Ruas - Zona Oeste

A estação em que desceram dava acesso a uma rua longa a partir da qual os dois Garou conseguem sair das ruas mais habitadas. Ele ia conversando com Cabelinho e, em determinado momento, se põe sobre quatro patas. Já não havia mais perigo de romper o Véu.

Em forma de lobo, ele segue para as áreas menos habitadas, indo direto para as áreas de fazendas. Em determinado ponto, tenta sentir a presença de algum animal que pudesse servir de caça, uma anta ou mesmo uma capivara grande. Qualquer coisa servia... ele nunca tinha comido um animal selvagem e já que deveria comer um no café da manhã, não se importaria muito com a espécie... contanto que não estivesse em ameaça de extinção.

Espera para sentir a direção do vento e pára de forma a sentir algum rastro.

_Sente algo? - pergunta para o Ragabash. Rastrear era uma função daquele augúrio, pelo o que se lembrava.

Off: tenta sentir o cheiro de algum animal, mesmo de fazenda, tipo um boi

A viagem tinha sido muito rápida. Logo chegam ao bairro que ainda parecia meio rural. Cabelinho conhecia alguma coisa daquele local das conversas que tinha com os catadores que eram seus amigos, mas era tudo. Quando viu que Dimas tomara a forma lupina, Cabelinho também o faz e o segue para as áreas mais desabitadas.

-Ali.....tem um monte de bois e vacas dormindo no pasto. O problema é o seguinte....a guarita e a cerca eletrificada. Sabe alguma coisa sobre fazer alguém dormir?

Depois ele olha em volta e continua:

-Eu sei como ficar meio invisível para o guarda....mas não consigo estender isso a você. Eu poderia entrar lá sozinho e matar o boi.....daí eu posso aparecer para o cara da guarita e você poderia nocauteá-lo.....o que acha da ideia?

_Hum... se você consegue ficar meio invisível, entre na guarita e pegue a arma dele. Vai ficar mais fácil lidar com ele desarmado. Aproveite para pegar algum comunicador ou celular que ele tenha. De dentro da cabine pode ter algum sistema que desarme a cerca elétrica. E eu estava pensando em pegarmos um bezerro... ainda é maior que você, não daremos tanto prejuízo ao dono e será mais fácil levar pro ponto de encontro.

Olha para a cabine.

_Eu te dou cobertura. Você consegue fazer isso?

Cabelinho ouve o que Dimas tem a dizer e o responde:

-Tudo bem. Espera um pouquinho que eu vou usar o Dom.

Ele faz uso do Dom, mas nada acontece. É óbvio que Cabelinho achava que seu Dom iria funcionar, mas não funcionou desta vez e acha isso estranho.

-Não funcionou. Não consegui Dimas....alguma coisa deu errado e o Dom não funcionou.

Ainda estava em lupino.

-Droga.....mudança de planos? Posso tentar a furtividade para invadir a guarita e tentar desarmar o homem.....ou tem outra ideia?

Não havia acontecido nada, Cabelinho ainda estava ali. O dom de adormecer era realmente uma boa ideia... se existir algum, Dimas tentaria aprender.

_Não tenho um plano B. O vigia parece estar dormindo, mas vai logo acordar quando o bezerro mugir com seu ataque. Temos de entrar lá, pegar a arma e tentar desarmar a cerca elétrica. Eu vou ficar do lado, se ele acordar, eu entro para te ajudar. Tente usar o dom novamente, se não der, siga o mais discretamente possível.

O lobo começa a caminhar, discretamente, até a guarita.

Mensagem para Xica da Silva:

(mensagem) Bela Rosa, aconteceram infinitos problemas, mas as rosas estão reunidas. Siga para o endereço X, perto do lugar X. Não tem como errar. Já lhe devo muitas desculpas. N.L.

Assim que recebe a mensagem de Natanael ela ordena que José leve o carro até o endereço da capela.

-Tudo bem Dimas. Vamos lá.

Cabelinho resolve não tentar utilizar o dom desta vez. Sabia ser furtivo de vez em quando e rezava para que desta vez ele não fosse visto. Na forma lupina ele segue furtivamente na direção da guarita para pelo menos tentar desligar a cerca, ou mesmo desarmar o homem. Se fosse preciso ele poderia até atacar o tal segurança para desmaiá-lo. Ou se o segurança fosse medroso ele poderia até desmaiar ao ver Cabelinho.

Rasgar o Véu não era uma opção. Poderiam simplesmente aparecer em Crinos e fazer o vigia fugir ou desmaiar, mas isso poderia virar algo bem mais perigoso. Era melhor tentarem do jeito mais difícil.

_Siga contra o vento, para que o rebanho não se assuste com o nosso cheiro.

Não sabia nada sobre caçadas, mas costumava assistir canais educativos. Seguiu, furtivamente, junto com Cabelinho. Ia ficar do lado da guarita pra caso algo saísse errado. Enquanto isso, procurava onde estavam os bezerros. Os filhotes costumam ficar à parte em algumas fazendas.

Era estranho. Realmente estranho. O homem que estava dentro da guarita estava em sono pesado ou estava morto. Só podia. Mas pensando bem, às vezes Cabelinho ficava tão hipnotizado pelos televisores nas vitrines que parecia que estava hipnotizado. Se estivesse em hominídeo, poderia até rir daquela situação.

Perceberam que a cerca era fechada por uma corrente e um cadeado. Pulá-la não seria problema, mas se ele se desse mal iria chamar muita atenção. Como eram duas da manhã, o segurança bem que poderia estar dormindo mesmo. Ficou contra o vento, seguindo o conselho de Dimas.

Ia seguindo na frente e quando chega à porta da guarita, a abre devagar com as patas e deixa apenas uma fresta para que ele observe um pouco. Depois a abre devagar até finalmente ver tudo o que estava lá dentro. Se o segurança estivesse acordado, Cabelinho iria atacá-lo para assustá-lo, mas antes precisava ver a reação dele.

Espera para ver o que Cabelinho conseguirá, mas já vai pensando em um plano B. Ali, ao lado da guarita, Dimas perfura a Película com o olhar e espia do outro lado para ver como era a Penumbra do local. A área era rural, logo, esperava não encontrar muitas teias nem, muito menos, Malditos.

Off: Espiar a Penumbra.

* Esquecido dirigia pelas ruas da zona oeste em silencio. O Roedor que normalmente era tão falante e fanfarrão agora se retraia para a solidão de sua mente. Havia sido um dia pesado, sem duvidas, e o ultimo episódio ainda estava entalado em sua garganta. Negociara com Spyware e havia deixado o hospital enraivecido e vencido. A sensação de fracasso ainda estava amarga em sua boca, azedando seu estômago, e essa sensação aumentava toda a vez que o Ahroun se lembrava de que algo não se encaixava.. havia negociado as cegas e sua intuição lhe dizia que, por algum motivo que ainda não conseguia compreender, falhara com sua matilha. No final das contas, tentou ser razoável e manter a calma única e exclusivamente porque agora tinha a responsabilidade pesando sobre os ombros. Havia se tornado líder tribal e acumulava a função de alpha de uma matilha.. e isso significava que, se quisesse preservar aqueles que comandava, deveria segurar seu ímpeto. De uma forma ou de outra.. ainda estava raivoso e só pensava em duas coisas que poderiam abrandar o que sentia: *

" Cerveja ou alguem pra eu arrebenta a cara.. tanto faz.. "

* Mas dirigir também o acalmava. Talvez a direção o fizesse se lembrar que ultrapassara em muito a linha da miséria.. ou talvez a sensação de estar no comando de uma maquina que funcionava como deveria funcionar fosse o motivo.. .. mas os motivos não importavam, embora os efeitos benéficos sim. Aquilo o fez se lembrar de seus irmãos de matilha. Muita coisa havia dado errado naquela noite.. a mesma noite em que assumira a liderança. Era estranho para o Roedor pensar que tudo aquilo havia ocorrido ainda naquele mesmo dia.. parecia que fazia tanto tempo.. *

" Um dia de merda.. uma porra dum dia de merda.. "

* Após longos instantes de silencio, vira-se para Mayra pela primeira vez, olhando-a brevemente antes de voltar sua atenção para o percurso que seguia. A Fianna poderia sentir a tensão emanada do Roedor durante todo aquele período silencioso.. mas agora, tão súbito quanto começara, o silencio era rompido: *

- Amaldiçoado ou não.. essa porra desse lugar me dexo bem enrabado..

* Sua voz se projetava indignada, e o alpha não sabia porque falava.. mas mesmo assim continua: *

- Não sai da minha cabeça que tem mais ali do que achava que tinha, tá ligada.. que dia de merda do caralho!

* Talvez estivesse exteriorizando sua frustração naquelas palavras e muito provavelmente Mayra não tinha a obrigação de escutar.. de qualquer forma, sentia que ela lhe compreendia. Apesar das desavenças, a Fianna sempre havia sido uma das únicas pessoas capazes de entende-lo. Continuava dirigindo sem direção pelas ruas, apenas para sentir o cenário mudando ao seu redor. Comenta: *

- Vamo fazê uma ronda aqui na nossa quebrada.. ia sê bom encher a mão na cara de um filho da puta qualquer..

* Dirigia rápido, mas não o suficiente para deixar o percurso alarmante para Mayra, que não se sentia confortável em veículos. Para em um semaforo vermelho e aproveita a oportunidade para olhar para Mayra de maneira mais intensa. Se demora nos traços da Fianna e quase se perde naqueles olhos claros tão evidenciados pelos cabelos avermelhados. Avaliando Mayra como uma das únicas pessoas que ainda lhe importavam a nivel pessoal, sente a necessidade de explicar: *

- ... e mal aí por num fala que cê num tem mais nada comigo lá dentro. Num achei que eu tinha que fica explicando nada pra ninguem.. e na real, de qualqué forma eu acho que nem queria ter que fala isso..

Ainda em lupino, Cabelinho consegue abrir a porta da guarita. Ele vê o homem dormindo, munido de uma, escopeta? Mudou para hominídeo e percebeu que a TV passava um daqueles filmes bem antigos.

Em hominídeo, ele tenta pegar a escopeta sem chamar atenção do segurança. Caso ele acordasse, Cabelinho tentaria desmaiá-lo jogando a televisão na cabeça dele.

Ouvia as palavras de Julian e concordava com ele. Parecia haver algo ali, mas no fundo ainda sentia um alívio interno por se afastar daquele espaço que só lhe trazia recordações ruins. Diante das palavras de Julian sobre não ter negado o relacionamento de ambos que não mais existia, a Fianna apenas diz de modo bem sincero e prático:

- Não se preocupe. Se fosse necessário eu mesma tinha desmentido. Ninguém tem nada a ver com o que fazemos ou deixamos de fazer e não necessitamos dar satisfações ou ficar explicando nossa vida para quem quer que seja.

A viagem segue no carro e Mayra concorda com a cabeça com a ideia de uma ronda. Seria bom para espairecer e diminuir a tensão, mas como o assunto não havia ainda sido esgotado a Fianna comenta:

- Eu tive a mesma impressão que você naquele lugar, mas no fim das contas, dos males o menor. Está nas mãos de seres de Gaia, de uma tribo com quem ainda dá para tentar manter uma relação e com um pouco de sorte e uma diplomacia bem pensada e trabalhada podemos acabar conseguindo tirar algo de bom disso tudo.

A Fianna olha pra Julian pelo espelho do carro e diz:

- Não se martirize por um dia ruim, Julian. Todos nós temos dias ruins e esse foi um dia ruim para toda a matilha. Meu dia também foi péssimo, não tenho nenhum motivo para estar feliz ou satisfeita. Desde que eu acordei tudo, absolutamente tudo deu errado, mas não vou abaixar a cabeça por conta disso. E nem você deve! Vamos focar em fazer com que amanhã seja um outro dia. Um dia melhor e um dia de vitórias.

Felizmente o reflexo daquela região estava imaculado e sem vestígios da Weaver. Dimas gostou de contemplar um local tão puro e quase se esqueceu de que estava em meio a uma caçada. Voltou seu olhar para ver o que Cabelinho estava fazendo. Caso desse algo errado, percorreria atalhos e levaria o ragabash consigo, já que agora eram da mesma Matilha. Se não conseguissem desativar a cerca elétrica, passariam para a Penumbra e, assim, chegariam de surpresa próximo aos bezerros. O plano parecia bom, agora, restava só esperar a ação de Paulo.

Havia um espírito-vaca sozinho. Era um bom alvo. No entanto, a Doninha tinha sido clara quando disse que a caça deveria servir de alimento e Dimas havia interpretado como alimento físico e não só espiritual. O jeito era voltar ao plano inicial.

Quando Cabelinho pega a escopeta, ele pensa:

”Mais fácil que tirar doce de criança. Este cara está dormindo mesmo. Droga...queria enfiar esta televisão na cabeça dele. Nunca vi filme tão ruim quanto esse aí.”

Então ele vai saindo da guarita, mas se lembra de verificar o que Dimas tinha lhe pedido. Ele olha em volta buscando um tipo de comunicador ou celular. E tenta verificar também se havia algum botão ou alguma coisa que pudesse desativar a cerca elétrica do sítio. Além, é claro, de câmeras próximas.

Caso encontrasse algum comunicador/celular, tentaria tirá-lo do segurança dorminhoco. Se encontrasse um botão ou coisa parecida para desativar a cerca, ele o apertaria. Tudo bem silencioso e sem chamar a atenção.

* Julian dirigia e meramente escuta o tom prático de Mayra ao abordar o assunto sobre o relacionamento (ou ex relacionamento) de ambos. Responde tentando parecer casual: *

- Lembra de quando mandamo a letra de que tavamo junto?! Acho que depois daquilo nem precisa mais explicá nada mexmo. Geral fico enchendo a porra do nosso saco, a philodoxada fico loca..

* Simplesmente esboça um pequeno sorriso que não podia ser chamado de animado, mas que traía o divertimento de alguém que se lembra das coisas socialmente reprováveis que já havia feito na vida. Lembrava-se claramente da desaprovação geral e ainda assim ambos haviam sido bastante felizes com as escolhas que muitos reprovavam. Era engraçado pensar nisso agora.. *

- Parece que essa fita faiz tanto tempo...

* Olha para a Fianna ao seu lado por um breve instante, deixando que ela vislumbrasse o divertimento leve de um transgressor que não tinha vergonha de descumprir uma lei e, em seguida, volta a mira o percurso. Ambos haviam passado por muitas coisas juntos e haviam crescido com o passar do tempo. Julian não sabia bem se havia se tornado uma pessoa ou um Garou melhor.. certamente a mesma violência de sempre queimava em seu peito e o impulsionava.. talvez tivesse se tornado uma pessoa que apanhou demais da vida e que tentava manter-se caminhando.. mas sentia que a dor por tudo que já havia sofrido adicionava um peso aos seus ombros que não tinha antes. Imaginava que alguns chamavam isso de maturidade.. ele próprio, entendia isso como um conceito distorcido de responsabilidade. Mayra, por outro lado, havia crescido para se tornar uma mulher forte e sabia. Enxergava a Fianna como uma grande fortaleza que deixava as muralhas enfeitadas com flores de um tom vermelho triste, mas inegavelmente belas. Ainda assim, ninguém poderia em sã consciência se enganar: a guria era uma lutadora, e das melhores que já havia visto. Sentia um certo saudosismo ao pensar em tudo isso, embora não desejasse se embrenhar em um terreno tão acidentado naquele momento. Foi salvo pela própria Mayra, que comentava que a perda do hospital era um mal menor.. e Esquecido se aproveita das palavras para fugir de seus próprios pensamentos e dizer, em tom descontraído: *

- Pode ser.. mas a real é que devo ser um "diplomatico" de merda. Negada gosta de complicar muito.. mas se pah eu vejo as coisas simples demais..

* Mayra conhecia Julian o suficiente para saber que ele era um sujeito direto e não muito calculista. Também conhecia o suficiente para saber que o Roedor não se importava nem um pouco com a auto-critica, por acreditar que seu mundo era melhor do jeito que estava. Palavras de incentivo preenchem o vazio que havia entre eles naquele veículo, dizendo basicamente que dias melhores viriam para todos eles. Ainda assim, não consegue deixar de pensar em tom agourento: *

" E se amanha num for um dia melhor.. então acho que vamo morre geral.. "

* Iriam invadir uma colméia no dia seguinte e Esquecido não duvidava de que a luta seria dura. Se o azar desta noite se prolongasse para o próximo dia, antevia um final sangrento para a história de sua matilha. Mas não diria isso, talvez por pensar que poderia mudar aquele destino desgraçado. Limita-se a esconder seu mau agouro com palavras mais leves e, talvez, até divertidas: *

- Nem tudo deu errado, ruiva. Eu voltei do inferno pra continuar encheno teu saco..

* Sorria agora mais abertamente, sabendo que provocava a Fianna ao falar aquilo.. e o Roedor era definitivamente uma alma provocadora. Ainda sorrindo, já começando a esquecer os problemas gerados naquele hospital amaldiçoado, adiciona: *

- Amanha vamo fazê essa porra dar certo mexmo e vamo mata uma caralhada de dançarino. É só olhar pá mim que dá pra vê como eu sô sortudo. To dirigindo um carrão e tenho uma puta ruiva gata do lado. Vai dar certo..

* Fazia a piada a titulo de amenizar a tensão da conversa que estava tomando um rumo pesado demais e, na visão do roedor, sério demais.. o que era pior ainda. Encerra fazendo uma pergunta simples e despreocupada enquanto seguia fazendo sua ronda pelas ruas da Zona Oeste, correndo os olhos ao redor em busca de algo que denunciasse problemas: *

- Mas diz aê.. que cê acha da matilha!?

O sol estava próximo de aparecer... uma ou duas horas no máximo. Não podiam demorar, afinal, os animais acordam muito cedo e o rebanho inteiro mugindo pela presença de dois predadores não era algo que Dimas queria. Ele olha apreensivo para as ações de Cabelinho e diz, rosnando baixo, na língua dos lobos:

***_Vem, vamos pela Umbra.***

Mayra ouvia tudo que Julian dizia alternando expressões entre a seriedade e um sorriso que a Fianna luta pra conter após alguns comentários do Roedor. Era complicado odiar e ter tanto afeto por uma pessoa como ela tinha com Julian e mais complicado ainda ter que lidar com uma situação onde ela tinha que engolir tudo a seco para o bem da matilha.

Tentando se focar nos prédios que passavam e se perdiam com o avançar do carro, a Fianna começa a responder dizendo:

- Somos Ahrouns, diplomatas são os Galliards. Você fez o seu melhor e estava diante de um Ragabash de posto elevado determinado a jogar com as palavras para conseguir o que queria. Não sabemos o motivo, mas você foi firme, decidido e evitou uma crise. Foi bem. Não se culpe. E no fim das contas, dos males o menor, pela primeira vez desde que tomamos conhecimento desse local são forças de Gaia que o controlam e isso, por si só, já é um alívio.

Tentava aliviar o peso sobre as costas de Julian, embora tivesse preocupações com os planos dos Andarilhos. Não que duvidasse da lealdade da tribo à Gaia e à Seita, mas porque uma discussão terminada como terminou levantava suspeitas que não saíam facilmente do inconsciente de quem a presenciou.

Após mais alguns instantes de silêncio, e depois de não ter como conter o sorriso quando Julian faz sua última gracinha, a Fianna em um esforço hercúleo volta a expressão séria e diz:

- Com relação à matilha, no entanto, eu acho que temos problemas.

Dessa vez, Mayra não olha para o lado de fora. Seu foco era Julian, a quem observava pelo espelho do carro enquanto falava:

- Nossa matilha se enfraqueceu. Perdemos Amir que apesar de limitado era um curandeiro de primeira linha; perdemos Kiba que era um Garou determinado e leal; perdemos Ellen que mesmo com seu jeito maluco parecia ser talentosa e saber se virar e ganhamos um bando.

Mayra ri do seu comentário sobre o bando mas explica:

- Não senti firmeza em nenhum dos novos membros. O Senhor das Sombras da noite passado me surpreendeu, ele parece ter futuro e pode ser um grande membro da matilha. O Theurge Uktena eu nem sei explicar o que pensar sobre ele, algo nele me causa náuseas mas pode ser apenas implicância pessoal e eu quero evitar julgá-lo até ter certeza que o conheço de verdade. O Galliard parece bem intencionado mas é um desastre quando abre a boca e isso é péssimo para um Galliard. O Ragabash, um covarde. E Dimas... bem, Dimas pode substituir Amir, só não sei se na mesma qualidade ainda.

A Fianna busca os olhos de Julian através do espelho e evoca a conversa com Balik:

- Eu conversei com Balik na floresta e depois de pensar muito nas ponderações dele, acredito que devemos dividir a matilha em dois grupos. O primeiro para ações e missões simples além de treinamento. Não estão prontos para nada enquanto não aprenderem a conviver. As questões complexas deveríamos concentrar em mim, você, Kor, Amanda e Balik que já temos mais experiência e somos menos problemáticos.

Ele quase morre do coração quando Dimas chega falando lupinês com ele. Estava tão concentrado em procurar as chaves, câmeras e um botão qualquer que nem tinha percebido que ele ainda estava em lupino. Virou-se para Dimas e foi saindo da guarita devagar, fechou a porta cuidadosamente e guardou a escopeta na mochila.

Mudou para Lupino e então disse em lupinês:

-Quase me matou de susto Dimas. Mas peguei a escopeta dele.

Esperava Dimas ir na frente.

Quando Cabelinho de Fogo volta e fecha a porta, Dimas dá alguns passos para se distanciar da guarita, mas ainda diz em tom baixo:

_Bom trabalho e me desculpe por assustá-lo, mas olhei a Penumbra e ela está calma, podemos usá-la para atravessar a cerca sem problemas. Depois, saltamos para o Mundo Físico novamente e você pega algum dos bezerros e o coloca na sua mochila. Não temos muito tempo pois o rebanho pode acordar antes do amanhecer...

Ele olha procurando o lugar onde ficavam os bezerros e quando o encontra dá um passo à frente, mas rompendo com a Película que separava os mundos... como eram da mesma Matilha, Cabelinho poderia segui-lo.

_Vamos. - diz o lobo.

Logo estavam no reflexo da fazenda. A vaca que pastava adiante demonstrava que aquele lugar estaria criando novilhos há muito tempo...