Hotel Glória - bairro da Glória

Anoto o nome e o endereço do hotel em um pedaço de papel, mantendo o celular no ouvido enquanto apoiava-o no ombro, numa desconfortável posição:
- Hotel Glória... Certo. Termino de anotar, voltando a pegar o celular. - Acredito que até 19 horas consigo chegar no hotel, se o taxista correr... O mais tardar, talvez, 19 e 30 minutos... Falo no celular, já separando as roupas, maquiagem e aparelhos para dar um "up" na aparência...

Antes que pudesse de fato abrir a porta do local onde passara o dia, Henry o impede, de uma forma um pouco agressiva, na visão do Toreador. Arqueou a sobrancelha esquerda em tom de interrogação. O nome Vincent sai da boca do sobrinho pela primeira vez desde que ele chegara. Junto com isso um sorriso carismático, sem falsidades, sem ponderações e sem nenhum tipo de sentimento que poderia estar sendo feito de forma teatral. Henry pode perceber que Vincent gostara de ser chamado apenas por Vincent.

O pintor ouve tudo que o sobrinho diz e não se move. Na verdade parecia uma estátua no meio de um jardim de verão, apenas aproveitando o vislumbre do sol, da grama, das flores e aproveitando a brisa que tocava seu rosto. Depois que seu irmão de clã termina de fato suas falas, Vincent o responde com uma calma latente, quase sobrenatural:

-Pode me chamar de Vincent quando estivermos sozinhos ou na presença de Alanys. Não há porque ter formalidades para comigo, já que é da família.

Sorriu rapidamente e voltou a ter um tom menos carismático, mais ponderado e sério:

-Entendo perfeitamente o que quer dizer em levantar hipóteses das quais não tem certeza. Mas já me deu algo para trabalhar junto ao monsieur França. E não pense que não tem credibilidade somente por ter chegado ontem na cidade. Todo cainita é importante, mesmo os recém chegados. E pelo que parece você estava no lugar certo, na hora certa.

Se aproximou de Henry e o abraçou enquanto seus neurônios fervilhavam em constante excitação. O Primógeno estava desconfiado de alguma coisa que pudesse existir entre Guille e Xica da Silva por ele ter deixado ela escapar. Talvez algo que ela sabia que não poderia vir à tona e que fez com que o Delegado a deixasse escapar. A morte final dela poderia vir a calhar e com isso o segredo de Guille estaria morto e enterrado, literalmente.

”Maldição. Achei que poderia confiar em Guille. Mas o que ele poderia ter feito de tão grave para tirar a não vida de um irmão de clã? E Xica da Silva conseguira tal informação com a Legião? Arikel...ilumine minha mente e me mostre como seguir este caminho tortuoso. Não quero começar a apelar para Deus. Não ainda.”

-Por enquanto vamos deixar isso para lá. Tenho ciência dos ouvidos a todo lugar e podemos continuar esta conversa depois.

Desfez o abraço e segurou os ombros do sobrinho, completando:

-Já que deseja me ajudar nas atribuições das quais a Torre me incumbiu, não vou recusar ajuda. São muitas atribuições e pretendo começar pelo prédio incendiado de monsieur Haulot, membro de nosso clã que estava visado para ser Primógeno. Mas esteja preparado para tudo. Esta cidade está um caos constante e nunca sabemos quando a próxima bomba poderá explodir.

Olhou nos olhos de Henry com profunda seriedade:

-Mesmo estando aqui para servir ao clã e aperfeiçoar a sua música, creio que terá que aperfeiçoar outras qualidades das quais não está acostumado. Espero poder contar com você para isso. E tenha certeza que pode contar comigo para qualquer coisa que precisar.

Desta vez se encaminhou na direção da porta, mas antes de abrir, disse por fim:

-Me acompanhe na investigação do prédio de monsieur Haulot. Acredito que podemos ter um avanço considerável neste assunto, ainda esta noite. Também marcarei um encontro com um mortal do qual pretendo transformar em meu lacaio e um encontro com monsieur França. Mas este último é melhor que eu vá sozinho. Se é que me entende.

Aguardou a resposta do sobrinho para partirem de fato ao prédio de onde vivia Thomas Haulot.

- Sim.

Respondeu Lupinatti enquanto fechava a porta logo depois que Jessica havia entrado. O Tremere acompanhou a Ventrue com os olhos enquanto ele mesmo caminhava em direção a janela.

Durante o caminho, Lupinatti olhou para o envelope que Jessica carregava em suas mãos e questionou:

- É isso que quer me mostrar?

O Tremere estava curioso, inquestionavelmente curioso, mas esperava que a Ventrue tivesse realmente uma carta boa para jogar, uma vez que a Príncipe já havia apoiado a “reconciliação” com as bestas.

King continua aguardando pacientemente ser recepcionado. Enquanto esperava, o Ventrue voltou a ler seu livro sobre a culinária local. Estava doido para provar o sangue com sabor de feijoada e da virada paulista.

Julian permaneceu ao lado de seu senhor, esperando novas pacientemente enquanto admirava a decoração do hotel.

Após falar se surpreendeu com atitude de Vincent, primeiro por sua abertura intimista com sorriso ao permitir que o chamasse pelo nome e considerar família, e em seguida numa seriedade como se não tivesse dito nada anteriormente. Eram mudanças de postura rápidas.
O jovem coreano apenas acena com a cabeça a todo momento em sinal de positivo que entendera e concordara com as palavras de Vincent e quando ele terminou o garoto finalmente levantou a voz com um sorriso:
- Eu agradeço a confiança e espero ser de ajuda... – fez uma pequena reverência com o corpo – Bom,e Vincent, se estamos de saída, deveria eu já levar comigo minha bagagem, ou voltaremos aqui ainda esta noite? – ainda tinha um pouco de dúvidas sobre o curso de ações do primógeno.

-Não será de grande ajuda. Já o está sendo.

Abriu a porta sem responder sobre as bagagens de Henry. Alanys aguardava no corredor. Ela sabia que seu senhor queria falar a sós com Henry. Virou-se para o oriental e comentou:

-Algum problema se Alanys levar sua bagagem?

A carniçal aparece na porta e sorri ao oriental, fazendo uma reverência. A lacaia era fantástica no trato com as pessoas e se adaptava muito bem em qualquer situação social.

Como ninguém chegava na sala, Andreas resolveu abrir um livro encontrado na internet de francês. Estava querendo aprender a língua nos próximos dias e todo tempo ocioso estava sendo direcionado para o aprendizado do feiticeiro.

Preferia ter os livros da Capela disponíveis para estudo das Linhas Taumatúrgicas, mas não achou prudente fazer uma cópia e deixar em seu aparelho de celular.

O coreano fez sinal de afirmativo com a cabeça e seu um leve sorriso sincero a Vincent. Mas tomou uma expressão mais sério ao se surpreender com Alanys esperando do outro lado da porta, achou que tivesse saído.
Respondeu a reverência dela com outra e um sorriso.
- Creio não haver nenhum problema... Além do trabalho que darei a mademoiselle Alanys.
Para por um instante e então coloca um dedo sobre o lábio como se estivesse pensando.
- Ah! Pode levar tudo, mas eu prefiro levar o violino comigo... Se não se importarem... Só um instante por favor...
Seguiu par ao quarto mostrando a Alanys pegando seu violino em sua maleta própria, e deixando a mala de viagem sobre a cama. Retorna e deixa a chave do quarto nas mãos de Alanis.
-Aqui está e obrigado por todo o seu trabalho. - fez outra reverencia a ela e então se pôs ao lado de Vincent.

Alanys segue Henry até o quarto do qual ele passara o dia enquanto Vincent fechava a porta do quarto onde ele próprio dormira. Confere se tinha pegado seu celular, as chaves do carro e sua carteira antes de se dar conta de que Henry já retornava, mas sem a presença de Alanys que provavelmente se encarregaria das malas do oriental.

-Então está tudo acertado. Podemos partir ao endereço de monsieur Haulot.

Caminhou pelo corredor e quando passou pelo quarto de Henry, viu que sua carniçal já pegava uma única mala do oriental. Disse para ela, muito simpático.

-Obrigado querida. Nos vemos mais tarde.

E segue corredor afora. Deixa a chave do aposento na recepção do Hotel Glória, esperando que Henry o acompanhasse e depois solicita seu automóvel. Assim que chega o carro, Vincent toma o volante e aguarda que Henry adentrasse o veículo para partirem ao prédio do qual Thomas tinha como refúgio.

OFF – Próximo Post – Ruas da Zona Sul.

Carregando seu violino o coreano apenas seguia Vincent pelas dependências do hotel da mesmo forma que fizera antes quando foi apresentado a príncipe, seguindo os passo do primógino de perto, parecendo o patinho seguindo a mãe pata.
Ao chegar ao carro quase por instinto Henry entra no banco traseiro, mas aquilo seria indelicado para com Vincent, ele não era seu motorista. Então toma o acento ao lado do motorista esperando sem saber para onde iriam. Pelo menos poderia ver um pouco da paisagem do local.

(( OFF – Próximo Post – Ruas da Zona Sul.))

O Tremere não esconde a surpresa de saber que a Ventrue era descendente dos lobisomens. Inevitavelmente imaginou que Jessica poderia se tratar de uma agente dupla, mas para ter certeza teria que dar uma boa olhada naquele projeto e saber se ela estava tentando faze-lo de bobo ou não.

Lupinatti abriu calmamente o envelope e encontrou dentro dele um pendrive.

"Maldição..."

Teria que acessar um computador para saber o real conteúdo daquele objeto. Pacientemente Lupinatti voltou a guardar o aparelho no envelope e o fechou:

- Sem duvida você tomou uma sabia decisão... Mas eles provavelmente sabem quem roubou os dados? Ou simplesmente só sabem que "alguém" fez isso?

Se Jéssica ficou exposta os lobos logo achariam o rastro dela e se conseguissem pega-la talvez conseguissem chegar a Lupinatti, mas antes de tomar qualquer decisão o Tremere precisava ouvir a resposta da vampira.

King continuava lendo pacientemente seu livro, mas Julian já demonstrava sinais de irritação. Sem conseguir conter o incomodo o carniçal comenta com seu senhor:

- Está demorando...

King ergue seus olhos na direção de Julian e com a voz calma diz:

- Fique calmo velho amigo. Um Primógeno tem muitos afazeres que você simplesmente desconhece. Certamente ela está envolvida em algo importante. Creio que logo nos receberá.

Julian não pareceu muito conformado com a resposta, mas aquiesceu-se o suficiente para que King desse um sorriso de canto de boca e voltasse a ler seu livro.

O Tremere continuava aguardando enquanto estudava francês.

A informação de Jéssica tinha fundamento, mas será que ela tinha tanto ódio das bestas que colocou a própria vida em risco para conseguirem aquela vantagem.

Lupinatti ficou fitando-a por longos instantes em silencio, visivelmente analisando o que ela tinha acabado de dizer. Depois disso guardou o pendrive no bolso da calça e disse:

- Sem duvidas não será. Vou garantir que meus superiores em Viena tenham ciência desta arma e iremos trabalhar nela o quanto antes para torna-la real.

Dito isso ele recosta na parede mais próxima e prosseguiu:

- Eu também tive meus problemas com as bestas, mas obviamente em um nível muito menor do que você. Se quiser ajuda, o Clã Tremere se dispõe a ajudar em sua segurança contra eles. E, se não for pedir muito, gostaria que me contasse o que sabe sobre as bestas.

Toda informação sempre era bem vida, sem duvida, principalmente quando vinda de alguém que vem de dentro do nucleo das bestas.

King continuava a ler seu livro pacientemente enquanto aguardava a recepção da primógena Ventrue. Julian ainda mantinha a cara irritada, mas não voltou a falar sobre sua impaciência.

O carro que levava o bicheiro fanlmente chega ao Hotel Glória. Como já conhecia o local, Bruno desce e caminha para o interior do edifícil. Já no hall do hotel o bicheiro para por um instante conferindo quem estava ali e procurando alguém que pudesse indicar onde encontrar o tal Petrev.

Marie-Amélie ouve as notícias com preocupação, depois dá algumas ordens a Martine para reforçar a segurança e finalmente desce para a recepção.

A bonita mulher de meia-idade, num tailleur cinza e com um escandaloso salto agulha, aproxima-se de King elegantemente, falando com um sotaque francês quase difícil de acompanhar, de tão enrolado.

- Monsieur Asher King? Sou Marie-Amélie Bourdon, peço perdão por tê-lo deixado esperando.

- Está bem. Espero você esse horário. Vejo você, guria.

Filippi já está menos mal-humorado quando termina de se despedir, e quando desliga começa a se vestir, usando a mesma roupa do dia anterior - na verdade a mesma roupa dos três dias anteriores. Pelo menos dessa vez dormira no conforto de um hotel e não na porra de um esgoto.

Bruno avista a ventrue Marie-Amelie no hall do hotel e resolve abordá-la sobre o tal Petrev. Enquanto caminha em sua direção vê a anfitriã abordar um desconhecido com quem inicia uma conversa. O bicheiro aproveita que a conversa apenas se iniciara, como se isso fizesse alguma diferença para ele, e interrompe o casal.

Bruno, que trajava um terno branco com camisa e lenço azul, coloca sua mão sobre o ombro de King para chamar sua atenção e tentar interromper qualquer tentativa de resposta às palavras da Ventrue. Enquanto isso, já puxa assunto com a anfitriã:

”- E aí, realeza. Tudo Tranquilo?”

O bicheiro apresenta a mão e espera que Marie lhe ofereça a mão para ser devidamente e demoradamente beijada.

King lia seu livro tranquilamente quando nota a aproximação de uma bela mulher de meia idade. Assim que se certifica que seus olhares estavam se encontrando, o Ventrue marca a pagina de seu livro e o fecha para poder dar a devida atenção a Primógena.

O ancião estende a mão para cumprimenta-la e assim que iria responder sente uma mão sobre seu ombro. Seus olhos encontram os de Bruno que definitivamente era um desconhecido pra King.

Sem duvida alguma, o foco do interesse do outro vampiro era a Primógena de seu Clã. King então recolhe a mão que iria usar para cumprimentar Marie e diz: com um sorriso no rosto

- Não tem porque pedir perdão Srª Bourdon. Vejo que a noite deve estar movimentada por aqui...

Não é grosseiro em suas palavras, mas principalmente por não saber quem diabos era aquele vampiro é que o Ventrue se manteve neutro. King vestia uma terno esporte fino preto e camisa social branca por baixo. Além disso o ancião era grande, tanto para cima quanto para os lados, devendo medir quase 2 metros de altura e suas mãos pareciam poder esmagar o crânio de um homem comum sem grande esforço.

Lupinatti ouve as explicações de Jessica em silencio, destinando total atenção a Ventrue. Sem duvida eram inimigos poderosos aquelas bestas, mas aparentemente eram vulneráveis à prata como nas lendas. Depois da abertura dada por Jessica o Tremere pediu:

- As armas deles... Me fale sobre elas...

O fato daquelas coisas andarem em bandos era preocupante, mas lembrava-se muito bem que um único deles foi capaz de enfrentar todas as criaturas usadas pelos Tremere. Talvez se aquela besta não tivesse aquela espada, as coisas teriam sido diferentes.