A Rede de Esgotos do Rio de Janeiro

* Julian estava relativamente surpreso ao ouvir Mayra solicitar uma cura para ele.. imaginava que ela não trairia seus sentimentos publicamente e esperava que ela evidenciasse um desejo, ainda que não verdadeiro, de que ele sofresse a maior quantidade possível de dor. Embora ficasse cada vez mais claro que a extensão do ódio entre o ex casal era menor do que parecia inicialmente, adota um semblante interrogativo. A porta de metal se fecha nesse momento, impedindo maiores reflexões sobre o assunto. Balik estava preso. Diferente do Peregrino, que parecia não se importar se um membro da matilha caísse para a Wyrm, Julian abandona a discussão sobre curas e segue apressado em direção ao portão de ferro. Pretendia chegar enfiando o pé na porta metálica com a maior brutalidade que pudesse reunir, quando seu pai, Isaack Kraken, aparece acompanhado de um outro Garou. Rosna furioso tão logo nota o estado de seu genitor: *

- QUEM FOI O FILHO DA PUTA QUE FEZ ISSO??!!

* O Roedor estava bastante ferido mas se esquece instantaneamente da dor. Ver Coração-Valente com o braço inutilizado e transformado em pedra era pior do que ser cortado por algum desgraçado qualquer da Wyrm. Estava furioso e inconformado quando nota que mais dois espíritos monstruosos e gigantescos, como os enfrentados por Mayra, tentavam se aproximar. Já avançava contra os malditos, decidido à descarregar sua raiva contra os filhos da puta, quando palavras são ditas e o Garou desconhecido abre o portão antes de barrar os inimigos com flechas cheias de efeitos do batman. Mesmo furioso, estava longe de ser burro quando o assunto era guerra. Sabia que realmente a missão precisava ser cumprida e que a matilha não estava em sua melhor forma.. ele próprio estava bastante fodido. Mayra levanta a pedra da lua sozinha, o esforço e a dor eram nítidos, mas ela era a única além dele capaz executar a tarefa. Como estava menos ferida, era mais seguro que ela iniciasse o esforço. *

''A ruivinha eh foda..''

* Kiba finalmente dá a esperada ordem e Julian, ainda carrancudo e enraivecido pelo estado em que via seu pai, capta o olhar do Alpha, assentindo vigorosamente com a cabeça. Tinham que terminar logo aquela porra. Segue junto com Asa-Solitaria na linha de frente enquanto a formação se agrupava. Sabia que Mayra sofreria mais se perdessem tempo ali.. mas as condições físicas dos Ahrouns eram péssimas e os Theurges não conseguiam fazer porra nenhuma a respeito. Estavam fodidos caso encontrassem um numero grande de inimigos. Sabia que sairia vivo dali.. sempre saia, era um Roedor. Mas não podia garantir o mesmo para todos.. Eh nesse instante que Anksu se prontifica a doar sua gnose para Amir e as coisas se tornam um pouco melhores. Não perde tempo esperando um comando de Kiba porque expunha o óbvio. Fala diretamente com Amir: *

- Negocio eh o seguinte, mermão: cura o papai aqui que eu vou revezar com a Mayra se o bagulho ficar loco com a pedra.

* Para o Roedor, era tudo muito claro e simples. Ele e Mayra eram os únicos da matilha capazes de levar a pedra da lua pois possuíam o dom da armadura de luna. Como se isso não bastasse, eram os únicos Forstens e iriam fazer a diferença se a porra ficasse séria. Sem mais. Aguarda pela cura e pelo avanço do Alpha. *

O Garou permanecia calado e observando todos. Até agora não fizera grandes coisas além de.... realmente nada.
Havia sido um peso para a matilha e precisaria mudar isso.

Segue na formação proposta, olhando e farejando.

A escuridão imperava naquele local, sons de luta e o cheiro de sangue me guiavam até um local pútrido, com amontoados de corpos ao chão, minhas patas pisavam em enormes poças de sangue garou, dilacerados e deformados garous.

Observo a outra matilha cumprindo sua missão, conseguiram resgatar a sua companheira. Seus gritos de agonia e loucura ecoavam pelo salão, seu devaneios sobre Wyrm assustavam e aterrorizavam seus companheiros, ela não estava bem, com certeza a wyrm invadiu sua mente e a dilacerou.

Nossos caminhos se cruzavam e era bom ter ambas matilhas no mesmo local, para proteger uma as outras. Rapidamente minha matilha chega atravessando o corredor, conforme Isaack coordenava. Fico um tempo encarando-os, e novamente volto a seguir em frente.

Não havia muito o que fazer agora, somente seguir os demais. Adentro um pouco ao salão, chegando próximo, para que pudessem ver que os demais estavam chegando também.

* Obrigado Mãe. Obrigado Totem. Obrigado Espíritos. *

A Fianna ouve as instruções e segue o caminho carregando a Pedra. Enquanto se deslocava, a Ahroun ouve o comentário de Julian, para quem olha de rabo de olho e apenas diz sem muita emoção (mentira!) na voz:


- Não se preocupe, Esquecido. Eu aguento até o fim.

A Ahroun não queria muito papo e segue o caminho conforme indicado. Não aperta o passo ante os gritos de Kathya para priorizar sua missão que era levar a pedra em segurança para fora daquele lugar. A Fianna aperta o passo, mas não corre e quando chega e se depara com a situação lamenta profundamente. Não era muito próxima de Kathya, ouvira histórias, mas aquele comportamento era sinal que a Wyrm havia pegado pesado com ela.

Sem querer pensar muito nisso, Mayra, assim que as ordens para seguir são dadas, segue na formação indicada por seu alfa (caso a formação mude, Mayra muda para seguir a formação) em direção à saída daquele lugar.

Kathya estava completamente fora de si e Hrist desacordada. Ingrid recebia, de Ryan, ordens para tentar fazer alguma coisa e, sem ter um vasto repertório, resolve apelar ao Totem da Matilha que era a única coisa que poderia salvar a todos naquele momento. Apressada, a Theurge invisível começa a entoar um mantra e invoca o Totem dos Vingadores:

- Raccoon, patronus vindices invocabo faciem meam!
(Guaxinim, patrono dos vingadores, eu lhe invoco à minha presença!)


O Guarxinim, pequeno e muito frágil surge junto dos Vingadores e, se aproximando dele e rompendo com sua invisibilidade, Ingrid diz em tom muito calmo e amistoso:



- Te peto, placere mihi conferat quosdam adiuves Gnosidis et sorores meas ad sanitatem et vires habent surgere et adepto de hic!
(Preciso que, por favor, me doe um pouco da sua Gnose e que ajude minhas irmãs a terem forças e sanidade para despertar e saírem daqui!)

Ellen, em Crinos, segue com sua matilha na direção indicada até que gritos de uma mulher são ouvidos. As pessoas apertam o passo e, com isso, Ellen também o faz, chegando ao encontro da matilha Vingadores. Não conhecia ninguém ali, mas a situação da Presas de Prata lhe atinge duplamente. Primeiro por imaginar o que ela tinha passado. Segundo porque não se sentia confortável com ela sendo o centro das atenções ali.

Ellen pensa que poderia simular um desmaio em cima de Julian forçando Mayra a largar a pedra e começar uma confusão com o Roedor, colocando ela e a dupla em evidência e deixando aquela que lhe afrontava como terceira opção de todos, mas resolve ser superior e engolir a seco. Talvez estivesse mesmo enlouquecida e não só causando. Presas de Prata não eram bons da cabeça mesmo, já diziam por aí.

Resolvendo ignorar a situação, Ellen segue ao comando de Kiba em formação, atenta a tudo à sua volta e esperando sair daquele local horrendo o mais rápido possível.

Tento passar meu poder espiritual para Amir mais percebo que não consigo fazer o mesmo, pensava que era como os espíritos faziam com a gente, mais me engano profundamente. (Off: desculpa esse lapso, mais é que na mesa que jogo isso é possível)

Falo com Kiba sobre ir junto de Balik, mais o alfa acha melhor não e que seria muito mais proveitoso eu ajudar na defesa do grupo. Meneio a cabeça e com isso vou para o meu lugar na formação e sigo o líder. Falcão-de-Prata passa por nós e percebo sua mão inutilizada, mais nada falo.

Chegando finalmente onde Balik estava vejo que naquela galeria batalha nenhuma acontecia mais as dificuldades ainda existiam. Vejo o totem da matilha aparecendo e e chego até fazer uma comparação momentânea com o da minha matilha e acabo percebendo que precisaríamos mudar esse quadro também.

Quando Falcão-de-Prata fala, eu acabo achando diferente a sua forma de agir e com isso tento intender o que se passa com ele (Zero quero usar a qualidade VISÃO em Falcão-de-Prata).

As ordens começam a sere dadas e Kathya e desacordada e Kiba pede para continuarmos pelo caminho que Falcão-de-Prata indocou, mais mantendo a mesma formação.

* Ryan barrava o caminho desconhecido junto com Kor e Arthur enquanto esperava que os demais membros agilizassem as outras tarefas. Nota que o Fianna havia intencionalmente se posicionado a esquerda, indicando que protegeria o braço exposto do Andarilho, que agradece com um sério menear de cabeça. A dor ainda pulsava por todo seu corpo, uma dor difícil de definir mas sempre presente. Seu cérebro ainda agia como se o braço estivesse ali e, em verdade, estava.. mas a dor constante e intensa vinha para lembra-lo de que qualquer tentativa de controlar o membro dilacerado era inútil. Guardava a passagem tentando afastar de sua mente o sofrimento, quando ouve sons vindo do túnel. Imediatamente seus pelos se eriçam e os instintos se preparam para o ataque que, atraído pelos gritos desesperados de Kathya, certamente viria. É nesse instante que, para sua surpresa, quem surge é Coração-Valente, acompanhado da matilha Esquadrão da Fúria. *

* Adota uma postura menos agressiva agora que reconhecia as figuras que se aproximavam. Isaack chega dando ordens para Iurd e eram basicamente as mesmas ordens que o alpha já havia transmitido. Olha para Anjo-Guardião com firmeza, indicando que a sugestão feita por Isaack era necessária. Assiste Iurd apagar Kathya com um forte golpe na nuca. A Ragabash tomba no colo do Ahroum, imediatamente desacordada e o silencio volta a reinar. Em tom baixo e insensível, High-Tech murmura para si mesmo: *

- Ótimo..

* Volta sua atenção para o líder dos Presas de Prata, que fazia uma pergunta sobre sua situação física. Nota que Isaack olhava diretamente para seu braço e não deixa de perceber que o Athro também estava com o membro inutilizado, totalmente transformado em pedra. O semblante de Ryan não era dos mais amistosos.. sentia dor e, acima de tudo, sentia que o tempo urgia. Ainda assim, não se mostra ingrato pela preocupação e responde no tom mais amigável que a tensão do momento permitia: *

- Já estive melhor. * Faz um gesto mínimo com a cabeça em direção ao braço de Coração-Valente e adiciona: * - Alias, já estivemos.. mas um braço vai ser o suficiente pra terminar com isso aqui.

* Esboçava confiança de que tinha condições de terminar o que haviam começado e não se demora com essa questão que, para o Andarilho, era bastante clara. Reconhece Kiba e Esquecido nas fileiras da outra matilha e acena rígidamente para eles, num cumprimento sério. Ryan sangrava, com o braço esquerdo dilacerado, mas não tinha outros ferimentos pelo corpo. Os Ahrouns da Esquadrão também pareciam ter sido bem castigados.. afasta-se de suas notas mentais quando Kraken explica o plano de ação a partir daquele momento. Havia entendido como sairiam dali e estava pronto para agir mas, antes de partirem, Ingrid ainda tinha de concluir sua parte do show.  *

* Uma invocação é feita e o Totem da Vingadores se materializa em frente à todos. O Guaxinim estava nitidamente fraco e, muito mais do que insatisfeito, parecia chateado (essa é a palavra exata). Ryan pondera sobre a repreensão do totem enquanto o assiste abraçar a perna de Ingrid e lamber o rosto de Hrist, acordando-a no processo. Realmente haviam sido negligentes com o totem, mas isso iria mudar. Gostaria de dizer algo mas o espírito simplesmente desaparece, tendo feito tudo o que podia e já sem forças. Dirige seu pensamento ao Guaxinim e ecoa mentalmente: *

" Vamo mudar isso, dexa comigo. Sua bênção não vai ser negligenciada. "

* Hrist começava a despertar e Iurd já se aproximava com Kathya nos braços. Era hora de partir. Olha para sua matilha e analisa a situação brevemente, analisando a extensão dos ferimentos de cada um para poder posiciona-los adequadamente. Não sabia o que o destino lhes guardava e não podia se dar ao luxo de esperar uma saída amena. Aguardava pelo pior, antevia mais combates e estaria preparado para isso. Sua voz gelada e contida (por causa do esforço em afastar a dor), rasga o ambiente: *

- Darkness, Anjo-Guardião e eu faremos a primeira fileira! Semblante-de-Aquiles, Elo-Espiritual e Fúria da Justiça Implacável fazem a segunda! Sopro-da-Tempestade, você fecha a retaguarda!

* Olha para a Theurge, agora visível, e explica o que faltava: *

- Ingrid, você fica no centro e carrega Brilho-Prateado. Os demais estarão desimpedidos pra te rodear e proteger o resgate. Os ferimentos de Anjo-Guardião são prioridade e precisam ser curados.

* A dor excruciante e a perda de sangue não são suficientes para afetar a capacidade intelectual de High-Tech, que  escolhe a formação sabendo que precisaria proteger Kathya a todo custo. Ela era o ponto vulnerável e o objetivo da missão de resgate. Assim que Hrist acordar, indica para ela seu lugar na formação, garantindo que ela tome conhecimento. Por fim, olha ao redor rapidamente, captando o olhar de todos os Vingadores e rosnando decisivamente: *

- AVANCEM!!

* Assim que a formação se estruturar, segue pelo caminho com sua matilha. *



Off

Formação:

DARK - IURD - RYAN
ARTH - INGR* - HRIS
           KOR

* Ingrid estará carregando Kathya.

Sabiamente começo a retornar a posição designada à mim na formação de combate de minha matilha, fito cada um para observar o estado que se encontravam. 

Observo a manisfestamento espiritual da do Totem da outra matilha com olhos abertos, presenciei poucas manifestações e era sempre impressionante.

Logo uma garou que acordava parecia dar um preságio, um mal presságio. Talvez por isso Isaack estava tão preocupado que saíssemos dali, ele deveria saber disso, de alguma forma ele também sabia. Meus instintos queimavam dentro de mim, e em um ímpeto meu músculos e ossos cresciam deformando-me em um enorme lobo atroz. Devíamos sair dali o mais rápido possível, mas não era fácil sair rápido quando se tinha uma pedra enorme para levar consigo.

* A pedra é comprida, se alguém pegasse na outra ponta, talvez poderíamos andar mais rápido. Mesmo impossibilitando um do combate, nos moveríamos mais rápido. Isso! Esta é a prioridade agora! 

..Mas dois garous estariam sendo expostos e prejudicados com a prata, não parece uma solução ..tão eficaz, além do mais, Mayra não parece estar tendo dificuldades em leva-la sozinha. Acho melhor deixar como está, vou apenas acelerar o passo. *


____


Gasto 1 de Fúria para transformação.

* Isaack Kraken parecia definitivamente não querer responde-lo. Coração-Valente parecia estranho.. agia com uma frieza que lhe era incomum e parecia severamente incomodado. O Athro estava ferido e seu braço havia se transformado em pedra.. mas Isaack nunca tinha sido um Garou de se deixar abater por ferimentos. Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas algo estava fora do lugar. Julian estava nervoso e incomodado com a situação e apenas silencia enquanto segue junto com a matilha corredor adentro. Não tinha muito o que fazer no momento, o que, em outras palavras, simplesmente significava que não havia ninguém pra matar ou nenhuma cerveja pra tomar. Segue sempre ao lado de Kiba, compondo a primeira da Esquadrão da Fúria, atento ao que os cercava e pronto para enfiar sua Lamina de Gelo até o talo no rabo do primeiro idiota que tentasse a sorte contra os filhos da Doninha. Ouve o comentário de Mayra nesse instante e capta seu olhar. O Tom de voz da Fianna tentava demonstrar que ela não se importava com sua presença ou com sua ajuda, mas o Roedor a conhecia bem demais para acreditar nisso.. Responde casualmente, com seu típico ar despreocupado: *

- Tô sabendo, Ruiva.. Mas se cê fizer tudo sozinha o papai vai fica entediado..

* Esboça um sorriso curto e dúbio de canto de boca e volta a focar no que ocorria ao redor. Ouvia gritos agora, gritos femininos.. e, como bom conhecedor das mulheres com quem já estivera (e de que se lembrava), reconhece a voz. Kathya estava por ali e algo sério devia estar acontecendo. Em alerta, avançava pelo corredor sem saber quem estaria gerando o desespero de Brilho-Prateado, estava preparado para a pior das hipóteses e iria tira-la dali mesmo que não fosse sua missão. Devia isso a ela. Pensava nisso e na noite em que haviam tido um lance meio loco até que seu pai toma a frente e descobre que a Matilha Vingadores já estava no local, o resgate já estava encaminhado e diversos Dançarinos mortos ao redor evidenciavam o fato. *

* Enquanto Isaack Kraken conversava, lembra-se da noite anterior, quando havia se reunido com os Vingadores por acaso e os acompanhado pelo mero prazer de matar filhos da puta da Wyrm. Perdeu a conta do numero de Dançarinos mortos por suas garras e presas na noite passada mas lembrava-se com clareza do momento em que Kathya tombou e foi sequestrada. Apenas um dia havia se passado desde então.. mas um dia de tortura nas mãos da Wyrm era mais do que a maioria poderia sequer sonhar suportar. Via Brilho-Prateado ali.. nua, enlouquecida e marcada pelo próprio sangue. Sentia raiva. * 

* Nesse ponto as coisas começavam a acontecer de forma mais acelerada. Anjo-Guardião, o cara que não merecia a mulher que tinha, ou que já teve, coloca Kathya pra dormir.. O Totem da Vingadores aparece e da um show de fofura.. formações são delimitadas.. e o que mais chama sua atenção: uma Garou desconhecida faz uma previsão desgraçada. Alguem iria morrer. *

* O sentimento agourento que pesava em seu peito retorna com intensidade absoluta. O mau pressagio havia acompanhado o Roedor desde o momento em que entrara naquele lugar desgraçado. Julian olha instintivamente para Mayra ao ouvir aquelas palavras e em seguida foca os olhos em seu pai, Isaack Kraken.. eram as únicas pessoas que importavam em sua vida e não se permitiria perde-las. Ainda com um o coração pesado, ouve as ordens de Kiba e segue com a matilha. Continuava na primeira fileira, formando a linha de frente.. enquanto uma sensação gelada percorre sua espinha. *

* Julian, ainda dominado pelo sentimento agourento que habitava em seu peito, ouve as ordens de Isaack sobre como deveriam seguir e se surpreende.. Após ignora-lo por um tempo, seu pai finalmente o convocava para ficarem juntos cobrindo a retaguarda do grupo. Acena brevemente para Kiba com a cabeça, indicando que teria que se afastar da formação, e se aproxima de Kraken. Assiste ambas as matilhas seguirem o caminho para só então iniciar sua caminhada ao lado direito do pai. Observa o braço transformado em pedra e reflete em silencio: *

" Quem fez isso já deve tá morto.. ele tá bolado com alguma outra coisa.. "

* Pensava na postura gélida que Coração-Valente vinha adotando quando nota o braço bom, que até então era uma lamina de gelo, voltar ao normal. Olha curioso para seu genitor e, nesse exato instante, recebe um inesperado sorriso fraternal acompanhado de dois tapas nas costas. O gesto, por si só, havia sido suficiente para romper o desconforto do Roedor e afastar o peso que sentia no peito.. naquele momento, ouvindo tudo o que era dito, soube que nada de mal  poderia acontecer. Sorria também, incrivelmente feliz em ouvir que era motivo de orgulho para alguém que realmente importava. As palavras sobre liderança captam sua atenção mas Julian não sabia porque aquilo estava sendo dito naquela hora, naquele local. Sem pensar muito nas razões para o pequeno discurso, e confiando que o mau pressentimento não passava de uma preocupação descabida, o Roedor toma a liberdade de agir com naturalidade, dizendo com o típico ar zombeteiro que quase sempre adotava ao falar com seu pai: *

- Tá ficando emotivo ai, velhote?!

* Um rosnado que obviamente deveria ser um riso gutural se torna audível enquanto Julian passa o braço esquerdo (segurava o fetiche com a mão direita) pelo pescoço de Kraken, num meio-abraço lateral muito fraterno e despreocupado. Acrescenta, sem interromper a caminhada ou retirar o braço: *

- Podexá que o conselho tá anotado! Mas enquanto isso não rola, cê tem que vê o estrago que eu to fazendo com essa criança aqui..

* Ergue a Lamina de Gelo, fetiche da familia Kraken, com a mão livre para mostrar do que estava falando. Já tendo se gabado para o próprio pai, abaixa o fetiche e sorri da forma mais aberta possível, mostrando as presas afiadas no processo. Prossegue o trajeto até que finalmente chegam ao túnel que parecia leva-los para fora daquele lugar desgraçado. Julian esperava com seu pai do lado de fora até que seja sua vez de fazer o mesmo. Lança um olhar despreocupado para Isaack, se curva um pouco e entra na passagem. Julgava que já estavam relativamente em segurança. Entendia que já não haviam motivos para se preocupar com a sensação agourenta que antes o havia dominado. Planejava sair dali incólume e seguir vitorioso ao Caern, mas o destino decretava o contrário. Porque naquele momento, sua vida desmoronou.. e Gaia não estava olhando. *

* O força inesperada do choque o lança ao chão, esparramando-o por cima de Iurd que também cai. Pedir desculpas ou perguntar se estava tudo bem nem passa pela mente de Esquecido, que imediata e instintivamente olha para trás. Seus olhos se arregalam. Seu sangue congela. Seu mundo desaba. Ocupando o lugar que devia pertencer ao Roedor, Kraken jazia atravessado por uma lamina que o havia pego pelas costas. Um gemido de dor. Som de aço rasgando carne. Sangue escorrendo do ferimento encharcando o solo. Tudo acontecia muito rápido mas, para Julian, o mundo parecia caminhar em câmera lenta. Lágrimas corriam dos olhos de Coração-Valente e as retinas de pai e filho se encontram naquele momento que ficaria eternizado para todo o sempre na memória de Esquecido. Atordoado por tudo que ocorria e incapaz de se mexer, sente as ultimas palavras de seu pai dilacerarem seu próprio peito. Queria dizer que não havia o que perdoar, que não se ressentia, que não importava que houvesse crescido abandonado nas ruas, que a luta diária da criança que buscava apenas sobreviver o havia tornado forte, que o abandono não era culpa de ninguém, que nunca antes havia sido tão feliz.. Queria chama-lo de pai!! Mas a realidade o havia atordoado com tamanha violência que, de alguma forma, não conseguia dizer nada. *

* Sangue.. a vida do líder dos Presas de Prata escorria para o chão daquele lugar desgraçado. Isaack fala com Iurd sobre honra e sobre o Falcão. Acima de tudo, fala sobre redenção. A revelação crava uma faca no coração de Esquecido. Não conseguia suportar a ideia de que seu pai entregava a vida de bom grado para lavar a desonra.. ainda mais agora que sabia que sua própria existência era o motivo! A revelação o atinge com a força de um raio. Não podia permitir que Isaack se sacrificasse em seu lugar! Não podia conviver novamente com a ideia do abandono! Simplesmente não podia! Levanta-se furioso, notando a silhueta da Fêmea da Espiral que gradativamente aparecia, revelando quem era a pretensa Algoz de Coração-Valente. Sente o ódio queimar sua fronte, sente a raiva embaçar sua visão, sente um gosto salgado na boca, quando deveria ser amargo! Não percebia, mas seus olhos estavam cobertos de lágrimas. *

" VOCÊ NÂO VAI MORRER! "

* Avançava loucamente contra a Dançarina mas, pelo resto de sua vida, se lembraria de sua ineficácia em salvar uma das únicas duas pessoas que importavam na sua vida. Um grande muro de gelo sólido começa a surgir diante de seus olhos, lacrando gradativamente o túnel. Se lança contra a parede de gelo instantaneamente socando-a com brutalidade e selvageria impressionantes! O gelo se lasca e afunda, mas Julian não conseguia atravessar e a parede continuava se materializando. Socava incansavelmente, dominado por uma determinação furiosa e avassaladora. O muro glacial ia se fechando e Esquecido ainda olhava direto nos olhos de Kraken enquanto esmurrava. Lágrimas rolavam copiosamente de seus olhos, gritava, mas não tinha ciência de estar gritando: *

- PAI!!!!

* Um novo soco, mais estilhaços de gelo e os gritos seguiam: *

- CÊ NÃO VAI MORRER AQUI!!

* Memorias vinham enquanto seus olhos já embaçados pelas lágrimas fitavam os de seu pai. Memorias do tempo que haviam passado juntos, de todos os treinamentos, do orgulho estampado nos olhos do pai ao verem o filho passar de posto, da entrega do fetiche da familia.. e o tempo todo as lágrimas corriam.. e o tempo todo, os punhos se afundavam na barreira de gelo.

- NÃO ASSIM!!

* Gritava e esmurrava como se isso fosse o suficiente para trazer seu pai de volta, mas não era. Não queria admitir, mas era uma batalha perdida.. quase já não enxergava Isaack do outro lado e tudo o que podia fazer era continuar encarando seu genitor. Soube, naquele momento, que seria a ultima vez que o veria. A ultima vez que olharia em seus olhos. A ultima chance para dizer algo, e por isso bradou: *

- PAI!!!... Te amo.

* Ouve um fim de conversa entre seu pai e a assassina.. e então o muro se fecha completamente. Estava acabado. Seu coração sangrava e a dor preenchia seu peito de maneira sufocante. Coração-Valente havia caído, havia sacrificado sua própria vida para salvar seu filho e sua honra. Julian queria que essa verdade fosse mentira, que fosse um pesadelo e que ao acordar encontraria o seu mundo de volta ao normal. Sangue escorria vermelho e intenso de seus punhos, cortados e fodidos pelo impacto contra a parede de gelo.. no entanto, o Ahroum ainda esmurrava como se essa fosse a única forma de aliviar a dor. Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido. Esquecido sentia isso e concentrava sua atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente: a perda.  *

Hrist fazia uma profecia nada agradável, mas quando todos saem dali, Mayra praticamente não se importa. A Fianna caminha no pelotão da frente, no local para o qual fora designada, com a Pedra da Lua. Era pesada, mas na forma Crinos a Fianna podia carregá-la sem maiores problemas. A Ahroun sentia a pedra tentando queimar-lhe porém dessa vez a Armadura de Luna lhe garante que não seria ferida mais uma vez.

O grupo é encaminhado a entrar em um túnel de difícil mobilidade mas que cabiam os Garous em pé, em fileira. Mayra segue conforme lhe fora indicado quando um barulho faz com que ela pare onde estava. Tudo acontece em uma velocidade muito alta e quando a Fianna se vira para ver o que acontecia uma parede de gelo já se formava e Julian agia contra ela atrás de seu pai.

O coração de Mayra aperta. Ela imediatamente deixa a pedra onde está e começa a empurrar quem estivesse na frente na direção de Julian. Ao passar por Kiba, Mayra segura ele pelo braço para lhe chamar atenção e diz:

- Kiba, pede pra alguém empurrar a pedra em Hominídeo. Uns dois ou três. Eu já reassumo meu posto, eu preciso ir lá. Ele precisa de mim, lá. Confia em mim. Sigam adiante que nós vamos seguir logo atrás de vocês...

A Fianna não tem tempo para esperar uma resposta e já assume a forma racial, ainda com o brilho da Armadura de Luna. Isso ajuda a ela passar pelos cantos, passando por todos os Garous até chegar perto de Julian, onde novamente assume a sua forma Crinos - dessa vez, com Fúria. A Ahroun olha para Iurd e diz para o Presas de Prata:


- Deixa ele comigo, assume meu posto na Pedra da Lua, por enquanto, por favor.

Sem agressividade, Mayra toca o braço de Julian perto de onde Iurd o segurava e tenta acariciar o braço do Roedor de forma terna enquanto dizia:

- Julian, Julian... sou eu, Mayra, vem comigo... eu sei como isso dói e você sabe que eu sei... vem comigo... vamos sair daqui.

As mãos que estavam no braço sobem até a nuca de Julian, onde Mayra faz um afago e continua dizendo:


- Vem comigo Julian... vamos sair daqui... juntos... você precisa vir, você sabe que precisa... você tem por quem lutar, você tem a quem vingar. Vamos sair daqui. Eu tô aqui, com você, vamos sair juntos... vem...


A Ahroun mantém o afago e com a mão faz um gesto para que os demais já começassem a ir. Sabia como era aquela dor e plateia não era algo que ajudaria muito.