Enseadas - O fundo das baías, lagos, lagoas, praias e mar aberto do Rio de Janeiro

"Ele mesmo?" Emilie tem suas duvidas, mas pensa no que Constantine lhe diz. Sendo ou não John Smith, a FESN havia feito algo com ele, torturado-o, ameaçado-o ou até mesmo alterado sua consciência. Algo que jamais iriam saber, e que não mudava o rumo dos eventos.

Destrutivos pelo que ela podia ver, em todas as telas do programador. Entreabre os labios, chocada em ver tanta destruição, e um pensamento perturbador toma sua mente.
"Caos, robôs, destruição... a Nuvem está tomando este plano... eu não perdi a Nuvem. Ela se misturou a este mundo...

A reflexão, porém, parece levar a própria malkaviana à sua dimensão etérea, pois a voz da criança, mesmo distante, consegue atingir sua mente assim que seus olhos tomam a figura do Garou, com uma mensagem importante.

"O Filho do Falcão!"

Emilie coloca suas mãos na tela, angustiada em pensar no que poderia estar impedindo a criança de falar livremente com ela. Vê o fogo que transforma o Garou em Fênix ser aprisionado pela terrível gaiola, depois de incendiar o local todo, mas sem queimar os corpos que estavam ali, mas fechando seus ferimentos e devolvendo seu sopro de vida.

Fala ao malkaviano, já com os olhos marejados.
- É a Nuvem, Terry! Se misturando a este mundo. É a Gehenna, dando seus sinais mais claros, ficando cada vez mais próxima. Nosso mundo está condenado à destruição e só eu posso salvá-lo. Eu e o Filho do Falcão. Ele está aí, eu o vi. Eu preciso encontrá-lo!

- Por favor, faça isso. - suplica ela. - é este... este aqui... - procura Kiba nas imagens da tela e aponta-o para Terry.

Apesar de sua ansiedade, ela aceita o conselho do irmão de clã.
- É... você tem razão Terry. Mas eu preciso achar alguma forma de entrar em contato com ele, mesmo que seja à distância. Se eu falar pra ele da criança, do pedido dela para encontrá-lo, quem sabe ele entenda? Quem sabe ele queira me procurar também, para revolvermos isso juntos...
Era uma esperança vã, mas era tudo o que Emilie podia contar.

- Eu tenho mais pedidos para te fazer, Terry. - a primógena toma uma pausa serena, e suspira antes de dizer - falta muito pouco para amanhecer, se puder me oferecer abrigo em seu submarino durante o dia... e, preciso avisar Marie-Amélie que não voltarei, se meu celular tiver quebrado duranto o mergulho na água... - Emilie tira o aparelho do bolso do casaco e verifica - estou hospedada na casa dela desde que o prédio onde eu morava foi atacado... e... - toma outra pausa, como se reunisse coragem, antes de olhá-los no olhos e pedir, resoluta - gostaria que me colocasse em sua máquina novamente.

Emilie segue atrás de Constantine, recebendo com um olhar de aprovação o novo telefone, sem conseguir deixar de se impressionar com a velocidade de seu irmão de clã, apesar de conhecer a eficiência dele.
- Obrigada Terry. - diz, bastante satisfeita.

Continua atrás do malkaviano, acenando afirmativamente com o que ele fala sobre o contato do Filho do Falcão.
- Tudo bem, tome o tempo que precisar.

Fica hesitante quando Terry lhe pede uma certeza, e depois de mais uns segundos de reflexão ela diz.
- Sim, eu quero. Eu preciso de respostas. Respostas que só sua máquina pode me dar. Não precisa ser hoje, talvez já esteja muito tarde... mas eu quero fazer isso. - sua voz soa mais determinada.

Emilie simplesmente concorda. Sabia quanto o procedimento na máquina podia ser desgastante.
- Obrigada, Terry.

Assim que chegam ao aposento que ele a leva, ela diz.
- Precisamos conversar. Você me disse várias coisas preocupantes ao longo da noite, sobre ter cuidado com os falsos amigos e que os nosferatus estão querendo te mandar à morte final. Coisas que não poderíamos conversar por telefone, mas aqui podemos...

Emilie procura um lugar para se sentar em frente à Terry, e espera atenta e paciente ele começar a falar. Já fazia ideia da grande capacidade do hacker em obter informações e não precisa de muito para entender porque os Nosferatus se incomodavam com isso.

Saber da origem de Constantine, contudo, deixa Emilie boquiaberta. Não sabia quase nada sobre magos, mas sabia que eram poderosas, como o malkaviano sempre parecera ser. Escuta, com bastante interesse, sobre o Reino Cibernético. fascinada em pensar na existência de um plano onde a tecnologia tinha origem. A habilidade de Terry não era simplesmente um alto conhecimento técnico, mas sua ligação tão profunda com este plano tecnológico, e deduziu que a propria visão em códigos que ele tinha poderia estar relacionada a isso.
- Um conhecimento grande demais para uma mente suportar, mesmo uma mente resistente aos anos como é a nossa. Uma hora ela se sobrecarrega e precisa de alívio. Não é possível ser racional o tempo todo. - coloca suavemente a malkaviana - ter aberto nossas mentes para uma sabedoria grande demais, até insuportável, e nos quebrando em consequência é algo que todos os membros de nosso clã têm em comum. Independente de nossa origem. - sorri de leve, acolhedora.

As informações do irmão de clã vão ficando cada vez mais preocupantes, deixando os nosferatus longe de serem os inimigos mais perigosos de Constantine. A Tecnocracia é outra organização desconhecida por Emilie, mas pelo que Terry dizia, a capacidade deles é enorme, a ponto do malkaviano só poder se esconder deles em um lugar só. Seus olhos refletem tensos sobre as dificuldades dele.
- Então você não pode aceitar o cargo de Mestre das Harpias. Recusar diretamente pode ser encarado como uma afronta por toda a corte, mas se você abdicar em favor de alguém... isso pode soar mais diplomático. O ideal seria que você fizesse isso por um membro do clã, mas como somos só nós dois... - suspira melancólica - eu preferia não acumular outro cargo além de Primógena, mas posso fazer isso se você achar necessário. Contudo, se houver algum outro vampiro de sua confiança que você achar que mereça o cargo, podemos negociar com ele.

Balança os ombros, reconhecendo.
- São revelações muito preocupantes as que você me fez, surpreendentes, principalmente, e no momento mais apropriado eu vou querer fazer muitas perguntas você, mas antes de qualquer coisa, eu quero ajudá-lo, de todas as formas que eu puder.

Seu olhar continua olhando o dele, prestativo.

Emilie sorri diante da observação de Terry.

- Eu acho que isso pode funcionar. Você já tem o que é preciso para ser um Mestre de Harpias: informações e segredos. Você pode escolher algumas harpias, passar uma informação pra uma, outra para outra e deixar que elas façam suas fofocas no Elísio. Nas cortes por quais eu passei um Mestre de Harpias costumava ser alguém que também já foi uma harpia, então, eles costumavam ficar por perto do Elísio, mas aqui ainda estamos construindo uma Camarilla, então, podemos testar métodos... e se os noferatus não gostarem de sua forma de trabalhar, que escolham outro para o cargo - dá um sorriso, algo malicioso - tenho certeza que eles não poderão te acusar de não estar cumprindo suas funções, se estiver bem conduzindo todas elas.

Emilie retribui o sorriso, com toda a disposição em ajudar, e acenando afirmativamente quando ele lhe pede para montar pessoalmente o time.

- Acho que três é um bom número, considerando que nossa corte não é muito grande. Os vampiros que eu mais confio nessa cidade já têm cargos que demandam muito trabalho, e não acho que se interessariam em acumular o de harpia. Porém, há dois recém-chegados que eu acredito que eu possa trazer para o nosso lado. Um deles é um toreador, Henry Lee-Sung, um violinista oriental, com quem eu tive uma conversa muito agradável. Por mais que eu não confie muito na maioria dos toreadores, é um clã ideal para a função, e como todo recém-chegado, Henry deve estar ansioso para encontrar seu lugar na corte. O outro... - Emilie tenta lembrar o nome que Michael Collins estava usando - é Richard O'Brien. Um brujah irlandês que eu já conheço pessoalmente. Combatemos juntos contra o Sabá no sul da Irlanda, ainda nos meus tempos de neófita. Acredito que ele irá querer assumir uma função semelhante no Rio de Janeiro, junto ao xerife e aos delegados, mas pode não descartar a ideia...

Seria uma opção arriscada, considerando os objetivos anarquistas de Mick, mas poderia ser útil, se os dois concordassem em compartilhar informações. Além disso, colocar o brujah para atuar na corte poderia limitar a atuação anarquista dele, pelo menos um pouco.

- Digamos que Richard não é... um grande entusiasta da Camarilla... e acho que podemos usar isso ao nosso favor...

Como Terry aprova suas escolhas, e deixa tudo nas mãos dela, Emilie apenas confirma.
- Posso tentar falar com os dois na próxima noite e agendar esta reunião no novo Elísio no Hotel Glória. Acredito que a Zeladora Marie-Amélie pode nos reservar uma boa sala. Eu vou te mantendo informado por telefone sobre os meus progressos.

Aproveita que ele estava comentando sobre insatisfações necessárias para acrescentar.
- E assumir seu cargo perante a príncipe. - dá um suspiro, aborrecido - tenho também que informar sobre a morte de John Smith. Ela já deve saber, a essa altura, mas é bom que haja uma comunicação oficial do clã.

- Se já não tiver morrido também... - atalha sombriamente.

Era curioso pensar que nem mesmo Terry, de quem dependia da hospitalidade, era totalmente confiável. Também não acreditava que o irmão de clã confiasse totalmente nela.
- Sim, é muito difícil...

Levanta-se de onde estava, olhando para Terry com um tom de despedida.
- Amanhã então eu te encontro, na primeira hora da noite, para irmos até a máquina... - respira fundo. A ideia ainda lhe exigia coragem. - obrigada pela hospitalidade, Terry, e por toda a sua ajuda.

Estava tarde e já estava com sono. Imaginou que seu irmão de clã também.

Caindo de sono, Emilie se senta na cama, com o celular na mão. Resiste por uns minutos a vontade de dormir para mandar uma mensagem de texto para Marie-Amélie, e assim que recebe a confirmação de envio, deixa o aparelho de lado e rende-se ao descanso diurno.

Assim que Emilie acorda, e a confusão do sono lhe abandona, ela se lembra que pedira à Constantine para ser colocada na máquina, para tentar ajudar em sua busca por respostas.

O pensamento lhe dava calafrios, ainda mais tão cedo da noite.

Espreguiçando-se, achou seu celular ainda na cama e decidiu conferir se não tinha nenhuma ligação ou mensagem, então, com um suspiro conformado, colocou o aparelho no bolso e se levantou, saindo do quarto para procurar Constantine.

Emilie encostou seu ombro na entrada da sala da máquina, ainda tentando tomar coragem com a ideia de usá-la, antes de abordar seu irmão de clã.

- Terry... você precisa de ajuda? - não tinha metade do conhecimento técnico do hacker, mas quis ser solícita, depois de ver como ele estava sujo e cansado.

'- Não, querida. Apenas se acomode na cadeira de transmissão. Tudo está quase pronto.' - diz Terry, mexendo em mecanismos que pareciam super estranhos para a Lunática.

Resignada, a malkaviana caminha até a cadeira, esperando não se arrepender de sua decisão. Sensa-se devagar, sabendo que era desconfortável, e dessa vez sem alarde, posiciona seus braços sobre os da cadeira, esperando eles a prenderem.