemitérios. E meus espíritos não encontraram nada a respeito dos ciganos. Os espíritos que retornaram.

A última frase tinha um tom de pesar dolorido. Ignácio tinha conhecimento de que Ida gostava de seus espíritos e que perdê-los poderia ser um golpe muito duro para ela.