Enseadas - O fundo das baías, lagos, lagoas, praias e mar aberto do Rio de Janeiro

Natanael dá uma sugestão de que deveriam seguir em comboio. Por Vincent todos poderiam ir em um comboio, desde que ninguém ficasse muito próximo de Natanael. Esquecera-se completamente de ligar para François, então o faz enquanto estampa o melhor de seus sorrisos na direção de Natanael, entendendo que ele não estava indo contra a ideia do pintor.

Mas quando Natanael chama Vincent por “monsieur Lyon”, Vincent arregala os olhos, arqueia sua sobrancelha esquerda e faz uma cara de “oi? Não entendi”. Tanto que ele fica olhando Natanael completamente estático enquanto o seu celular chamava o de François. As palavras de Terry e Claudia.

-Não entendi o monsieur Lyon, Natan.

Não sorriu. Estava muito sério agora. Seria a vagabunda da tal Xica da Silva que teria falado alguma coisa ou oferecido alguma coisa à Natanael? Se ela tivesse se oferecido à Natan, faria questão de dar troco. Mesmo com o submarino em alta velocidade, Vincent não sentira. Estava completamente atento à Natanael e suas próximas respostas. Na verdade, o submarino poderia estar afundando e sendo alvo de mísseis que Vincent não se moveria até ter a resposta de Natanael. Além de nem perceber que o submarino estava em alta velocidade, nem percebeu que o celular de François estava desligado.

Emilie não se acalma totalmente, mas acaba relevando as palavras de Filippi.
- Você tem razão, temos que esperar. Talvez eles estejam ocupados demais para procurarem a gente. Ian é um lutador, não vai se deixar abater tão fácil. Juntos, ele e Thomas, tem mais chances de sobreviver...

Não se surpreende ao ver Guille se aproximando e retribui de forma adorável o sorriso que o toreador lhe extende, olhando-o fixamente. Chegou a pensar que ele se uniria à conversa, mas ao ver que ele passou reto, desfaz o sorriso e se vira para Luís Filippi novamente.

Como o brujah gesticula e começa a falar numa língua que Emilie não entendia, ela faz um aceno de compreensão e caminha pelos corredores, se afastando dele. Entra no primeiro dos banheiros que encontra, mas deixa a porta apenas entreaberta, checando seu estado e fazendo o possível para melhorar sua aparência.

O Toreador acha extremamente estranha a presença de banheiros. Ali só haviam robôs e um Cainita, quem poderia precisar se utilizar de um toilete? Mesmo achando muito estranho e suspeito, o Toreador entra em um dos banheiros enquanto sua ligação completa para Wanderlei seu carniçal. Quando ele atende o Toreador fala em inglês popular.

"- Opa, Wand, é o Guille falando. Cara, eu marquei com o Marquinho dele me encontrar na academia, falei pra você organizar as mesas de reunião ai e tal, não vai rolar nada mais ai, mas o Marquinho deve estar pra chegar ou ja ter chegado ai na academia, então faz o favor de falar pra ele que vou ter uma reunião agora e não vai dar pra colar. Mas como eu to ligado que vocês são brothers, tanto que você que me apresentou o cara. O que pega é que deu uma puta merda na reunião que eu fui mais cedo, você deve ter visto na TV, não se preocupa que eu to bem cara, mas tipo, preciso que você pergunte pro Marquinho quem poderia ter fornecido algum equipamento suficiente para derrubar um helicóptero, e também se tem alguma movimentação pesada de algum grupo ou uma galera que chegou causando em algum morro ai. Fala pra ele que se ele souber quem foi eu garanto que ele vai ficar com toda mercadoria que eu encontrar quando eu defumar os filhos da puta."

O carniçal responde do outro lado da linha com uma voz muito grave.

"- Pode deixar Mestre, vou descobrir com ele quem podia ter feito isso. Pode deixar. E a respeito da luta amanhã, continua? Vai rolar?"

Guille continua.

"- Obviamente, a gente tem que instalar uma tradição, não vai ser uma confusãozinha que vai atrapalhar a gente, lembra de dar entradas VIPS ilimitadas pro Marquinho hein. E ah! Mais uma coisa, precisamos fazer 'testes' para dopping nos 8 lutadores de amanhã, retire meio litro de sangue de cada um deles e armazene no freezer do meu dojô. E também, acho que a gente precisa organizar uma campanha de doação de sangue para crianças lá na academia, verifica se você consegue contratar umas duas enfermeiras e escrever uns cartazes pra colocar lá na academia. Acho que é só isso Mean Machine, e lembra de treinar seu takedown malandro!"

A voz do carniçal responde.

"- ok Mestre, vou providenciar tudo o que o senhor pediu o mais rápido possível e pode deixar que te repasso as informações do Marquinho assim que conversar com ele, te mando um sms, abraço irmão!"

O Toreador desliga o celular, mas se senta na privada, rindo um pouco lembrando dos seus tempos de mortal, muito distante aquilo, com um sorriso no rosto o Toreador se levanta e se retira do banheiro, se dirigindo lemtamente para a sala principal.

Natanael era mimado. Era filho único de um fazendeiro e cresceu aprendendo que podia ter tudo o que quisesse sem dar satisfação nenhuma para ninguém. E agora na não-vida, raras eram as pessoas com quem Natanael se importava o mínimo a ponto de dar uma explicação sobre algo que fizera ou falara. Mesmo assim, quando ele foi contra a ideia de Vincent, se voltou todo educado ao irmão de Clã lhe explicando o porquê de contestar sua opinião. Mas parece que esse seu esforço hercúleo não agradou ao pintor, que com uma cara muito séria lhe pedia explicações sobre o tratamento formal dirigido a ele.

Oras, Natanael conhecia Vincent há nada mais que algumas horas. Haviam passado por muita coisa, é verdade, e os dois se mostraram preocupados mutuamente. Natanael estimou tanto o pintor logo de imediato que estava começando a cogitar a possibilidade de tê-lo como Paramour, mas aquela atitude não agradou ao Toreador poeta.

Natanael sempre fora alvo de elogios. Ele era acostumado a ter pessoas fazendo gigantescos sacrifícios, como romper um matrimônio de anos, apenas para passar alguns momentos nos braços do Degenerado loiro. Mais do que isso, quantas pessoas não caíram em desespero ou em depressão após terem sido rejeitadas pelo belo Toreador? Ele já havia perdido as contas e sabia que essa era a sina a se pagar por ostentar tamanha beleza. Qualquer Toreador digno de pertencer ao Clã cairia literalmente de joelhos diante da beleza surreal de Natanael apenas ao vislumbrar seu rosto. Um sorriso dele já fora capaz de fazer filhos ficaram sem herança ou uma mulher deixar o noivo abandonado no altar em plena cerimônia de casamento. Tudo isso foi só para explicar que ele não precisava se apegar a ninguém de forma tão rápida e tão profunda.

Mesmo assim, ele considerava Vincent um vampiro perspicaz e inteligente. Ele sabia que alguém desse nível não se portaria daquele jeito sem estar realmente apaixonado por ele. Havia sido rápido demais, no entanto, e isso deixou Natanael preocupado. Mesmo seus carniçais que o amavam incondicionalmente eram, em parte, obrigados a isso pelo Laço de Sangue, mas Vincent não tinha razões para olhar daquela forma para Natanael, como que pedindo uma explicação, como se Natanael fosse seu esposo que chegara tarde em casa cheirando a perfume de outra mulher. A não-vida deve ser aproveitada e passá-la com apenas um amante não era o que Natanael pensava sobre "aproveitar".

Mesmo diante desses pensamentos, quanto Terry lhe lança uma pergunta sobre a Primigênie, Natanael ainda estava olhando para Vincent tentando interpretar adequadamente sua expressão facial e suas palavras e ignora o Malkavian. Dessa forma, o pintor acharia que era mais importante para o poeta.

Natanael então abre um lindo e sedutor sorriso que faria com que Vincent ficasse altamente excitado se ainda fosse humano e responde, em francês, com a voz mais galanteadora que seus anos de poeta romântico lhe permitiam:

_Me perdoe, mon amour, foi um ato falho que prometo não mais se repetir. Ainda essa noite te recompensarei pelo meu descuido...

Permanece com o sorriso sedutor em seus lábios rosados e quentes como os de um mortal. Se Vincent queria ser tratado com informalidade, seria tratado por "meu amor". E não era uma mentira já que, naquela noite, Vincent era o único ser por quem Natanael estava apaixonado. Eu disse: naquela noite.

Ele sorri, como que encabulado pelo deslize e, posicionando-se bem ao lado de Vincent, se transforma, ficando mais sério e responde a Terry:

_Peço desculpas pela demora em respondê-lo, mas obrigado pelo lembrete, monsieur Constantine. Com certeza se eu assumisse tão prestigiado cargo, a Camarilla do Rio de Janeiro teria um forte aliado na Camarilla de Atlanta, o que não é pouco, dadas as nossas circunstâncias atuais. No entanto, já havíamos conversado antes de tudo isso acontecer e o nome do monsieur Haulot foi citado como o mais indicado para ocupar a cadeira da Primigênie. O máximo que eu poderia fazer seria responder por nosso Clã nessa reunião tão urgente que vamos fazer, caso o monsieur Haulot não compareça, já que ainda não temos informações precisas sobre sua localização.

Ele tecia todo o discurso olhando apenas para Terry, mas tomava o cuidado para não chamar ninguém pelo primeiro nome para não fazer Vincent ficar ainda mais nervoso. Mais uma vez esperava que o irmão de Clã desse conta de sua atitude hercúlea. Mas continua respondendo ao Malkavian anfitrião:

_Certamente nosso Clã não ficará de fora de nenhuma discussão da Primigênie, assim, posso responder pelo Clã Toreador na reunião de hoje caso o senhor Haulot não apareça. Claro, se meus irmãos de Clã assim o desejarem - olha para Guill e, mais demoradamente, para Vincent. - De todo modo, reitero que o mais indicado para essa posição é o nosso pequeno irmão. Caso tenhamos contato com ele e, caso ele possa comparecer à reunião, creio que ele deva assumir esse cargo tão honrado.

Natanael não tinha um interesse real pela Primigênie e, por isso, suas palavras não eram apenas uma demagogia vazia. Mesmo assim, o fato de ter sido lembrado como um adequado ocupante do cargo fez com que seu ego inflasse um pouco mais... Era óbvio que ser condecorado com tão alto cargo faria com que seus objetivos fossem atingidos mais rapidamente. Além disso, espera que sua lealdade para com os demais Membros do Clã fosse bem vista pelos outros, já que ele defendeu o pré-acordo que haviam feito, mais ou menos, no Elísio. De todo modo, lançou uma nova carta, a amizade com Atlanta, para que isso pesasse no julgamento de seus irmãos de Clã. Não competiria diretamente com o menino vampiro, ele parecia possuir mais aliados e até mesmo mais tempo de não-vida que Natanael e este não sabia absolutamente nada a respeito do que o pequeno era capaz. Mesmo assim, sutilmente mais uma vez, Natanael havia sugerido uma vantagem para todos caso fosse eleito o Primógeno. Esperava que os demais pensassem assim.

Ainda sério ao lado de Vincent, aguarda a resposta dos outros.

A principal arma de Natanael era fazer com que seus inimigos o subestimassem pela fama de seu Clã e pela sua aparência frágil e, assim que baixassem a guarda, o tombo seria maior quando o tapete sob seus pés fosse puxado pelo poeta. Devido a isso, ele não gostava de subestimar os outros. Mesmo o menino vampiro, apesar do que Terry disse, poderia esconder o controle com maestria de várias e várias Disciplinas, dentre outras coisas... mas, e se ele não passasse realmente de um menino? Uma criança amaldiçoada para viver eternamente como uma criança chorona que não consegue compreender o vil mundo dos adultos? Natanael nunca fora bom com crianças e nem imaginava como era a mente de um vampiro infantil. A propósito, não subestimar não significa superestimar, e era isso o que Natanael estava fazendo em relação ao pequeno que nem sequer teve altura e autonomia para subir sozinho até a janela e fugir do fogo do Elísio. Se Claudia era tratada como criança por Natanael, por que haveria de ser diferente para o outro? Além do mais, Terry havia dado o argumento exato para o momento, afinal, estavam em guerra e o Clã precisava de uma liderança forte. Fora que a opinião dos Membros dos outros Clãs era obviamente relevante. Nesse ponto, Natanael se lembrou que Bianca se sentiu desconfortável diante das crianças e fazer os Feiticeiros já terem antipatia pelos Toreador logo na consolidação da Torre não era algo aceitável.

Diante das palavras de Constantine, Natanael viu que a Camarilla e o Clã Toreador estavam contando com ele para tomar as decisões corretas, afinal, o Clã mais numeroso de todos os Seis Grandes da Camarilla tinha uma voz de peso em qualquer Conclave ou Elísio do Ocidente e, por Arikel!!! (com o perdão da invocação de uma crença supersticiosa!) Natanael era o mais apto a responder pelo Clã da Rosa. Vincent era belo e inteligente, mas seus olhares constantes que transbordavam desejo demonstravam que ele só se preocupava com o que viria depois da reunião e não com os rumos que ela tomaria para o Clã. Ou seja, se preocupava mais com a possibilidade de ter relações sexuais com o belo Natanael do que com o futuro da Camarilla... isso era algo fácil de se resolver. Enquanto mantivesse o romance com Vincent, este apoiaria sua entrada na Primigênie. Natanael acabara de perceber que estava ainda mais interessado no pintor...

Quanto a Guille, infelizmente ele não era apto para ocupar a cadeira do Clã na Primigênie simplesmente por ser um Blefador e não um artista verdadeiro. Felizmente, ele não demonstrara nenhum interesse no cargo. Quanto aos outros, aquela mulher, Eloá, já havia virado cinzas, bem como seu antigo contato que poderia ter se tornado Príncipe. Erá óbvio que Natanael era o mais apto a assumir o cargo e não era apenas porque não tinha ninguém mais indicado, afinal, até um Malkaviano percebeu isso claramente.

A inteligência de Constantine era perceptível pelo fato dele possuir um submarino tão tecnológico e até comandar robôs enquanto alguns Membros antigos ainda temiam a caneta esferográfica. Mas agora sua inteligência atingiu o nível de genialidade na opinião de Natanael, simplesmente por perceber o óbvio que era a capacidade hereditária que o poeta possuía para guiar o Clã em uma corte tão importante quanto seria a do Rio de Janeiro. Victoria ficaria orgulhosa.

Depois das palavras de Terry que soavam sedutoras e perigosas, como as das sereias das lendas gregas, o Degenerado retoma a palavra, desta vez, com um tom arrogante e prepotente, como se fosse o conhecedor da Verdade:

_Concordo com suas colocações, monsieur Constantine. A grande força de nosso Clã se deve, talvez principalmente, às boas relações sociais que temos com nossos irmãos da Torre de Marfim. Seria uma lástima fazer com que os olhares dos outros Clãs se voltassem com má vontade para nossa Casa simplesmente por um erro de conduta. Mais um, quero dizer. - Dá enfase no "mais um" - Não nos esqueçamos de que já estamos em situação bastante frágil devido ao incidente do início da noite.

Ele para, como um verdadeiro orador, e continua se dirigindo a seus irmãos de Clã:

_Vincent, senhor França, não sabemos informações de Durriex e a senhorita Silvia acabou de chegar. O senhor Haulot também não está aqui ainda, portanto, gostaria de pedir que vocês me deixem representar nosso Clã na reunião de hoje. Estou a par de todas as discussões desenvolvidas nesse submarino e minha atitude apenas comprova que tenho verdadeiros interesses a respeito do bem estar de nosso Clã e de nossos Membros. Por eu estar participando das discussões e a par de tudo o que aconteceu aqui, com a presença da Primógena Malkavian e do possível representante dos Brujah, acredito que, ao menos por hoje, eu seja mais indicado do que o senhor Haulot a falar pelos Toreador na reunião tão importante que faremos. Caso ele tenha interesse em permanecer como um candidato, faremos uma reunião depois, em particular.

Dessa forma, Natanael expunha apenas as verdades, precisavam mesmo de alguém que estivesse a par de tudo para a reunião na Capela e na reunião da Primigênie citada por Terry e não tinham tempo de explicar tudo ao pequeno Toreador. Depois, na suposta reunião particular, ele jogaria outras cartas para convencer aos Membros relutantes em lhe apoiar. Só se preocupava com Guille e com Durriex. François não o conhecia, mas Guille havia deixado explícita sua concordância pela atribuição do cargo de Zelador do Elísio para Natanael. Emilie poderia se opor já que era amiga de Thomas, mas isso não seria um problema, ainda.

Depois de postular um pouco mais, termina:

_O que me dizem, meu querido Vincent... meu amigo Guille.

Olhava para cada um ao lhe dirigir a palavra. Estava altivo e demonstrava firmeza, certeza e seriedade em suas palavras. Chamou Guille pelo primeiro nome, e de amigo, para demonstrar uma possível familiaridade. Era uma estratégia patêmica de convencimento da Arte da Oratória, pena que o lutador não entendia tanto assim a respeito de Arte para compreender isso... Obviamente, para Vincent, a voz soou em tom mais carinhoso...

*Filippi, que se aproximara da porta da sala maior quando Emilie saíra de perto, faz um gesto positivo para Terry, confirmando que assumiria a liderança dos brujah, enquanto ainda fala ao telefone*

Guille retorna para a sala principal apenas para ouvir o Malkaviano Constantine sugerir que Natanael assumisse a Primigênie Toreador, por mais que eles já tivessem discutido que Thomas ia se candidatar, aquele momento ele não estava ali e nem sabia onde estava o Toreador na realidade, Natanael não perde a oportunidade para deixar bem claro sua linhagem famosa, só deixa de lado alguns detalhes sórdidos. O cargo de Primógeno para um Cainita criança não parecia estranho à Guille, afinal eles eram seres imortais sugadores de sangue, não mais humanos, e com certeza Thomas parecia ter vivido mais do que vários ali, assim como Cláudia.

Natanael infla o próprio ego e recusa o cargo, deixando honradamente para Thomas, não como se não fosse mais para uma mentira e um 'deixa disso', então o Malkaviano insiste e Guille pode ver que a sala parece se tornar menor a cada instante, o ego do Toreador elogiado com certeza tomaria todo o ar presente se eles ainda respirassem.

Lacerda então começa a discursar sobre sua Senhora, que por mais que tivesse feito no pós-guerra, primeiramente havia sido um primeiro alvo, e uma refugiada da Guerra da Costa Leste.

"- Uma lástima de fato se mais um erro fosse cometido, e o maior erro aqui seria de fato ir para a reunião sem uma representação forte e que saiba discutir o que é necessário. Com certeza o senhor Lacerda e sua linhagem tem muita experiência no terreno que estamos enfrentando no momento, refugiados e sem muitas forças, quase que esperando um milagre para nos salvar. Tenho certeza que o senhor aprendeu muito com sua Senhora, e sabe tudo que necessitamos sobre a guerra, como ganhá-la, e como perdê-la."

Guille dá um sorriso e uma pausa pequena o suficiente para que todos ouvissem suas palavras e então continuam.

"- Não entendo o preconceito de todos com Cainitas crianças, afinal, estamos todos mortos, e todos vivemos séculos a fio neste mesmo mundo, acredito que nenhum de nós seja uma criança, e todos tenhamos nossas áreas de expertise, como a Sedução" - Olha para Vincent e pisca - "- A Força" - Olha para Fillipi - "- Os formidáveis recursos tecnológicos, ou a esperteza" - Olha para Constantine e logo em seguida para Cláudia. - "- E até mesmo uma personalidade forte e inflamada" - Olha fixamente para Natanael.

Então continua.

"- De fato havíamos combinado que apresentaríamos o Senhor Haulot como nosso Primógeno, porém as circunstâncias mudaram e ele não parece estar presente, nem apto a se comunicar conosco. Portanto apoio incondicionalmente nosso querido Natan - dá um sorriso para Vincent reconhecendo o apelido criado por ele - Como nosso Primógeno, daqui para frente, até mesmo chego a arriscar, que se as circunstâncias tivessem sido melhores, ele deveria ser nosso candidato e única opção viável até mesmo para Príncipe! O que acha disso senhor Lacerda? O trono serviria bem à sua Linhagem?"

Guille termina seu discurso pontuando com uma cara séria, realmente intrigado com a resposta do Toreador, talvez seu ego inflasse tanto que ele saísse voando. Mas também tentava mentalmente encontrar Thomas Haulot, o Toreador ausente daquela reunião, talvez ele achasse interessante ouvir o discurso de Natanael.

OFF: 1 de FdV para Telepatia

As perguntas de Terry sobre um representando do clã Toreador são colocadas em cheque. Todos haviam concordando, pelo menos em sua maioria, que Thomas seria o Primógeno do clã. Não restava dúvidas que a criança cainita era de fato o mais adequado para o cargo.

Mesmo com as perguntas de Terry, Natanael não tira os olhos de Vincent que esperava a resposta do irmão de clã. Aquilo, de fato já era resposta suficiente ao Toreador. Ele nem precisava de palavras para perceber que o tratamento de Natanael, o “monsieur Lyon”, não passara de algo casual e sem importância. Vincent então sorriu à Natanael e percebeu que estava sendo duro demais com ele próprio e com Natan.

Mas a resposta de Natanael vem em francês e Vincent sorri, respondendo-o também em francês:

-Perdoe-me Natan. Não tenho nem certeza do porque estou cobrando-o por algo tão....como posso dizer....tão sucinto.

Mas adorou a resposta do Toreador. Natanael poderia ser o homem que tomaria o lugar de Olivier? Talvez sim, talvez não. Deixar Olivier na França não foi uma ideia muito acertada e ele sabia que isso lhe traria resultados indesejados, tais como estas cobranças indevidas para com Natanael. Havia conhecido-o naquela noite e já estava tratando-o como se fosse o homem com quem passara toda a sua não vida.

”No que estou me transformando?”

Acalmou-se e suspirou fundo. Percebeu que Natanael se aproximara com aquele lindo sorriso que poderia derreter todas as calotas polares do planeta. Vicent sorriu ao poeta com um quê de vergonha por ter cobrado o irmão de clã de forma tão direta. Não poderia se dar ao luxo de causar uma cena em meio a uma situação tão perigosa.

Natanael responde Terry de forma direta. De uma forma completamente diferente da resposta que dera à Vincent. O Toreador não estava sendo de grande valia naquele lugar e começava a sentir-se envergonhado com isso. Assim que Natanael olha para Vincent esperando uma afirmação a respeito de Natan representar o clã, Vincent nada diz e nada faz. Apenas fica estático sem saber o que fazer. Natanael saberia perceber que ele estava completamente envergonhado, só não saberia dizer o porque.

Terry responde à Natanael e Vincent apenas ouve. Podnerava agora se Natanael não seria o mais indicado para ser o primógeno. Thomas poderia galgar outro cargo. Mas nada diz novamente. Se Natanael quisesse ser o Primógeno do clã, Vincent votaria nele. Estava meio cego e acataria a ideia de Natanael com certeza. O máximo que Vincent desejava era um simples cargo de Hárpia, que poderia deixá-lo mais à vontade em suas movimentações pela corte.

Natanael então explica a situação deforma prática. Vincent não tinha como se opor. Meneia a cabeça positivamente à Natanael e responde-o:

-Não há objeção de minha parte quanto à representação do clã ser feita por ti, Natan.

Foi possível perceber também que Luiz assumiria a liderança dos Brujah através de um sinal positivo vindo de onde ele falava ao telefone. Guille então toma a palavra e ele coloca questões pertinentes referentes aos cainitas, mesmo eles sendo crianças ou não. Vincent levanta os olhos ao Toreador lutador e quando ele diz que cada um tem armas próprias, ele cita a sedução e dá uma piscada para Vincent, que retribui com um sorriso. Era interessante ver que alguns o viam como sedutor. Ninguém sabia de suas habilidades verdadeiras com o pincel ou mesmo com uma arma de fogo. Seria muito interessante mostrar suas habilidades no ringue de luta que Guille possuía.

Guille então diz que apoiaria Natanael na representação ao clã e utiliza o apelido criado por Vincent para nomear Natanael. Guille parecia ser muito apto às situações sociais e utilizar o apelido criado por Vincent, não deixara o pintor chateado, pelo contrário, ele se sente muito bem com isso. Guille não parecia ser tão anti social como tentava demonstrar.  E joga a opção de Natanael ser o príncipe. Seria muito interessante ver a resposta de seu irmão de clã.

Alguns instantes sem novas conversas, sem nada que fizesse com que os entendimentos prosseguissem até que Terry abriu a boca. Uma mera sugestão, mas que tinha possibilidades infinitas para incendiar novamente as disputas. Ela sorriu internamente. As intrigas tinham ficado para escanteio por um tempo dentro do submarino, mas o próprio anfitrião jogou gasolina nas chamas sugerindo um nome para a cadeira toreador na primigênie.  Ela apenas ouviu. Sua única colocação foi respondendo ao preconceito que tinha sofrido por ser criança.

- Realmente. Muitas vezes somos deixados de lado por termos a aparência de eternas crianças. O que não deixa de ter suas vantagens nos jogos sociais da corte. – essa foi a resposta da malkaviana, quando Terry lhe disse que não queria ofendê-la. Realmente não era isso que ela tinha visto, mas o jogo que se desenrolava ali ficava a cada instante mais claro.

Quando Natanael pareceu mudar a sua opinião a respeito de ocupar o posto de ancião do clã no Rio de Janeiro e somando as palavras do seu próprio irmão de clã a pequena lunática começou a somar dois mais dois, chegando ao resultado de quatro. Ali estava uma das especialidades dos Iluminados. Ela própria já tinha agido daquela forma. E faria o mesmo se fosse Terry Constantine. Claro que iria preferir que um devedor de sua hospitalidade representasse as rosas, ao invés de um outro cainita que ela sequer conhecera mais que alguns instantes.

Luiz Fillippi a surpreendera, em parte, ao aceitar a incumbência de respeitar os brujah na corte. Cláudia sabia que com as influências certas ele poderia se aproximar mais e mais de um tipo de brujahs que ela conhecera na corte da Bretanha. Ainda mais se essa influência partisse de determinada bailarina que era sua própria irmã de clã. Se pudesse influenciar três nomes, se pudesse ser credora dos primogenos brujah, toreador e malkaviano ela gargalharia a exaustão.

Mas estava divagando. Essa não era a sua jogada, quem parecia estar armando o tabuleiro daquela forma era Terry Constantine. E a vampira não se esquecia da imagem que Natanael tinha lhe mostrado, da aura do lunático. Cinza e brilhante, não pálida como costumavam ser as almas vampíricas. Absurdamente intrigante. Ela precisava ouvir mais sobre ele. Reunir as informações que pudesse, a respeito dele, na Rede. Mas não ali, sob seu teto.

E Guille também apoiando a pretensão jogada ao vento pelo malkaviano. Indo além. A sugestão do lutador, para que talvez Natanael se candidatasse a príncipe foi algo que ela não recebeu bem, embora não fosse deixar isso claro. Não nesse instante. A pequena tentou visualizar a aura da Rosa, mas tudo o que conseguiu foi o óbvio: ele era vampiro.

- Alguns vampiros criança adoram ser subestimados, Guille. – ela completou o pensamento dele, a respeito de ser intrigante esse tipo de sentimento provocado pelos infantes – Fica mais fácil para que circulemos na corte. Muitos acreditam que somos insignificantes e esquecem dos séculos que podem se esconder atrás da face infantil de porcelana.

Natanael estava tão repleto de si mesmo que não notou a crítica indireta de Guille, não pensava que alguém pudesse contradizer seus argumentos tão sólidos ou ir contra sua tão esperada candidatura ao cargo. Então Guille começa a falar sobre o que Natan já sabia a respeito das crianças vampiros mas suas palavras ficaram muito mais doces e interessantes quando começou a elogiar a Natanael, inclusive, lhe chamando por Natan, o que agradou ao Toreador que viu que as palavras "meu amigo Guille" haviam surtido efeito. Depois disso, Guille faz uma pergunta extremamente dotada de ironia, mas vocês acham que Natanael perceberia qualquer coisa além de simples verdades nas palavras do Lutador??? Tudo o que saia da boca dele foi reconhecido como a Verdade que transbordava da boca de um mensageiro dos deuses ou algo do tipo. Natanael reconheceu que Guille era um artista verdadeiro, mas sua Arte consistia em elogiar aquele que nasceu para liderar o Clã das Rosas, talvez como Arconte, Justicar... por Caim, poderia ocupar mesmo a cadeira reservada ao Clã no Círculo Interno!

Enquanto ouvia as palavras repletas de verdades de Guille, Natanael apenas sorria imaginando aonde poderia chegar. É então que França lhe pergunta sobre o cargo de Príncipe e Natan viu que ele era o único que reconhecia sua linhagem. Na verdade, Natanael conseguia citar todos os seus antepassados até chegar no mítico Caim, mas nunca havia dado muita atenção a isso. Mas Guille era esperto e soube reconhecer o lugar certo de Natanael: o Principado. O poeta acabara de se decidir que ajudaria ao irmão de Clã lutador a encontrar o verdadeiro caminho das Artes, permitindo que ele cultive a arte da oratória em sua Côrte para persuadir a todos os presentes da grandiosidade do novo Príncipe Natanael Lacerda.

Sim, seria bom para todos.

Então Vincent também dá sua resposta, que já era a esperada pelo poeta. Natanael lhe sorri, em agradecimento, e toma novamente sua mão. Deveria manter o apoio de Vincent, principalmente agora que a opção pelo Principado havia entrado em pauta. Essa noite seria mais ardente ainda quando Natanael fosse agradecer a Vincent entre quatro paredes. Talvez até pudesse oferecer alguns de seus belos amantes mortais para saciar a sede de sangue e de sexo do pintor, seria um belo bacanal de comemoração... Mas agora não era hora para esses pensamentos. Natan então ouve o que Claudia dizia em sua defesa a Terry. Natanael também achava que ser subestimado era uma boa estratégia, mas não mais precisaria dela. Então, ele, ainda altivo, responde a Guille:

_Só ouço verdades vindas de sua boca, amigo Guille. Certamente o Trono é um bom lugar para qualquer Membro de nosso arguto Clã. Não nos esqueçamos de que o segundo Clã em número de Príncipes é realmente o Toreador e isso não é apenas uma coincidência. - ri de forma orgulhosa olhando ao redor da sala e continua - Realmente nossos candidatos a Príncipe caíram e isso é uma lástima que precisa ser superada. Ainda não temos a decisão conclusiva a respeito da primoginia efetiva, mas caso o senhor Haulot queira muito ser o Primógeno, eu posso muito bem me candidatar a Príncipe. Muito embora eu não conheça praticamente ninguém dos outros Clãs e não sei se eles são tão inteligentes quanto meus irmãos Toreador.

Diz isso sorrindo com uma pretensão gigantesca. Era óbvio, para ele, que qualquer outro Membro da cidade perceberia sua aptidão inata para ocupar qualquer cargo de poder que fosse necessário. Para que percebessem isso, bastariam dez minutos de conversa com o belo e inteligente poeta cria de Victoria Ash. Além disso, Claudia certamente apoiaria a sua candidatura e Terry sabia reconhecer sua grandiosidade. Emilie também era inteligente e, com isso, Natanael poderia ter o apoio do Clã do irmão gêmeo de sua Progenitora. Isso apenas lhe deixou mais seguro ainda.

As coisas estavam ficando interessantes, e ele conclui:

_Não conheço os demais Membros que poderiam se candidatar ao principado, mas creio que tudo isso poderá ser resolvido nessa reunião com os Tremere. Ainda hoje tudo estará em seus devidos lugares e nosso Clã não pode ficar fora da disputa pelo cargo de Príncipe, não é mesmo?

O poeta estava completamente certo de que suas palavras seriam bem recebidas novamente. Mas ele não era estúpido e sabia que Horazio havia sido imprudente por contratar os Assassinos de Haquim para protegê-lo. Os outros Clãs usariam isso como questionamento contra a candidatura de um Toreador, mas o que Natanael sabia sobre aquilo? Ele havia acabado de chegar e não poderia pagar pela estupidez de um Toreador que morreu pagando pelo seu erro. Se os outros Clãs jogassem essa carta, Natanael teria a plena certeza de que todos eram incapazes de pensar de forma objetiva e inteligente. Isso apenas comprovaria que o mais indicado a guiar a Côrte era mesmo o belo Natanael.

Com o rosto levemente úmido, os cabelos parcialmente ajeitados e um humor levemente melhor, Emilie saiu do banheiro. Com gestos faceiros a malkaviana foi atrás de Luiz Filippi ou Guille que haviam estado no corredor anteriormente, mas não acha nenhum dos dois, nem qualquer outra criatura de carne e osso. Bufa meio contrariada e volta para a sala onde todos estavam. Consegue perceber que algum tema importante está sendo debatido, mas só é capaz de apreender uma coisa: "Principado"

Chegou a se sentir ofendida por estarem falando sobre algo tão importante na ausência dela, de forma que apertou o passo e saltou súbita, mas graciosamente, para dentro da sala.


Assim que os pés da malkaviana tocam novamente o chão, sua voz entusiasmada se ergue.
- Eu ouvi falar em Príncipe?!

O Toreador estava absorvendo as palavras de Natanael ainda, e cogitando o que falaria em seguida quando a pequena bailarina Emilie adentra de forma magistral na sala, com um giro de deixar qualquer profissional da dança de queixo caído, e no segundo que ela aterriza, sua linda voz se faz ser escutada, Guille por uns instantes parece se esquecer do companheiro de Clã e seus delírios de grandeza e até mesmo de Thomas, e qualquer Jyhad ou algo parecido que estivesse em sua mente, ele apenas observa o corpo perfeito e bem definido e magro da Malkaviana dançando pela sala, e a imagina em um dojô, vestida com um collant de bailarina, enquanto dançava, e Guille em sua cena mental dançava com ela, como se fosse uma luta, seguindo e prevendo os passos de seu adversário/companheiro, e rodando pelo ringue em movimentos simultâneos, se tocando apenas nos momentos exatos.

"- Princip... É... Ahn..."

Depois de um breve instante que o Toreador parecia estar em outro mundo, ele volta rapidamente ao mundo real, sorrindo para Emilie.

"- Sim! Nosso querido amigo Natanael decidiu, de forma mais acertada impossível ser nosso candidato à Príncipe, aparentemente Zelador do Elísio não faria juz a sua tão estimada linhagem."

O Toreador sustenta o olhar em Emilie e mantém um sorriso que não parecia nada relacionado às palavras que ele tinha dito naquele instante, tanto que quando retorna seu olhar para Natanael para continuar a discussão, o tom de voz e do rosto de Guille é bem mais sério e concentrado, fala com vigor, e mesmo as palavras não sendo duras, o tom de voz seria perceptivelmente áspero para qualquer um que não estivesse tão empolgado.

"- Nunca cogitaríamos deixar nosso Clã fora da disputa para o trono Natan, e você sempre pareceu o candidato ideal, acho que deviamos focar plenamente nossas forças em fazê-lo nosso Príncipe, um sobrevivente de um ataque tão duro, e com tanta experiência de fugir de situações difíceis será imprescindível como nosso líder em caso de outra investida da Espada de Caim."

Durante a fala de Guille suas palavras vão se formando, e seu rosto vai ficando mais preocupado e um pouco angustiado, realmente Thomas ainda não havia sido localizado mentalmente, e se Natanael continuasse com aquela pretensão, os Toreadores teríam que estar mais ainda unidos, e Guille teria que falar tudo o que falou em defesa de Natanael na frente dos outros Membros, e isso sem aquele tom de hostilidade e uma certa aspereza, mas realmente acreditando no que dizia, e o Toreador não era tão bom assim para esconder seus verdadeiros sentimentos. Sentimentos que estavam sendo traídos por seus olhos, que não se desviavam de Emilie, e ele teve que se forçar para revezar os olhares enquanto continuava sua fala.

"- Apoiarei sua candidatura a Príncipe senhor Lacerda, e estarei lá para dar meu depoimento em sua defesa, contar de suas habilidades e mostrar a todos claramente a verdade que o senhor mesmo diz ver em minhas palavras."

Guille então parece meio cansado e exausto de suas palavras falsas saindo de sua boca, e olha para Emilie dando um sorriso de meia boca e acena com o braço colado ao corpo e sem levanta-lo acima da cintura, com dois dedos, como se dando um 'oi' para a bailarina

Natanael vê a graciosa bailarina entrando com seu salto e imagina quão linda seria uma apresentação da Malkaviana em um palco. Logo Guille volta a falar, mas desta vez suas palavras soaram com um tom ríspido e até jocoso. Natanael não gostou quando ele fez menção a fugir. Ora essa! Não era ele quem disse, em sua primeira conversa, que havia fugido da costa leste devido aos ataques Sabá e migrado para o centro dos Estados Unidos? A petulância dele não agradou ao poeta, que ignora seu apoio demonstrado na última frase e diz, em tom parecido ao que ele lhe dirigiu:

_Dou completa razão para suas palavras, meu amigo Guille, até porque ninguém dentre nós é o mais indicado para falar a respeito de fuga diante de qualquer ataque Sabá, visto que o senhor já é bastante experiente no assunto, levando em conta o que me contou ainda no início da noite.

Olha para Claudia com um olhar cúmplice. A pequena havia derramado fel em suas palavras a respeito do comentário de Guille sobre as invasões Sabá e Natanael sabia que podia contar com ela para um pouco mais de diversão sádica. Sorri um riso de ironia de volta a Guille e espera a resposta. Não precisava do apoio de alguém que o considerava, erroneamente, medroso ao ponto de fugir. Além disso, não imagina de onde Guille tirou essa ideia, visto que Atlanta é um bastião da Camarilla em meio a um mar Sabá, mas a Torre ainda resiste bravamente lá em cima.

Além disso, Guille insiste em fazer menção à linhagem de Natanael, quando, na verdade, era Terry quem havia trazido isso à tona. Natanael não se apoiou em momento algum em sua linhagem para se candidatar a Primógeno ou a Príncipe, apenas cogitou a possibilidade de uma amizade entre as Camarillas do Rio e de Atlanta.

Ou Guille estava lendo sua mente ou estava delirando acordado de tanto pensar em Emilie...

Os olhos de Emilie brilham de satisfação ao ver o efeito que causara nos toreadores, sobretudo em Guille, para quem lança um belo sorriso de volta durante o olhar que ele lhe sustenta. A delirante bailarina sabia reconhecer quando alguém deixava sua imaginação fluir, como ela sempre fazia, e nisso podia ver mais uma identificação entre ela e o lutador. Seu olhar se mantém nele até ele se virar para Natanel e ela faz o mesmo, curiosa pela pretensão de Lacerda em se lançar ao principado.

Por que tudo que parecia tão acertado quando Emilie saía da sala mudava completamente depois que ela voltava? Todos tinham ficado satisfeitos com a definição dos cargos proposta antes, embora a definição do Príncipe houvesse ficado em aberto. Teriam que escolher um outro nome para Zelador? Vincent talvez...

Natanael poderia até ser um bom candidato a Príncipe. Tinha uma linhagem de prestígio, o que ajudava, mas não demonstrara muita pró-atividade ou espírito de liderança, exceto para insinuar que ele seria um bom Zelador de Elísio, posição que ele sequer reclamara para si durante a formação da Aliança, e sim, que a própria malkaviana havia sugerido. Teria ele peso e culhões suficiente para bater os candidatos que os outros clãs, pelo menos o clã ventrue, apresentariam?

As ironias que Guille lança para ele deixam claro que ela não era a única a se questionar sobre a competência do toreador, mas aquela troca de farpas entre os membros não era saudável nem para o clã, nem para a Aliança, de forma que tenta intervir pacificamente para dissolver a discussão.

- Todos nós já tivemos que fugir em algum momento. A coragem é um sentimento nobre, mas muitas vezes pode levar junto a vida de quem a manifesta. - diz filosóficamente a malkaviana, mas prossegue num tom mais casual - isso não vem ao caso agora. Natanel, me diga, caso efetivamente se torne Príncipe do Rio de Janeiro o que pretende fazer pela cidade? Já deu sugestões maravilhosas do que faria com um cargo de Zelador, mas um principado vai exigir mais do que festas e saraus. Além disso, vai colocar sua própria vida em risco, como alvo dos futuros ataques. O que vai fazer em relação à isso? Como planeja nos conduzir caso nos lidere?

A Camarilla não era uma democracia, mas um pouco de campanha eleitoral vinha a calhar naquele momento. Sobretudo para que Natanael refletisse sobre a responsabilidade que estava almejando assumir ao invés de lançar-se apenas para satisfazer seu ego.

Alguma coisa estava acontecendo com Natanael e Vincent não tinha nenhuma noção do que era. O ego do irmão de clã e, talvez futuro consorte, era tão inflado daquela forma que Vincent não havia percebido nada? Talvez o calor das labaredas que se alimentavam da tapeçaria, quadros e paredes do Elísio tenha inflamado até o ego de Natanael. Infelizmente Vincent não conseguiu de alguma forma identificar de pronto o que estava acontecendo.

Iria fazer uso de um dos seus poderes para tentar, de alguma forma, vislumbrar o que realmente estava acontecendo com seu futuro amante. As palavras de Natanael não pareciam as mesmas de instantes atrás. O poeta havia mudado suas atitudes? Claro que sua habilidade diria um pouco sobre o que estava acontecendo. Vincent confiava em suas capacidades e tiraria a prova.

Claudia tira Vincent de suas conjecturas e realmente ele começa a vê-la melhor agora e não apenas como a criança maligna que vira há um tempo, claro que, desde que ela não tomasse toda a atenção de Natanael para si. Nunca havia subestimado Thomas, nem por um segundo. A criança tinha uma língua ferina que poderia machucar e isso era um ponto positivo ao ver de Vincent. Fora que ele tinha experiência como Zelador da Bretanha, algo que Vincent nunca se interessou em ser. Odiava estas burocracias da Camarilla de nomear cargos, chefes, reis, rainhas. Vincent gostava de aproveitar a vida da melhor forma possível. Então porque se atara à Natanael tão rapidamente? Iria deixá-lo partir na próxima noite quando vislumbrasse um corpo bonito na praia?

As habilidades de Vincent mostram nada além do que ele já tinha conhecimento. Então as atitudes de Natanael eram inerentes a ele e ele não havia mudado ou mesmo “alterado”. Suspirou fundo. Estava cansado e queria sair do submarino. Não que aquele local não fosse confortável, mas porque queria ver vida, vida mortal. Queria ver as estrelas novamente, a lua, a areia das praias do Rio de Janeiro e o belo mar. Natanael toma a mão de Vincent logo após o consentimento do pintor em Natanael representar o clã. Vin sorri para Natanael complacentemente.

Natanael seria um bom príncipe? Não tinha como saber. Mas se ele fosse entrar na disputa, seria uma candidatura interessante. O clã Toreador não tinha apoio nenhum dos outros clãs, talvez, por ironia do destino, poderia ter o apoio do clã Malkaviano e quem sabe do clã Brujah, mas duvidava em muito que Luiz Filippi apoiaria completamente a candidatura de Natanael. Claro que a roda do destino poderia pender a favor de Natanael, como também poderia pender contra ele.

Emilie se aproxima. Realmente estavam discutindo um assunto muito importante para a Primógena do clã Malkaviano se ausentar. Ela vem como um cisne que pousa delicadamente no lago de águas límpidas e calmas formando apenas pequenas ondas na superfície. Como um cisne elegante e majestoso Emilie pousa no chão. Vincent sorri ao fazer esta alusão à Malkaviana. Diziam que todos os malkavianos eram loucos, mas Vin não enxergava a loucura nela. Pelo menos não ainda.

Quando da chegada de Emilie, Guile parece perder um pouco o foco que é retomado imediatamente. Mas Guile estava sendo irônico ou apenas dizia aquelas palavras como se fossem verdades absolutas? Mas as outras palavras de Guile conseguem retirar um sorriso do pintor. Quando ele menciona “fugir”, o sorriso de Vincent parece que estava em concordância com o blefador irmão de clã. Além de que o lutador Toreador dizia que apoiava a ccandidatura de Natanael à príncipe.

E Natanael é incisivo em comentar sobre a “fuga” de Guile da Costa Leste. Outro sorriso emoldura a face de Vincent. As farpas começavam a ser lançadas em todas as direções e o pintor sabia que isso poderia não acabar bem. Emilie intervém de forma maravilhosamente coerente. Natanael queria ser príncipe, mas quais seriam suas táticas em uma cidade dominada por lobisomens e pela Espada de Caim? O pintor meneou a cabeça positivamente quando Emilie falava como se estivesse em concordância com ela. Pelo menos esperava que as farpas cessassem.

Terry se faz presente. Realmente todos que estavam naquele submarino se conheceram em uma catástrofe e sobreviveram juntos. Talvez o laço criado pudesse fortalecer em muito a Camarilla na cidade. Talvez. Olhou para Terry, depois para Emilie e Guile. Por último em Claudia e ponderou se a criança louca seria uma boa Senescal. Isso fortaleceria em muito o clã Toreador e o clã Malkaviano. Mas os Ventrues com certeza não gostariam disso. Apostaria suas pinturas que os Ventrues desejariam, pelo menos, que o Senescal fosse um deles. Conhecera apenas Marie Amelie e Jessica Montecchio, além do traidor Rurik Price. Tinham argumentos de sobra para rebater a candidatura dos Ventrue ao principado, como eles também tinham muitos outros contra os Toreador. Vincent apenas observava ponderando as conversas. Não queria falar. Não ainda.

Como era de se esperar, a bailarina diz palavras para apaziguar a vergonha de Guille por ter fugido já tantas vezes. Ela estava realmente apaixonada pelo orelha deformada. Então a Lunática faz a vez de Fátima Bernardes e interroga o candidato da vez. Natanael sorriu por dentro, embora a olhasse com seriedade. Era mais do que óbvio que ele sabia o que trazer para a cidade! Tudo o que ele precisava era colocar alguém forte e não muito pensante no cargo de Xerife e mandá-lo patrulhar a cidade, era fácil pensar em alguém, e fazer seu Senescal assinar os documentos e lidar com os Membros problemáticos da Côrte. O Xerife por sua vez contrataria Delegados e Algozes e o Senescal conseguiria um bom Zelador. Pronto, o Príncipe só precisaria ter reuniões com os Primógenos, distribuir Domínios e permitir, ou não, a Hospedagem e o Abraço de novos Membros... pensando bem, isso daria muito mais trabalho do que Natanael gostaria...

Emilie então joga um argumento que era verdade: a vida dele estaria em risco, bem como estiveram as de Jorge, Horazio e aquele outro lá! O poeta queria galgar as alturas na Torre, mas não queria colocar sua tão preciosa não-vida em risco apenas para proteger Membros tão, tão... melhor não externar essa opinião. Se tinha algo que o Toreador gostava mais do que status, era viver. Enquanto abria a boca para responder à Primógena, Terry começa a falar. E só fala asneiras! Ele era incoerente, pois falava sobre a sintonia aparente entre os Membros do submarino sendo que, há pouco, não acreditava nela. E então ele fala sobre conselheiros. Natanael quase ri! Ninguém ali era o mínimo capaz de dar conselhos ao Toreador... passavam longe disso. Mas essa incoerência no discurso de Terry fez com que Natanael percebesse que estavam jogando com ele. Por quê ele não sabia, mas os malditos Malkavianos estavam brincando com sua mente e isso ele não permitiria. Emilie era linda, talentosa e inteligente. Terry manipulava tecnologias interessantes. O Toreador deveria utilizar seu melhor trato social, digno de um dândi, para sair daquele impasse entre os Loucos de forma a não ferir o ego de nenhum. Precisava do apoio deles, caso mantivesse essa ideia em tempos futuros.

_Tem razão, senhor Constantine. Na verdade, a senhorita Blanc também tem razão. Eu me precipitei e deixei que o elogio do senhor França tirasse meus pés do chão por alguns segundos. Nossa Clã é um dos mais indicados para ocupar o Principado, mas eu não pretendo me impor ao trono. Apesar de ser apto para tal, acabei de chegar e nem sequer conheço a cidade ou seus Membros. Quero ver os rumos que essa reunião tomará primeiro. A respeito da Primogenia, fui extremamente polido e prestativo ao me oferecer para representar nosso Clã na reunião, mesmo sem precisar me sujeitar a isso. Caso o pequeno Toreador queira muito o cargo, eu me resigno a aceitar o de Zelador, que havia sido me oferecido.

Faz uma pausa dramática, e continua. Estava se sentido o ser mais modesto do mundo:

_Mas podemos deixar, por hora, essa discussão de lado, pois já estamos chegando ao porto.

Natanael era muito inteligente para colocar tudo a perder em menos de cinco minutos de conversa. Deixaria que os demais Membros refletissem sobre sua candidatura tanto à primogenia quanto ao principado. Se eles fossem realmente inteligentes, perceberiam que o Toreador era altamente indicado para isso. Caso não percebessem, Natanael procuraria outra Côrte, formada por Membros menos estúpidos. Ele era famoso dentre seus pares, não havia uma Guilda que visitasse que não conhecesse o poeta romântico Natanael Lacerda. Deviso a isso, Natan esperaria mais um pouco, em breve, viriam até ele implorando para que aceitasse, no mínimo, ser o Primógeno. Não conhecia os Ventrue, Tremere ou Nosferatu, mas dentre os Toreador, só ele era capaz de assumir um alto posto.

A propósito, Vincent não falou nada quando Guille ofendeu a Natanael e isso não passou despercebido pelo poeta.

A discussão estava se tornando mais ácida do que ela esperava. A pequena malkaviana acreditava que poderia colocar panos quentes em tudo aquilo, mas não pensava em sequer tentar algo nesse sentido enquanto estivesse no submarino. Se realmente suas suspeitas estivessem certas. Ela manteria-se neutra naquela colocação. Pelo menos por enquanto. Suas próprias pretensões precisariam ser pesadas, antes de prosseguir. O salto de Emilie fez com que o clima ficasse um pouco menos pesado. A dança da garota chamou a atenção dos toreador. Seria tão bom se ela se apresentasse com todas as suas virtudes e fizesse com que eles desabassem no encanto da paixão pelas artes. Assim, quem sabe, afastariam seus pensamentos.

A malkaviana estava perdida em conjecturas, pensando nas divisões que poderiam surgir naquele grupo. Como ela tinha dito em suas primeiras palavras dentro do submarino se quisessem ocupar os pontos estratégicos a respeito dos quais tinham combinado na embarcação, deveriam falar a mesma língua. E um deles já começou a falar diferente. Caso Natanael se candidatasse a príncipe havia riscos de ruir todas as negociações dali. E Terry deixou isso claro. Ao ouvir o irmão de clã, ela complementou.

- É exatamente isso, Terry. Para tentar consolidar as posições que tínhamos negociado aqui precisávamos chegar à capela falando a mesma língua. Mas acredito que realmente poderíamos alcança-las, caso Emilie, Fillippi e Natanael estivessem afinados na hora de propor os nomes na reunião. A menos que os nosferatu, ventrue e tremere também fechem um acordo entre eles mesmos. Por isso Cláudia acredita que precisamos conquistar o apoio de pelo menos mais uma dessas famílias. Até Natanael se colocar como candidato a príncipe ninguém aqui tinha se colocado disposto a ocupar a cadeira. E, assim, poderíamos oferecer essa posição de destaque a uma das outras famílias... com todas as suas prerrogativas e seus riscos. Mas se Natanael realmente quiser correr os riscos e colocar a cara a tapa...

*Filippi desliga o telefone e escuta um pouco até entender qual a tempestade que se aproxima. Quando compreende que Natanael quer se lançar a príncipe, dá uma risada para si mesmo e murmura, não baixo o bastante*

- Esse frango fresco príncipe, daí é que a gente virava pasto pro Sabá...