Hotel Glória - bairro da Glória

Após seu discreto cumprimento, o coreano se manteve em silêncio observando o grupo de pessoas que se acumulava sobre Guille esperando sua resposta. Que também era esperada por ele, mas se mantinha mais discreto quanto aquilo.
Conforme o delegado falava, apesar de não demonstra facilmente estava com ouvidos bem atento a cada palavra dele. Mostrando reação apenas quando seu nome foi dito, num elevar de sobrancelha e depois num movimento de cabeça positivo, dando a entender que concordara com o que foi dito e notara seu nome ser citado.
- Tudo foi muito rápido... - murmurou durante a pausa de Guille como se comentasse para si mesmo em acordo sobre o ocorrido comentado.
Continuou a ouvir até o fim do relato e ao observar a expressão do lutador, não pode encontrar nenhuma certeza do que buscava. Apenas mais dúvidas se abriram. Teria que esperar mais para entender tudo que havia visto e ouvido.

Lupinatti aguardava pacientemente até que França começou seu relato sobre o que aconteceu nos últimos instantes de vida de Xica da Silva. Os olhos do ancião Tremere se estreitam como se sentisse dificuldade de entender, ou acreditar, em alguns instantes do relato.

Depois do comentário de Linda e a troca de olhares o Tremere comenta de forma séria, mas sem agressividade em sua voz:

- Verdade... Uma fatalidade... Mas só para esclarecer, qual era o porte físico da traidora?

Lupinatti não esconde sua duvida da necessidade de destruição da traidora, uma vez que visivelmente o Toreador a sua frente era uma montanha de músculos e o comentário feito pelo oriental era, no minimo, evasivo.

'- Menor do que o meu...' - Responde Linda, que não era conhecida por um avantajado porte físico.

Lupinatti olha para a Príncipe e a avalia de cima a baixo, mesmo que aquilo lhe despertasse certo asco. Depois olhou pra França mais uma vez e concluiu:

- Imagino que o Xerife tenha escolhido você por competência em combate... Mesmo assim vocês afirmam que “tudo foi muito rápido” e “sua destruição foi inevitável”?

Vincent já tinha ido e retornado há algum tempo e não deixa de ver que Luiz Fillipi recolhe o celular de Xica da Silva para averiguação. O Primógeno achou isso natural, já que ele era o Xerife e precisaria de pistas para realmente ver o que tinha acontecido e se Guille agiu em legítima defesa. Já tinha relatado que os seguranças não viram nada e questionou sobre a faca/canivete/estilete que estaria em posse da traidora. Não obtendo resposta, Vincent chama a atenção de Luiz:

-Xerife Fillipi...está tudo bem?

Aguardou a resposta do Brujah e continuou:

-Encontrou alguma coisa relevante?

Olhou o corredor com atenção, tentando encontrar alguma câmera que pudesse ter gravado a ação do Delegado França.

Linda é direta em sua resposta e Andreas permanece em silêncio. Todos ali estavam interessados no relato do Delegado França. Era bom tomar conhecimento dos nomes dos cainitas da Camarilla no Rio de Janeiro. Informação era uma arma poderosa. O relato do Delegado é simples, porém mostrava traições preocupantes, ainda mais contra o clã Tremere. A morte final dela extinguiu toda a possibilidade de um interrogatório formal que poderia trazer mais informações a respeito da Legião e de outras traições.

Olhou seu relógio de pulso e viu que eram cinco horas da manhã. Não teriam muito tempo hábil para dar andamento na investigação, mas Andreas queria muito participar dela. Durante sua apresentação formal iria requisitar à Príncipe Linda um cargo de Delegado. A príncipe estava bem irritada, e parecia mais irritada ainda com o clã Toreador. Mais uma traição? O oriental também comenta algo meio balbuciado que traz a atenção de Linda para ele.

O Regente e primógeno Lupinatti faz um questionamento interessante sobre o porte físico da traidora e a príncipe responde que era menor do que o dela. Mais dúvidas florescem, aparentemente, mas era fácil encontrar a verdade através da taumaturgia. Mas Andreas não tinha sido autorizado a falar, então permaneceria em silêncio, por enquanto.

O olhar de linda somado ao comentário de Lupinatti, mostraram que seu murmúrio não tinha sido ignorado. E que indicava também que estavam talvez entendo errado seu comentário.
- Pardon... - todos ali pareciam estar acostumados a usar termos em francês ao que notou - Mas sim, foi rápido, ao meu ver. Num instante a mademoiselle Da Silva falava de forma eloqüente e no instante seguinte parou e ficou observando o Monsieur França de forma bem próxima. Em seguida, num ato desesperado, eu diria, aquela senhorita se arremessou pela janela sendo já seguida pelo delegado, no mesmo instante que Monsieur Lyon adentrava com o xerife no ressinto. Logo pediram para que eu aqui esperasse e seguiram também janela a fora. Uma seqüência de atos e reviravoltas muito rápida, como disse. Admito estar ainda um pouco confuso sobre o que pensar de tudo, e ter não compreendido tudo que foi falado por mademoiselle Da Silva. Mas, talvez, essa minha impressão seja ocasionada por eu ainda não estar acostumado com o Brasil e seus temas...
Disse de forma resignada aos que pareciam esperar dele alguma fala. Era verdade que não havia entendido tudo por falta de contexto e histórico do clã que estava ali nas terras brasileiras e também era verdade que não sabia o que pensar sobre o assunto ainda e como lidar com Guille e todos. Esperava que Vincent e Luiz retornassem logo com alguma nova informação sobre tudo e que a presença deles diminuísse a tensão do local. Ao menos a aparência de Vincent já faria o cenário melhor.
Baixou um pouco a cabeça e olhar ao finalizar sua fala.

O Tremere escuta a explicação mais detalhada de Henry sobre o que tinha acontecido e sua expressão de cerrar os olhos se repetiu, deixando nítido mais uma vez que algo não havia passado despercebido pelo ancião.

- Poderia ser mais específico sobre o que foi dito pelo Sr França e a Srª da Silva?

A pergunta de Lupinatti fez com que o jovem elevasse novamente a cabeça e então desse novamente início a fala.
- Como disse não entendo muito bem os nomes que dão as organizações aqui e qual a situação que vive o Brasil para os nossos. Logo é difícil eu entender realmente o que significava tudo que Mademoiselle Da Silva dizia. Ao que pude entender, ela parecia ter informações privilegiadas sobre alguns fatos, inclusive fatos relacionados à “Floresta da Tijuca”. – o coreano recém chegado realmente não sabia o que aquilo significava, citou o nome que lembrou, pois poderia ser importante – e também em relação ao ataque que sofreu o refúgio Tremere... Quando a senhorita foi questionada sobre eles, ela indicou estar trocando informações perigosas e arriscadas com propensos inimigos de todos, e também ela não parecia muito preocupada com a própria segurança. Segundo mademoiselle Da Silva, tudo era feito por ela para tentar garantir vantagens futuras a ela e ao clã. Mas tal comentário não foi bem recebido. Monseiur Lyon com calma parecia tentar fazer com que senhorita falasse mais e entregasse tudo para avaliar toda a situação. Porém, alguns pareceram mais irritados, não gostando de tal metodologia, e apenas deixaram a sala, o que levou a fazer o primogeno sair da sala atrás deles e nos deixar ali sozinhos. – insere uma impressão pessoal sobre a cena que apenas comentava - O que me pareceu inicialmente um ato para apaziguar os ânimos dos que deixaram a sala. Mas seu retorno com o Xerife, pode significar que ele tinha outros planos em mente em relação ao ato de traição.
Falava de forma serena, quase maquinal discorrendo os fatos como havia os vistos, com suas poucas inserções de impressões.
- Quando estávamos na sala apenas Mademoiselle Da Silva e Monsier França, o delegado a questionava sobre seu atos frente às tradições, as quais ela recitava perfeitamente mostrando conhecimento sobre e tentando enrolar o delegado. E era pressionada a dar informações maiores do que fizera. – resolveu ali adicionar mais um comentário pessoal – Afinal de contas é bom ter sempre o máximo possível de informações. Madame Da Silva, alternava muito entre tagarelar ao que parecia não ter muita importância, ou pelo menos eu não saberia dizer a importância de certas falas dela, e o silêncio profundo. Tanto que acabou estragando o recurso do silêncio para dar dramaticidade a uma cena, ao seu favor.
Retornou ao seu relato mais formal.
- A pressão aumentou sobre a senhorita, e creio que ela estava acuada sem ter mais como tagarelar e tentar ludibriar no lugar de dar respostas... Ficou mais um período em silêncio e parada, quebrando aquela postura apenas para se aproximar por um instante de Monsieur França, como já havia dito, e quando se afastou dele, ela já saltou janela afora. Sendo seguida prontamente pelo delegado num aviso de que ele a pegaria. E creio que estas foram as últimas palavras ditas pelo Monsieur França antes de seu retorno ocorrido agora. Creio que os outros participantes da reunião possam lhe dar informações mais completas sobre as falas e planos de Mademoiselle Da Silva, já que eles entendem melhor as circunstâncias aqui. Mas espero ter contribuído e ter sido de ajuda meu senhor.
Faz um aceno de cabeça ao homem que lhe questionava. Esperava que ele estivesse satisfeito com tudo, fora um longo discurso e se sentia um pouco cansado com a viagem e a noite bastante agitada que tivera.

Lupinatti ouve atentamente o Toreador que havia acatado seu pedido de ser mais detalhista. Há momentos no relato de Henry que o ancião chega a estreitar os olhos novamente, mas não por mais que um instante.

Sem duvidas teria que passar um filtro em tudo que foi dito, pois não daria para confiar 100% em alguém sem seus poderes de Auspícios.

Era evidente que houve uma conversa entre França e da Silva, mas o que eles haviam conversado teria que ser explicado agora pelo Delegado. Por mais que ainda estivesse com raiva por seu Clã ter sido traído pelo Clã da Rosa o Primógeno faz um cumprimento para o Toreador e diz:

- Obrigado Sr Sung.

Olhou rapidamente para Linda, mas não fez comentário algum, apenas voltou-se para França, esperando que este dissesse algo sobre o que foi relatado por Sung.

Filippi está tão concentrado analisando os restos mortais de Xica que não se apercebe da aproximação de Vincent. Finalmente, quando se vira para ele, diz, num tom que beira o ameaçador:

- Vou tirar essa história a limpo, pode ter certeza. Guille está demorando demais com a ventrue, é melhor irmos de volta e ver o que aconteceu.

Dito isso, começa a caminhar, pensando se os tremere não teriam alguma coisa a dizer a respeito se olhassem a cena. Pega o celular e por mensagem pede a Martine, a pessoa que Marie-Amélie lhe informara ser a responsável pela segurança, pedindo para que isolasse aquele lugar e não deixasse ninguém entrar.

Marie-Amélie apenas observa a narração dos dois toreadores, mantendo-se numa posição tão neutra que a um observador desatento pareceria não ter interesse nenhum no assunto. Apenas acena para Guille, com um ar de que há pouco a se fazer, quando ele lamenta pelo vitral. Mas na realidade está prestando atenção em toda a narrativa e tentando formular mentalmente uma hipótese do que pudesse ter acontecido. Oh, ninguém se atreveria a tanta desfaçatez em Nantes, não na corte de Mikael! Aquele Rio de Janeiro estava mesmo precisando de alguém que todos os clãs respeitassem mesmo à distância.

O cretino do Tremere começa a inquirí-lo, como se ele fosse o maldito traidor ali, o sangue de Guille começaria a ferver se ainda tivesse essa capacidade, imaginava que se fosse um Brujah com certeza não teria se mantido calmo, mas a meditação que seu mestre lhe ensinou o fizera manter o controle.

Então, com essa pausa, deu espaço para que o coreano fizesse os comentários e contasse seu ponto de vista, quando ele termina, todos olhavam para Guille como se esperando uma continuação, assim, termina falando, tranquilamente.

"- Ela estava acuada, tentou me seduzir com promessas de poder e ameaçar com a força de seus 'aliados' obscuros, disse que ela não tinha como escapar, que em breve o Primógeno retornaria para decidirmos como proceder, não esperava nem por um segundo que fosse ela tentar uma fuga tão desesperada e tosca como saltar por uma janela em meio ao centro da cidade, porém, como um animal encurralado, sempre pode se esperar a atitude mais insana, e, como todos sabemos, nossa alma tem a tendência intrínseca de procurar manter sua Não-Vida, aprendemos em todas artes marciais que nunca podemos subestimar nossos oponentes por sua aparência física, ainda mais quando dons de sangue estão envolvidos, não é mesmo."

Guille olha para Lupinatti ao final de sua frase e logo em seguida para Linda, sem apressar a mudança de olhares, como se esperasse somente reações, então se vira para Marie-Amelie e diz.

"- O Xerife e o Primógeno Lyon ficaram na cena, cuidando dos seguranças humanos que podem ter visto algo, talvez a senhora tenha um plano para essa contingências já formulado, e precisamos aplicá-lo com presteza."

'- Interessante...' - Diz Linda Wilson, olhando para Guille e aguardando a reação de Lupinatti.

Tentar tirar algo de Guile seria como tirar suco de pedra e o fato é que não tinha tempo para aquilo. Não agora. Depois da rápida manifestação da Príncipe Lupinatti apenas massageia as têmporas e diz:

- Você está certo Sr França. Não devemos subestimar ninguém...

Neste instante lança um rápido olhar para Linda e voltou a encarar o Toreador com um semblante sério. Não iria continuar com aquilo, mas prefere deixar as coisas bem claras antes de sair:

- Contudo, sua atitude "reativa" a ameaça da traidora levou ao tumulo varias informações que a mesma poderia ter sobre nosso mais novo inimigo. A Legião. Além de privar o Clã Tremere e toda a Camarilla de respostas... Deveria ter levado isso em conta quando agiu, mas isso eu tratarei com seu superior.

Se limitou a isso, pois não começaria novo conflito ou discussão com o delegado que não daria em nada. Virou-se para a Príncipe e prosseguiu:

- Gostaria de sua permissão para que meus lacaios investiguem o refugio da traidora. Talvez consigamos alguma pista que possamos analisar. Ao anoitecer eu mesmo irei lá para dar a minha própria avaliação e lhe informarei de quaisquer descobertas.

Ao terminar sua fala e ser agradecido por Lupinatti pelo que dissera, o coreano viu todas as atenções se voltarem a Guille. Se sentindo mais confortável agora e sem a pressão sobre si, ficou em silencio observando o grupo de forma discreta esperando para ver o que diria Guille, agora era com ele.
A resposta de Guille pareceu não agradar muito Lupinatti, mas não houve nenhuma reação maior. O tempo, a hora avançada, de certa forma estava a favor do delegado.

Marie-Amélie continua assistindo o interrogatório e diz apenas:

- Meu hotel está disponível para qualquer investigação adicional. O local onde ocorreu a tragédia está isolado. Gostariam de vê-lo, minha príncipe, primógeno Lupinatti?

Filippi chega de novo ao lugar onde estão Linda, Guille e os outros. Lança um olhar para o delegado, um tanto frio, mas faz uma ligeira reverência para Linda:

- Senhora príncipe. Imagino que já soube o que houve.

Vira-se para Lupinatti:

- Se quiser analisar o lugar, camarada, não sei se há algo que tu possas fazer...

Podiam desconfiar, mas provar que ele fizera intencionalmente era um nível muito alto para o jogo daqueles Cainitas, ele imaginava que seria bem difícil descobrirem um motivo, fora a fuga da traidora para ele ter a matado, talvez perdesse o cargo de Delegado, mas nunca ligou para cargos, tinha poucos interesses, e um deles ele acaba de notar que não estava ali, onde estaria Emilie? Seus pensamentos já começam a derivar em torno dela, quando a Príncipe decide que eles ficariam ali no Hotel, pois já era tarde, olha para seu relógio e imagina que a Malkaviana aproveitou a hora para ir mais cedo para seu refúgio, ou ao menos esperava o Toreador.

Abriu um sorriso ao Xerife quando ele informara ao Primógeno que iria tirar aquela história a limpo. Na opinião do Toreador, isso era o mínimo que o Xerife deveria fazer. Acompanhou o Xerife silenciosamente, como uma sombra, até a presença de Linda, Lupinatti, Henry, Guille, Marie Amélie e um cainita desconhecido. Permaneceu em silêncio diante dos comentários vindouros. Realmente as palavras de Linda tinham verdades das quais Vincent teria que engolir em seco.

Horazzio, Natanael e agora Xica da Silva. Traidores que deixaram a cidade ou que traíram a Camarilla. Não conseguiu deixar de olhar para Henry e Guille por um ínfimo instante, pensando:

”Em quem posso confiar?”

Deixou seus pensamentos irem embora e olhou para o desconhecido, meneando a cabeça para ele em tom de cumprimento. O que poderia dizer naquele momento? Defender o clã? Um clã que traía cada vez mais a Torre de Marfim? Massageou as têmporas devagar. Era como se uma dor de cabeça estivesse prestes a atingi-lo, mas na verdade eram problemas demais para se lidar e o Toreador nem sabia direito como lidar com metade daquilo. O que sabia era que teria que unir um clã completamente dividido e com mais suspeitas do que poderia contar nos dedos das mãos dos presentes no Elísio.

Seu terno estava imundo. Grãos de arroz estavam grudados aqui e ali e um cheiro estranho exalava do Primógeno Toreador que nunca imaginou estar numa situação parecida. Além de seu clã estar sendo taxado como traidor, sua imagem estava lastimável diante de todos.

O Tremere recém chegado apenas analisa tudo que é dito. O oriental faz um relato mais elaborado a respeito do acontecido e parecia ter saciado a curiosidade do Regente e Primógeno Lupinatti. O tal Delegado França então faz um adendo aos fatos, mas adendo este que não faz com que Andreas mude sua expressão diante de todos. O cainita tinha uma expressão serena e tranquila.

Após mais algumas falas, dois outros cainitas chegam junto ao grupo. Um deles, muito bonito, cumprimenta Andreas com um aceno de cabeça que ele retribui da mesma forma. Pôde imaginar que ou ele era o Primógeno Toreador ou o Xerife. Mas apostou mais na primeira opção, já que o segundo cainita tinha um quê de poucos amigos. Era provavelmente o Xerife. Permaneceu em silêncio todo o tempo.