[CAERN] Clareira Central

Por alguns segundos de conversa, Dimas deixou as preocupações e frustrações de lado. Mas Kor chama a sua atenção novamente para o ritual. Era um momento sério e pesaroso para a Matilha. Dimas então se recompõe, apenas lança um olhar para Sopro da Tempestade e se despede:

(Telepatia)_Cãmbio, desligo.

Sua atenção se volta ao ritual.

O Xamã mal tem tempo de pensar sobre o que havia dito, quando vê os rostos chocados dos seus irmãos de matilha. Dereck prontamente se oferece em seu apoio. Claro que com a voz ridícula que estava, parecia que estava zombando dele, e ninguém deu ouvidos. Em seguida Esquecido se manifesta e o Xamã chegou a ter esperanças por um momento que o único Garou que ele respeitava na matilha fosse compreendê-lo. Mas não. Olhou diretamente para Esquecido com sua maior cara de desgosto quando esse falava, mas pareceu que o Roedor nem se abalou. Julgava Sussurros estúpido? Pediu que ele fosse julgado por Amanda? Que tipo de juíza puniria um fillhote recém chegado com a pedra do escárnio, numa lua cheia, ainda mais sendo Ahroun. Não era possível que Esquecido não pudesse ver que tudo foi armado para que ela morresse.

Quando o Theurge, ainda muito abalado ia se defender e se explicar, a matilha foi interrompida por dois anciãos legisladores. Aparentemente ficaram ofendidos pelo ritual ter sido chamado de maligno e pelo desafio ao Augúrio e posto da Fúria Negra. Agiam como membros de um culto evangélico, cuspindo baboseiras como tudo que vem de Gaia é bom, como se os próprios Garous  criados por Gaia fossem perfeitos. Como se todos os espíritos de Gaia fossem benevolentes. Aquela era a maior balela que já tinha ouvido na vida. Se fosse um crente imbecil, e não um questionador (será que seu augúrio tinha ascendente Ragabash?) teria se sentido culpado. Como não era nada disso resolveu não responder apenas quando sua sua vida foi colocada em discussão.

Ficou gelado. Eles matariam um Garou nos últimos dias antes do apocalipse apenas por dizer verdades que ninguém queria ouvir? Quando baixou o olhar e viu o corpo sem vida de uma Garou filhote que tinha chegado no Caern naquele mesmo dia teve sua resposta. Não, aquele não seria seu destino. Escolheu viver.

- Eu peço desculpas se ofendi a senhora Tolerância Zero. Eu nunca tinha visto um Garou ser morto perto de mim e tinha me afeiçoado a ela. Meu descontrole não é desculpa e aceito todos os fardos que eu tiver que carregar para corrigir isso. Se eu disse um absurdo como chamar um ritual de Gaia de maligno foi porque me expressei mal. Gaia em sua sabedoria nos ofereceu armas para redimir os pecados e acredito piamente que devo sofrer o mesmo ritual para que aprenda a controlar minha boca em momentos de tensão. Sou novo entre os Garou, 2 dias apenas e por isso não soube escolher o momento de externar minhas dúvidas.. Disse ainda tremendo, deixando que sua ansiedade transparecesse. E estava muito nervoso.

Controlou sua expressão para uma face de dor e perda. O que não foi difícil, pois era o que sentia realmente. Claro que não pelos motivos que dizia. Aquela imbecilidade precisava acabar logo, não queria que a Doninha fosse ofendida. Recebeu o ritual da  voz do Chacal e teve que se controlar para não chorar, pois sua voz era a única coisa que valorizava. Sabia que seu corpo era feio e deformado por nascimento, apesar de que aceitava bem sua impureza, mas mesmo que em um aspecto subconsciente sabia que não era perfeito. Com grasnados e latidos disse:

- Esquecido, Kor, Cabelinho, Dereck, Dimas e - engoliu em seco - Amanda: façam seu melhor, eu preciso aprender e aceito que se aprende melhor com a dor. Virou-se para Kor e disse:

- Fico muito honrado em ser você  a me ensinar. Dentre todos aqui, foi o que se mostrou mais sábio e ponderado em todos os momentos, e sei que já passou por grandes provações. Não poderia ter melhor tutor. Terminou olhando para o obtuso Garou, que tinha um ego gigante e acreditaria em cada palavra. Teria que lidar com aquele ser estúpido e obediente, e faze-lo pensar que podia mandar em algo era o melhor caminho no momento. Baixou a cabeça em sinal de submissão e assumiu a forma humana para que ficasse ainda menos ameaçador a todos ali.

Sabia que a sequência de insultos seria dolorida, mas era bom. Serviria para quebrar qualquer carinho que ainda sentisse pelos membros de sua matilha e para que a dor em seu peito fosse amenizada. Era um impuro, seria excluído sempre e quanto mais cedo aprendesse melhor.

Pouco depois da fala de Sussurros, Mayra chega na clareira central. Estava com um semblante leve e não evita o sorriso ao ver que Julian, apesar de visivelmente nervoso. Pensava que a confusão ainda era causada por Ingvild, mas ao ver o corpo morto da Garou e a presença de membros poderosos da Seita, percebe que a coisa tinha ficado muito pior. Olha para Balik e comenta com ele:

- O que diabos aconteceu aqui?

A Ahroun aperta seu passo. Seu vestido estava justo ao corpo ainda molhado, mas isso não impedia que Mayra se apressasse e chegasse próxima à Julian e falasse em tom que qualquer um pudesse ouvir e responder, mas sem gritar ou ser deselegante na intromissão:

- O que aconteceu aqui?

Começava a ficar seriamente preocupada com o rumo da matilha enquanto esperava uma resposta com um fio de esperança que ela diminuísse suas preocupações.

A sombra do caern estava maior, muitas sombras emergiam obscurecendo a clareira central e seus demais garous. O lugar onde a matilha estava se encontrava movimentado, óbvio, todos iriam olhar o ritual de punição de um irmão. Mas a agitação não era normal, ao adentrar pelas sombras avistei o corpo da re-bombada da Fúria negra, aparentemente alguém cortou a cabeça dela fora, finalmente.

As vozes ecoavam por entre as arvores e a presença de postos elevados se faz notar facilmente. Tolerancia-Zero começa a seguir a tripla punição que eu não sabia o motivo. Abrando meu passo, não queria estragar o ritual, queria observar a prática do mesmo.

*Pena ter pego ele na metade. Mas ainda bem que cheguei a tempo de ver Sussurros sussurrando que nem um gatinho com asma.*

Sussurros havia voltado atrás, para alívio de Dimas. Além disso, evocava seu melhor álibi para o momento: sua inexperiência como Garou. Ele pede desculpas e se acerta com Kor. Kor era um bom sujeito, daria tudo certo. Sussurros aceita seu fardo. Sua voz agora combinava com seu rosto... Mayra chega e pede explicações, Dimas olha para Kor achando que ele as daria, mas ele responde apenas ao Uktena. No entanto, Kor parecia já ter começado o Ritual, pois derrama insultos em cima do Theurge. Eram merecidos, mas o Filho de Gaia tinha um bom coração que faz com que ele tenha pena do outro novamente. Koer então pede que ele se posicione para o Ritual.

Guardião dos Segredos apenas se manteve em seu lugar esperando o início do Rito quando é surpreendido. Um pequeno homem, com uma grande coragem, vem e questiona o julgamento. Ele podia, tinha posto o suficiente. Dimas agradece a Gaia que o enviou no momento certo. Também achava demais a punição de Sussurros, mas não falou por causa da maldita hierarquia... Com um brilho de satisfação nos olhos, mas sendo discreto com seus pensamentos, esperou que os Anciões, Amanda e Esquecido respondessem ao Ragabash dos Presas de Prata. Guardião via sabedoria e concordava com absolutamente tudo o que ele dizia e torcia para que ele fosse realmente ouvido.

'- Isso não pode ser sério...' - Diz Amanda, visivelmente contrariada e emendando - 'você realmente acha que ele vai aprender alguma coisa se eu revogar a punição pelos atos que ele cometeu aqui? Com todo respeito ao seu psoto eu não me recordo de alguém ter solicitado a sua opinião em assuntos internos dessa matilha...'

Tyrion ri e comenta:

'- Nem eu me recordo de ter pedido autorização para falar em uma roda que expõe uma matilha inteira à vergonha na frente de todo o Caern. Se quer privacidade não faça seu show na frente do Caern inteiro, Juíza. Você quer ser justa ou tá mais preocupada em não voltar atrás em uma decisão tomada no calor das emoções? Você também pode errar. Todos podemos. Você foi o alvo, não era isenta para julgar, todos aqui sabem disso. A matilha confiou em sua sabedoria. O garoto reconheceu sua sabedoria. Seja sábia agora, dê a ele uma chance de se provar e à sua matilha a chance de não se expor ainda mais ao público essa noite. Isso não os honra, não honra vosso totem e ainda por cima não vai mudar o que aconteceu. Só vai criar mais feridas dentro da matilha e afastar ainda mais um jovem Garou que mais do que tudo, precisa aprender e ser castigado pro não nascer sabendo tudo.'

Sagittarius e Trovão-Inquisidor cochicham algo entre si e, Amanda mais uma vez reage com firmeza:

'- Você está questionando a minha capacidade de julgar a situação?'

O Presas de Prata dá dois passos para frente, demonstrando que não se intimidava com a Philodox e fala:

'- Não. Ele já foi julgado culpado e ninguém está dizendo aqui que ele é inocente. O que eu questiono é a pena, muito pesada para um Garou tão jovem. Dê a chance para que ele se prove. Você sabe que é o certo a se fazer...'

Amanda olha séria para Tyrion, encara Sussurros-dos-Espíritos e em seguida Julian. O clima estava pesado no local. E quase todos que estavam no Caern assistiam de camarote o show da Esquadrão da Fúria.

* Recebe a gratidão da Juíza sem esboçar sinal de resposta. Os rumos que a situação tomava eram decididamente péssimos. Como se já não bastasse a multidão risonha que se formava na clareira central para assistir ao espetáculo bizarro que a matilha estava construindo, os dois juízes mais gabaritados da seita se aproximam para tirar uma onda também. Ouve o que é dito em silencio, menções a outros julgamentos e intensidade das penas.. os legisladores se entendiam. Para Julian, o assunto só se torna digno de real atenção quando o destino de Sussurros-dos-Espiritos é efetivamente decidido. Estava selado, o theurge enfrentaria uma punição tripla pela audácia. Esquecido não pretendia entrar no mérito de quão justa fora a intensidade da punição, não era seu augúrio e não lhe cabia contestar algo que fora causado por imbecilidade. Não deixa de pensar, no entanto: *

" Voz do Chacal é uma foda no rabo, ritual de escárnio é tipo um estrupo do Kid Bengala.. mas tutela é o pior de tudo. O argentininho tá bem é fodido.. "

* Seus devaneios o abandonam quando os dois Juízes da Seita, já conhecidos seus por motivos óbvios, lhe dignam a palavra e deixam claro que estavam de olho na matilha. Para a infelicidade de Dimas, este resolve falar bem no momento em que o alto escalão estava na conversa.. e uma reprimenda é feita ao Theurge Filho de Gaia em questão de instantes. Antes de responder aos juízes, dirige a palavra ao açoitado Dimas, que provavelmente não pretendia mal algum com os dizeres: *

- Depois que isso aqui termina...

* Não tinha dito muito, mas esperava que as singelas palavras fossem o suficiente para aplacar um eventual humor ofendido por parte do theurge. Em seguida, simplesmente volta-se para Trovão-Inquisidor e comenta: *

- To sabendo. Relaxa que eu já pedi pra Juíza agilizar pro Theurge Uktena descolar uma vala pra despachar a fúria negra caída..

* E então responde a afirmação pendente tanto de Trovão-Inquisidor quanto de Sagittarius: *

- .. e podem olhá o quanto quiserem, chefias. Como cês tão vendo, não tamo escondendo nada de ninguém. * Fazia clara menção ao rol de curiosos que os cercava, certamente apenas para rir. * - O que é certo é certo. Geral que tá passano por julgamento chegou hoje na seita e vai aprender como isso aqui funciona, de um jeito ou de otro. Eu não sei de onde eles vieram, nem o que já tinham aprendido. Não conheço eles e a matilha não se conhece. Só sei que quem ficar olhano demais, vai descobrir que o motivo da risadinha acabo e que essa matilha vai funcionar.

* Esboça um sorriso de canto de boca por não mais do que um breve instante, deixando-o desaparecer rapidamente, como quem diz: vocês vão morder a língua. Estava realmente farto daquele circo todo e bastante cônscio de que a imagem pública da matilha estava destroçada. Mas talvez fosse melhor assim. Dos que riam de Esquecido no inicio, quando era apenas um Cliath, quantos sobraram pra contar história!? Provavelmente nenhum.. e porque haveria de ser diferente com a matilha que era por ele liderada?! A perspectiva de sucesso futuro não abandonava o Roedor de Ossos que estava acostumado a ser nivelado por baixo. Refletiu: *

" O ex líder dos Fenris riu de mim uma vez.. mas acho que isso foi antes deu botar o filho da puta pra dormir com a cara esmagada.. "

* Novamente o mundo dos vivos clama sua atenção, pois Sussurros dos Espíritos o encarava emburrado. Não que o Uktena fosse algo mais do que decididamente feio, mas a feição de desgosto que estampava seu rosto alcançava a proeza inimaginável de deixa-lo ainda mais estranho. *

" O que o vacilão esperava!? Que fosse deixar ele me fazer um bola gato de presente por ter fodido ainda mais essa porra toda e mijado na Juíza?! "

* Julian meramente deixa aquela percepção pairar sobre ele, sem esboçar reação significativa. Surpreendentemente, ao contrário do que todos esperavam, o Uktena teve o bom senso de aceitar o quão idiota havia sido. Ele pede desculpas, treme, gane como um cão, devido à voz do chacal, mas ao menos se retrata, e aquilo era bom. Talvez a situação estivesse prestes a tomar um rumo produtivo e Esquecido até chega a esperar algo de bom florescendo ali. É nesse instante que uma voz feminina extremamente familiar lhe chega aos ouvidos. Julian jamais precisaria fazer algum esforço, por menor que fosse, para reconhecer a autora daquelas frases. Olha para ela se permitindo, apesar da nítida tensão do momento e da própria Fianna, um pequeno sorriso. Nota o vestido molhado, colado ao corpo, e nota também muito mais do que o mero tecido. Desvia o olhar, focalizando Kor, que iniciava um de seus discursos, e deixa seu meio sorriso se tornar sério. Aproveita o momento em que o Galliard discursava para dizer baixo e sucinto, sem atrapalhar o que já estava em andamento: *

- .. o diabo não quis concorrência e me mando de volta pra atrapalha sua vida, a Ahroun Fúria Negra não aguento a pressão do Ritual de Escárnio e fico uma cabeça mais curta e o Uktena resolveu chorar pela cabeça separada e mijar nas decisão da Juiza enquanto fazia isso. A fita é essa..

* Estava bastante cônscio da presença da Fianna ao seu lado, algo que não ocorria à muito tempo, e sentiu ganas de agradecer pela ajuda mais cedo. No entanto, para sua imensa surpresa, a cena que se segue rouba de sua boca a possibilidade de expressar qualquer sentimento que não fosse o mais sujo possível. Julian exclama em pensamento: *

" Putaqueopariu, tá tirando com a minha cara!! Como se não bastasse essa caralha toda, me mandam uma porra dum anão!?? Isso é coisa daquele cuzão do Will! Vou enfiar esse anão intero no rabo daquele filho da puta! "

* Estava prestes a mandar o cirque du soleil embora quando ouve sua apresentação, aquilo cessa a raiva crescente pela situação quase imediatamente. O sobrenome Kraken era incontestavelmente o mesmo que o seu. Então seu primo recém chegado era um anão!? Esperava tudo menos aquilo quando tomara ciência de uma embaixada da família de seu pai no Rio de Janeiro. Olha fixamente para o meio-homem e ouve suas palavras agora com atenção, refletindo: *

" O que falta de tamanho esse porrinha tem de língua.. o malandro é bom.. "

* Esquecido sabia reconhecer um bom malandro quando via um, e aquele anão incontestavelmente era um dos bons. Quase de ultima hora, o pequeno adiciona que o problema com Papo-Reto e Spyware estava resolvido, como se aquilo não fosse uma informação importante. Julian xinga mentalmente por ter podido tratar aquele assunto com maior atenção, mas deixa aquilo para depois. Foca no que era prioritário e acompanha o debate final sobre a pena de Sussurros, para só então se adiantar. Aproxima-se de Tyrion e de Amanda, posicionando-se próximo de ambos na mesma proporção, e comentando com o anão da forma mais leviana que seu semblante ainda endurecido podia permitir: *

- Papo-Reto comentou que cê tava por aqui, tava mesmo a fim de trombar contigo pra tomar umas.. mas se pah eu ia escolher uma hora menos pior, tá ligado?

* Diz aquilo à titulo de boas vindas e então se volta para a Juíza de sua matilha, que o olhava como se buscasse algum tipo de opinião. Olha Amanda fundo nos olhos, buscando reconhecer a verdade que existia ali, antes de responder: *

- Cagar nas tuas decisões e métodos foi uma ideia, literalmente, de merda e eu fui o primeiro a te pedir esse julgamento. Eu confiei nas tuas otras sentenças e não me arrependi, tá ligada?! Mas o nosso parça aqui.. *aponta com a cabeça num gesto curto para Tyrion * - .. disse uma fita que é real: o Uktena ainda é novo e eu nem sei como esse porra foi criado antes de colar pra cá.. tem coisa pra caralho pra aprende e já foi punido pesado. Julgar não faz parte do meu augúrio e eu nem to querendo fazê isso, mas queria dizê que também já fiz merda quando era Cliath e acabei aprendenu.. e aprendi sem precisar de uma punição "triplica", ou sei lá como cês tão chamando essa porra.

* Olhava para a Fúria Negra fundo nos olhos, prosseguindo com o que tinha pra falar: *

- Mas cê tamém tá na tua razão e eu entendo teus motivos. Então esfria a cabeça e faz o que tiver que fazer. Eu to ligado que cê sabe o que é melhor. A decisão é tua e eu to contigo.

* Acena com a cabeça apenas o suficiente para que Amanda soubesse que Esquecido, independente da decisão, estaria apoiando suas palavras. *

O Xamã podia ver a expressão de triunfo no rosto de Kor. De alguma forma ele achava que sairia mais forte daquela situação e Sussurros acharia graça se o motivo dele não fosse a sua própria desgraça. Ficou muito surpreso com a intervenção do anão. O poder  e a coragem que emanavam dele eram palpáveis e imaginou o que um Garou deformado como ele tinha que ter passado para chegar ali. A empatia foi imediata. Amanda certamente poderia ter indicado a tutela para alguém como ele.
Pra falar a verdade na opinião do Xamã as piores punições já haviam sido dadas. Ficar sobre a tutela de um Garou expulso de outra matilha (apesar de que o peso dessa escolha estúpida se debatia sobre a Fúria e não sobre ele) e a Voz do Chacal que o humilhavam continuamente eram as piores punições. Olhando em volta e vendo os rostos espantados de sua matilha viu que tinha perdido o respeito por eles de qualquer forma e a pedra do escárnio apenas iria consolidar isso. Mas o mais importante é que Amanda havia sido desafiada na frente de todo Caern e de qualquer forma ela perdia. Se voltasse atrás teria que admitir que havia pesado seu julgamento por questões pessoais, o que parecia claro na sua primeira resposta e se mantivesse o julgamento seria ainda pior, pois teria mostrado que além de odiar um jovem Cliath recém chegado era intransigente.
Teve que conter um sorriso. Seria difícil se aquela voz maldita e olhar de espanto de Kor com as palavras do recém chegado não o mantivessem focado. Olhou agradecido para o impuro. Precisaria pedir dicas de como falar o que pensava sem ser punido sumariamente com ele. Então vieram as palavras do líder, apoiando de certa forma o anão. Xeque-mate vadia.

- Eu considero ponderadas as palavras de todos aqui - a voz estridente destruindo qualquer respeito próprio que pudesse ainda ter - e respeito sua decisão juíza. Se você acha que mereço punição tripla que seja. Me submeto à sua sabedoria. Posso te garantir que aprendo muito a cada momento dessa noite.

Baixou novamente a cabeça em sinal de submissão.

O galliard Andarilho levanta uma  das mãos como que se fazendo notar para então falar.

- Com vossa licença, mas o que foi registrado até então é que 2 anciãos apoiaram uma pena severa com o intuito de educa-lo.

Ele fala de forma ponderada quase púdica.

- Me pergunto porém, se o endosso deles também se enquadra na parte em que o senhor diz que ela não era isenta para julgar. Ao que me recordo, a ultima palavra de que o ritual se iniciaria veio de um desses anciãos que aqui está.

Sua voz irritava o próprio ouvido, ma ele não se preocupa com isso, era seu castigo ter que falar, e falar com aquela voz, e como Kor não se pronunciara, caberia ao outro Galliard.

Julian se mostra favorável ao pleito daquele novo garou e o Andarilho apenas guarda a fisionomia de cada um a medida que fala.

- Acho interessante o fato de alguém que a momentos atrás, chamou aquele que agora é seu tutor de burro, e então em uma atitude de incrível conversão reconhece que ele é o mais sábio. É paradoxalmente fascinante ver como uma dupla punição e o risco da concretização da terceira colocar, aparentemente, sabedoria e humildade na mente de alguém.

Ele olha para cada um alí presente, dos que estavam diretamente envolvidos, deixando os curiosos de lado.

- Arco com a consequencia dos meus atos impensados e de meu mau uso de palavras, e procuro agora, através desse som que sai de minha boca aprender e gostaria de, assim como fiz inicialmente, reinterar que melhor seria deixar passar, Tolerância-Zero

Ele fala olhando para a philodox que agora era quem estava sob os holofortes

- Ainda sim, meu dever é ser, dentre outras coisas, a memória dos fatos, e os fatos mostram que aquele que a minutos atrás degladiou-se contra a senhora, está manso como um cordeiro.

Ele fala olhando diretamente para Sussurros.

- Longe de mim inferir qualquer juízo, mesmo porque, confesso, o temor de um ritual como o que foi à ele imputado, traria até mesmo em mim um temor reverente, e, penso que o mesmo poderia ficar em observação do seu tutor.

Ele aponta para Kor e volta-se para Amanda

- Se me permite, senhora, proponho que, se o tutor entender que em algum momento a partir de hj em que sua tutoria se inicia, Sussurros dos Espíritos é merecedor de tal pena, então que a mesma seja executada... até então, que a mesma seja colocada em stand-by.

Ele faz uma pausa em que é aparente que o som da própria voz o incomodava.

- Note que a pena não está sendo abolida, ela apenas estaria, a seu critério, sendo colocada em suspensão. Se ele passar na tutoria, e se todo o relatório for favorável, que a mesma seja abolida ou comutada, do contrário, ele apenas postergou-se o inevitável.

Aponta para Kor e Sussurros apenas para apresentá-los, como mero gesto...

- De mais a mais, a sombra constante do ritual, com certeza fara com que ele repense suas ações antes de toma-las. Se me permitem a opinião senhores, e senhoras.

Fala a ultima parte por notar a chegada de Mayra, e assim, colocando-se sob a sua autoridade.

*Simpatizei-me ao anão, ele fazia uma pergunta muito pertinente: Onde estava o ragabash da matilha para intervir no julgamento? Ah sim, um estava recobrando a sanidade da ahroun e o outro provavelmente encontrava-se em choque.*

O anão parecia bem esperto, e logo conseguiu a atenção necessária para fazer-se ouvir. Deixei-o falar, talvez pudesse aprender alguma coisa de suas palavras eloquentes. Esquecido logo se pôs a falar, e assim como eu, ficou surpreso com o anão ser seu parente. Os garous riram dele e meu sangue logo ferveu , mesmo sabendo que momentos antes era eu rindo, mas isso não dava o direito para os outros rirem, pensando bem, dava sim.

A matilha parecia mais um circo do que propriamente uma matilha, e isso logo se confirmou quando o Andarilho pôs-se a falar como uma hiena guinchadora, onde rapidamente o anão envio-lhe uma retórica impressionante. O anão era esperto, e estava conseguindo seu show. Extremamente eloquente, parecia querer mais chamar atenção para si, do que ajudar o pobre Uktena, que afinal, acabara de aceitar sua pena e a decisão da Fúria, e parecia compreender, seja lá qual tivesse sido sua pena, e isso animou-me. Calmamente adentrei a frente dos demais e com uma voz tranquila introduzi-me respeitavelmente:

- Perdoe-me pela intromissão, mas de fato a punição dada por Tolerância-Zero sobre este Cliath é demasiada severa como diz o nobre Presas de Prata. - uma pequena pausa dramática após concordar com o anão - Mas, sua honra não deve ser contestada. De forma alguma pediria a um Philodox que volta-se atrás após dar seu veredito. Ela deve manter sua palavra e arcar com as consequências de ter sido imprudente e não ter ponderado seu julgamento sobre a lamina da misericórdia. Quiçá de até mesmo ter sido injusta ou desrespeitosa. - olhei de forma complacente para Tolerância, aquele circo devia acabar, fitei então Sussurros brevemente, mas rapidamente virei-me de volta ao Presas de Prata eloquente - Além do mais o garou em questão aceitou sua punição e disse ser merecedor de tal. Que a honra dele seja espelhada entre os demais desta seita. - falei olhando para os demasiados olhares curiosos que avançavam como moscas em um cadáver fresco, e voltando-me ao Presas de Prata, prossegui - E não vejo a necessidade da tutela ser passada adiante para um garou que não esteja em sua própria matilha, obviamente nada contra o senhor, mas inclino-me a dizer que a tutela deve ser mantida entre os membros de sua própria matilha, de forma que seu tutor esteja sempre disponível e possa acompanha-lo de perto, inclusive durante as batalhas. - voltei a olhar Amanda e Kor, acrescentando - E se o Galliard e a Philodox permitirem, aceito a tutela dele com honra. - finalizando com um gesto leve de reverencia com a cabeça.

Estava calmo, e seguro em minhas palavras. Não permitiria que minha 'Mãe' fosse ateada contra si própria por um ser eloquente que sabia utilizar-se melhor das palavras bonitas existentes no dicionário, não mesmo.

*Ela me pedira para ficar de olho no Uktena. Desta forma, acredito, que faço meu dever e libero outro garou de tal fardo.*

Quando Sussurros achava que tudo já tinha terminado e poderiam continuar a vida, Dereck se intrometeu. Então ele achava que a punição havia sido pouca. Vamos ser claros aqui: DERECK, O CULPADO DE TODA ESSA MERDA, havia achado a punição pouca. Sim, era assim que Sussurros pensava. Dereck usou toda a sua eloquência Galliard para humilhar uma Fúria Negra Ahroun durante uma noite de lua cheia. Isso havia levado ela à estupidez de ser morta na frente de todo o Caern por outro membro da matilha. O desperdício da vida dela tinha enchido o coração do Impuro rejeitado de dor e levado ele a cometer crimes pelos quais estava pagando e o filho da puta ainda achava que era pouco. Se olhar de desgosto matasse, o Andarilho do Asfalto teria caído fulminado em uma explosão de chamas. Bem, o Uktena até tinha esse dom, mas ia  ser um pouco espalhafatoso demais, não, não, lidaria com o obtuso Galliard que realmente não sabia ficar com a boca fechada mais tarde.

Para sua sorte o anão que não perdia uma oportunidade de responder as merdas que eram ditas, não só  lembrou que o Galliard imbecil havia sido punido com a voz do chacal por falar demais, como que o outro Galliard burro já era um desonrado expulso da matilha anterior por pásmem, entrar em frenesi durante uma discussão. Qualquer semelhança não era mera coincidência. O estranho era ele defender a posição de sacrificar aqueles que tem não tem auto controle. Realmente Esquecido estava em maus lençois.

Logo depois Balik aparece do nada, onde diabos estava o Ragabash da matilha? Se ele não tivesse sumido depois da confusão inicial ele poderia ter acompanhado as punições desde o início e visto que a mão de Amanda havia sido pesada e a morte de Ingvild talvez tivesse sido evitada. Claramente chegou por último e queria sentar na janelinha. Mas suas palavras foram duras. Com a voz horrível e sabendo que todos precisavam ver que já havia sido bastante punido falou:

- Eu aceitaria sua tutela com muito prazer nobre e honrado presa de prata, e se pudesse eu o escolheria. Até porque os membros da matilha estarão sempre juntos para me orientar, mas um impuro que sabe as dificuldades pelas quais passamos e chegou a um posto alto, não é tão fácil de encontrar. Se a líder da minha tribo estivesse aqui, sei que ela mesmo seria minha tutora ou ficaria feliz que fosse o senhor. Mas respeitarei a decisão da minha juíza. Não farei julgamentos sobre a honra de quem ela indicou para me orientar. Mesmo sendo um Garou expulso de sua própria matilha ou meu Ragabash ausente durante todo o processo em que nossa juíza ficou sozinha para tomar suas decisões. Aceito meu castigo.

Sussurros finalmente entendeu o que se passava. Era uma questão de Augúrio de novo. Não era sabedoria apenas. O Presa de Prata e o Wendigo falavam o que queriam de Amanda, inclusive que o ritual que ela realizou havia sido excessivo, sem penalidades. Tudo bem que a forma como falaram foi mais amena e o Xamã aprendeu mais nessa noite e com sua punição sobre as relações entre os Garous do que na sua vida anterior inteira.

Julian, com seu linguajar bem peculiar lhe passa a sua versão dos fatos. Demoraria um pouco processando a frase que a cara artigo seguiam duas gírias, mas compreendera o Roedor e agradecia à Gaia por ele estar vivo. Balança a cabeça como quem entende o que é dito e começa a prestar atenção no que se sucedia. Um impuro anão toma a defesa de Sussurros e começa a enfrentar a Juíza da matilha colocando questões em xeque. A Fianna não tinha acompanhado nem a falta e nem o julgamento, não tinha nenhum elemento para tomar uma opinião e não deixaria que a sua se formasse apenas pelos outros. Sentia que havia algo errado com Sussurros, mas ao mesmo tempo, se fosse tão errado não haveria toda aquela discussão e um Presas de Prata, por mais que fosse um impuro, não ia se expor à toa. As motivações do Presas de Prata deixam Mayra curiosa: *o que ele ganharia com isso?* Mayra fica pensativa olhando para Tyrion até que Julian dá seu parecer e a Fianna olha para ele e comenta em tom de voz baixo:

- Você foi sábio. Que bom que você está bem.

Só diz isso e, então, nota que as argumentações continuam. Dereck tenta manter a punição pesada em seu irmão e isso não era dos gestos mais bonitos. As palavras do Galliard, no entanto, são refutadas com dureza pelo anão que novamente entra em atrito com a juíza e com uma inesperada participação de Balik. Uma participação que arranca um sorriso do rosto da Fianna. Gostava cada vez mais daquele Wendigo de grande personalidade e coração maior ainda. Era um bom Garou. Feliz em ver o potencial daquele que havia sobrevivido ao inferno que passaram na noite anterior, a Fianna olha para Dereck e pede, com um gesto de mão espalmada que ele se contivesse. Torcia para que ele entendesse pois não queria que aquilo se alongasse e, aproveita e diz para a Philodox:

- Amanda, estamos expostos em demasia. É hora de cortar as discussões e tomar uma decisão.

A Fianna fica olhando para a juíza, esperando que ela tomasse sua deicsão.

* Julian, após suas palavras, apenas observa Sussurros dos Espíritos humildemente aceitar sua punição. Aquilo não combinava muito com os modos extravagantes e a cabeça dura que o Theurge vinha apresentando, mas não lhe cabia fazer juízo de valor sobre a extensão da sinceridade daquelas palavras.. isso era um problema a mais para a Juíza resolver. Quando Dereck resolve falar, ganha a atenção de Esquecido instantaneamente. Era impossível não se irritar com a Voz do Chacal, e os grunhidos e ganidos do Andarilho do Asfalto faziam seu trabalho enquanto indicavam a manutenção da pena do Uktena. Particularmente, Julian não se importava muito com a posição individual de cada um ali. Queria unicamente que aquilo terminasse.. mas não esqueceria o escárnio sofrido. Os risos de deboche daqueles que rodeavam a clareira central após suas ultimas palavras ainda pairavam agourentas em sua mente. Mantem o cenho fechado e não demonstra ou diz nada além do que já tinha demonstrado e exposto.. não daria aos filhos da puta risonhos mais motivos para escarnecer, até porque em breve quem estaria rindo, como sempre, seria o próprio Esquecido. *

" Hoje cês tão rindo, amanha vão tá chupando pica com pimenta e eu vo tá lá pra tirar foto.. "

* E entre os risos que o Anão, aparentemente sem se importar com nada que o cercava, sorri e aceita as cervejas. Julian apenas assente positivamente e uma ampla discussão se inicia, direcionando todo aquele circo em direção à uma tutela diferente e expondo muitos dos palhaços pelos erros passados. Uma coisa era de fato incontestável, o que o Anão não tinha de tamanho, tinha de língua. Quanto antes providenciasse umas cervejas pro porrinha, melhor.. assim ele finalmente ficaria quieto. Outro que surpreende é Balik, que surge tão repentinamente quanto havia se ausentado, e já chega discursando sobre como sentença deveria ser mantida por já ter sido proferida e sobre como a tutela deveria ser fixada a ele. Julian, particularmente, também nada tinha contra a opinião, cada qual com a sua. O que perturbava o Roedor de Ossos era a possibilidade daquilo se estender por muito mais tempo e ganhar proporções ainda maiores. *

" Já tá na hora de acabar de vez com essa porra. "

* Esquecido mal presta atenção nas novas palavras de Sussurros, sabia o que seria dito. Era obvio que o Uktena iria concordar com a tutela do Anão e até a mais débil das criaturas conseguiria enxergar as vantagens decorrentes. Julian estava prestes a avançar para parar com a putaria quando ouve Mayra, ao seu lado, comentar baixo em seu ouvido que era bom velo vivo e que havia honra em suas palavras. Ainda era um pouco estranho para o Roedor de Ossos conversar de forma tão leve com a Fianna, mas era inegável que o gesto era o mais bem vindo possível. Olha para ela por um instante, espera que ela peça celeridade para a Juíza, e comenta, também baixo, para que não atrapalhasse a discussão e não ficasse em evidencia: *

- Se eu to bem, foi só purque uma mina com cabelo de fogo resolveu que preferia eu aqui do que numa vala, onde ela não ia podê me dar uns tapa na cara e tal.. Acho que o melhor que eu faço é te mantê por perto, isso sim..

* Esboça um pequeno sorriso, muito sincero, sinalizando assim seu agradecimento por ter sido salvo de uma morte certa. Não espera resposta, até porque a possibilidade de um tapa na cara de verdade nunca estava muito distante quando sua ex era uma Ahroun. Se afasta alguns passos apenas para se colocar em evidencia e, quase no centro de todo aquele show de horrores, deixa sua voz ecoar incisivamente: *

- Chega dessa porra, já é o suficiente!

* Olha para Dereck com firmeza, sinalizando silenciosamente que não queria mais palavras, e repete o gesto com Sussurros, Balik e Tyrion. Todos já haviam dito o necessário e aquilo já havia se prolongado por tempo demais. Olha por fim para a Juíza, inquerindo: *

- Já gastamo tempo demais, geral já falou, cê já ouviu e é tua palavra que importa. Tá na hora de por um fim nisso. Então Amanda, descola pra nóis, qual é a tua decisão?

* Foca unica e exclusivamente em Amanda, agora com olhos mais brandos, demonstrando que apoiaria sua decisão, e aguarda, de uma vez por todas, a decisão que poria um fim a toda aquela putaria. *

Muitos haviam falado, muitos argumentos foram rebatidos e Dimas apenas ficava esperando, analisando a tudo e tentando retirar o máximo de aprendizado da situação. Havia aprendido muito sobre honra, julgamentos, leis e hierarquia de postos apenas nessas últimas conversas. Então, a pedido do Alpha e da Beta, a Juíza dá seu veredicto. Sussurros estava livre da pesada Pedra do Escárnio e DImas sorriu levemente de alívio. Kor seria seu tutor, o que também era uma coisa boa. Finalmente as coisas estavam chegando em seus eixos e logo eles poderiam sair dali, sair da vista de todos do Caern, e continuarem suas vidas...

Mais uma comida de toco, desta vez em Dimas. Cabelinho apenas abaixou a cabeça em respeito à Trovão Inquisidor. Quem seria ele, Cliaht e ainda mais Roedor para causar no meio do ritual? Queria só que tudo aquilo terminasse de uma vez por todas. O que impressiona Cabelinho são as palavras de Sussurros, na verdade os ganidos estridentes. O cara de uma hora para outra queria ajudar a IngVild e na outra estava se julgando culpado e pedindo desculpas como se fosse aquele cachorrinho que chutamos (não que eu chute cachorrinhos)e fica com o rabo entre as pernas.

Mayra volta depois de toda a bagunça feita. Ainda bem que não era ela quem estava ali, a imaginava em frenesi no meio da Clareira Central esmagando cabeças. Engoliu em seco. A Ahroun pediu explicações, mas Kor resolveu inflar um pouquinho o ego pelas palavras bonitinhas de Sussurros que ao ver de Cabelinho não tinham cabimento nenhum. Falar alguma? Cabelinho? Nem a pau Juvenal. Calar a boca naquela matilha parecia ser a melhor opção, pelo menos no momento. Balik havia chegado com Mayra, ou estava ali o tempo todo? A presença dele era tão monótona quanto as folhas secas no chão de terra do Caern. Cabelinho não tinha ido com a cara dele.

E então um anão passa por Cabelinho e Dimas. Cabelinho o olha com curiosidade. Nunca tinha visto um anaão na sua vida, com exceção do Mestre dos Magos do desenho Caverna do Dragão. Mas este aqui tinha cabelo, pelo menos. Sorriu depois de analisar um pouco o “meio-homem”. E ainda estava pensando em um apelido para ele. As palavras do tal Tyrion agradam Cabelinho. Era claro que ele tinha que ter interpelado a Juíza. Mas Cabelinho tinha muito que aprender ainda e não se intrometeu. Resolveu ouvir o anão.

Ao fim das palavras do anão, Cabelinho quase bate palmas. O filho do Mestre dos Magos tinha o dom de falar e as palavras dele foram memorizadas por Cabelinho. Poderia aprender com ele? Será que um Presas de Prata poderia ensiná-lo? Iria questionar Esquecido depois a este respeito.

Amanda responde o anão de forma até educada, isso, claro, se ela tinha alguma educação, o que aparentava não ter. Tyrion a responde e Amanda o questiona e Tyrion rebate. Era como um jogo de tênis, só que bem mais divertido. Se Cabelinho tivesse rojões, ele os acenderia e gritaria pelo nome de Tyrion. Tinha decidido, quando crescesse queria ser igual a ele, só não na altura.

Esquecido parecia conhecer aquele anão de algum lugar ou era uma impressão errada que Cabelinho vira nas palavras do Alpha. Claro que noventa por cento das palavras de Esquecido eram ininteligíveis. Fora os erros de português. Cabelinho sabia falar, ler e escrever devidamente, só não sabia onde aprendera isso. E o Alpha apoiava a Juíza em sua decisão. Ficara neutro. Talvez não fosse uma boa tática.

Mais uma vez a voz desagradável de Sussurros chulezento se faz presente. Era horrível o ouvir falar qualquer coisa e mais uma vez ele se submetia aos julgamentos de Amanda. Desta vez a voz esganiçada vem de Dereck. Mas por alguma razão desconhecida, Cabelinho preferia ouvir a voz esganiçada de Dereck do que a de Sussurros. Dereck fala, fala, fala e Cabelinho entende apenas que a punição seria colocada em espera. Claro que a maior parte do que ele falava era meio estranha ao Roedor que não conhecia aquele tipo de linguagem mais rebuscada.

Tyrion se oferece como tutor de Sussurros e Cabelinho quase se joga entre Amanda e Tyrion se oferecendo para ser tutorado por ele também. Mas se fizesse aquilo as risadas poderiam ser dirigidas principalmente a Cabelinho em vez da matilha toda. As palavras do filho do Mestre dos Magos eram poderosas.

Finalmente Balik fala. Ele sabia falar? Ele fala a favor da Juíza e também se oferece para ser tutor de Sussurros. Quantos mais se ofereceriam? Esquecido? Dereck? Mayra? Sagittarius? Se qualquer um poderia ser tutor, Cabelinho iria se oferecer também. Não achava que Balik poderia ser ideal ou melhor que Kor. Não que os dois sejam bons, mas achava que Kor, neste quesito poderia ser melhor que Balik. Sussurros aprenderia com Balik o que? A calar a boca? Porque Balik nunca falava nada, portanto, não aprenderia nada. Claro que Kor era uma matraca, mas era melhor que nada.

Sussurros faz com que todos ouçam novamente a sua voz insuportável de chacal. Ele aceita a tutela de Tyrion, e quem não aceitaria?, e aceita a de Balik, se ele for escolhido, não sem antes dar-lhe um soco no estômago lindamente. Entre Sussurros e Balik, ele preferia o chão que pisava. Mas era legal ver que um tirava o outro como se fossem inimigos. Mesmo Cabelinho sendo Ragabash, tinha acabado de chegar e tentar falar contra a juíza poderia causar-lhe uma punição. AS palavras de Sussurros pareciam acertadas.

Mayra é direta e pede a decisão imediatamente. Realmente tudo estava demorando demais. Imaginava se uma festa na matilha fosse feita quantos anos demoraria a terminar? Dois? Cinco? Vinte? Já se sentiu completamente cansado só de pensar em uma festinha de boas vindas para todos os garous, claro que, inclusive ele mesmo. Esquecido resolve então colocar fim aquela discussão sem resolução alguma. Cabelinho suspira fundo vendo que alguém, de posto mais elevado que o seu, tinha decidido finalmente encerrar aquilo definitivamente.

Amanda é direta em suas palavras. A mulher era muito grossa e má educada e Tyrion a coloca no lugar. A punição final não é tripla, mas sim dupla. Balik ficaria como co-tutor de Sussurros e a Pedra do Escárnio havia sido removida. Queria e muito ser igual à Tyrion quando crescesse. Alguns poderiam até perceber que os olhos de Cabelinho brilhavam quando ele olhava para o anão. Ele tinha sido formidável. Estava feliz que tudo tinha acabado. Queria sair dali logo.

O resultado não foi dos piores para o jovem Xamã. Se fosse para ver a matilha, certamente estávamos no fundo do poço. Membros rejeitados de outras matilhas, mesmo absolvidos como a juíza tinha feito questão de lembrar, ainda tinham a reputação em baixa. Mas saber que ele tinha sido absolvido de um frenesi e ataque contra outros membros da sua matilha deixavam um gosto ainda mais amargo. Ele queria punições para Ingvild, quando ele mesmo havia sido absolvido? Kor não poderia descer mais no conceito de Sussurros. Teria que ser tutorado por ele, e considerava aquilo mais uma vingança pessoal de Amanda do que uma chance de se redimir. Assim que Amanda encerrou o julgamento Sussurros disse, evitando usar um tom sarcástico que trouxesse mais danos a sua matilha:

- Eu agradeço a justiça em seu peito Amanda. Espero que saia satisfeita de ter feito um bom trabalho hoje.. Rogava no seu íntimo que a maioria dos presentes visse seu gesto como um agradecimento pela misericórdia da Legisladora e não como a zombaria por todo teatro que ela tinha causado no Caern. Virou-se para Kor e continuou na sua nova voz irritante. Já se acostumava com ela e esperava que todos na matilha fossem se acostumar logo, pois falaria até que removessem aquela punição por qualquer motivo que fosse. Nem que por não aguentarem mais o Xamã com voz de Chacal: Sopro-da-Tempestade, fico feliz de ser tutorado por você. Sei que assume isso como uma grande responsabilidade e que teme que meus erros possam se refletir na sua imagem, que depois das informações dadas pela nossa justa Legisladora, se mostra inabalável. Mas não se preocupe. Farei meu melhor.

Desviou o olhar para o anão:

- Eu devo muito lhe agradecer. Gaia me fez nascer com uma mente de Ragabash na lua de um Xamã. Os Garous não veem com bons olhos filhotes que saem de seu augúrio. E eu não tive a educação necessária para saber quando me calar. Baixou a cabeça e completou: acho que hoje aprendi. E muito graças a você. Não se preocupe comigo senhor. Me sairei bem. Minha matilha tem membros orgulhosos e eles se preocupam com a própria reputação no Caern. No fundo muitos ficaram aliviados com sua intervenção.

Tolerância-Zero rígida falava sobre Kor, o que me deixou pouco mais aliviado, agora a palavra "ex" fazia sentindo para mim. Mas ela foi dura com o pobre anão, não precisava chama-lo do que obviamente era, ou precisava?

O anão ficou nitidamente ofendido, e se auto afirmou de posto elevado como se aquilo compensasse seu tamanho. Parecia não lembrar da parte da litania que falava sobre respeitar o de posto inferior, apenas de cobrar ouvidos destes. Caíra em meu conceito, não era tão sábio, apenas sabia usar as palavras de forma eloquente afinal.

Amanda bate o martelo, e com um aceno de respeito meneio a cabeça. Fiquei feliz por não ser o tutor.

O show terminou e todos saíram da sessão comentando sobre o que haviam assistido, espero que eles lembrem de assistir ao show da Wyrm, esse sim era imperdível! Muito mais ação, adrenalina, e alguns nem conseguiam comentar sobre seu desfecho depois.

Observou Sussurros conversar com o anão que ainda estava ali e Amanda se fechar em cima de uma pedra, e aproveitou antes que Esquecido dissesse algo para falar com o semblante férreo:

- Um dos pontos mais fortes dos lobos é sua mentalidade coletiva. Um único lobo pode ser forte, mas acompanhado da alcateia, pode abater uma criatura dez vezes maior do que ele. Não somos diferentes. A matilha é a base de nossa sociedade. Essa cooperação é o que nos guia, e é nossa esperança. Se não conseguirem deixar de lado seus preconceitos e estereótipos, nossos inimigos irão nos dividir, e nos conquistar com facilidade.

Não esqueçam quem vocês foram, mas aceitem que hoje são membros da Esquadrão da Fúria. Honrem este nome pois este agora é o vosso nome. Nosso objetivo é expurgar a Wyrm de nosso território, mas para isso precisamos pensar, agir, e ser uma matilha. Proponho então irmos para nosso ponto de encontro e treinarmos entrosamento, conhecer a habilidade de cada um, pois se hoje a Wyrm ganhou um dia, não podemos deixar que percamos um.

Se não está satisfeito com a decisão do Ancião que o designou, faça o favor de poupar-nos de sua presença, assim como nosso nobre Sopro-da-Tempestade, e trocar de matilha.

Esperava que metade levanta-se e fosse embora, mas sabia que as chances disso ocorrer eram nulas. Ninguém tinha culhões para fazer isto, era muito mais fácil e confortável permanecer ali e tentar se adaptar. O problema que era minha paciência que estava sendo testada.