A Rede de Esgotos do Rio de Janeiro

*Filippi ainda está dormindo quando Stevie o cutuca, e acorda num mau humor fenomenal, expondo as presas. Xinga em português e italiano antes de passar para o inglês*

- Puta que o pariu! Stronzo di merda! Um homem não pode mais dormir em paz! Que porra... *Mas então senta-se, olhando em volta e compreendendo* Porca madonna! Preferia ter dormido na merda que dever alguma coisa para esses figli di buona donna... *e recuperando um pouco de sangue frio* Tudo bem aí, camarada?

Stevie levanta a mão quando o companheiro começa a xingar, tentando fazer com que ele reduza o tom de voz, mas desiste, afinal, já sabiam que estavam ali, não faria mal saberem que estavam acordados, só tinham que ir o quanto antes. Continua em inglês.

"- I'm fine... Mas acho que a gente tem que sair daqui o mais rápido possível... Saber que porra tá acontecendo na cidade que a gente já perdeu muito tempo."

Então adentrava a sala a figura horrenda e fétida de Carlent, trazia nas mãos uma bandeja de olhos humanos que pareciam até vivos e temperados. Todos os vampiros eram monstros mas alguns faziam questão de levar a fama ao pé da letra.

"- Obrigado Primógeno Carlent e boa noite. Agradecemos as camas e o refúgio pelo dia."

Stevie era firme e apagava de sua mente o encontro na Capela Tremere a dois dias atrás, tinha que apagar, afinal agora era Primógeno também e não tinha motivos para temer Carlent, por mais que ele fosse um filho da puta aterrorizador.

O Brujah ouve o Nosferatu, ao menos ele não estava sendo totalmente escroto dessa vez, apenas era nojento, muito nojento. Stevie responde.

"- A gente tava lá no orfanato que teve um massacre. Mas a FESN tinha chegado lá antes... Não acho que eles tenham ligação com o massacre, mas eles estavam em cima da gente. Tinham câmeras por todos os lados e equipamentos de alta tecnologia, inclusive conseguiram uma amostra do meu sangue, e capturaram o Malkaviano, John Smith."

*Filippi lança um olhar com um ódio mal contido para Carlent e resmunga um "boa noite" com a quantidade mínima de polidez necessária para com um anfitrião. Depois vira-se fingindo examinar algo nas paredes, andando pelo quarto. Quando o nosferatu dirige-se diretamente a ele, pensa por um segundo ou dois e diz*

- Foi alguma coisa que os homens da FESN disseram... Eles nos chamaram, como foi a palavra, Stevie? Aberrações? Algo parecido com isso. Acho que temos de instituir um alerta máximo. Esses sujeitos podem ter alguma pista de que não somos normais.

*O celular de Stevie toca com um número completamente desconhecido*

Stevie sente seu telefone vibrar enquanto a conversa seguia, ele responde a Carlent.

"- Obrigado Primógeno, será no Elysium provisório? A que horas? Bom, tenho ainda uma função pra cumprir em nome da Príncipe, e seria bom ter o resultado na reunião. Se o senhor me perdoe, preciso partir."

Ele ainda se volta para Luis e fala.

"- Brother, qualquer coisa só me dar um toque, e toma cuidado, tá uma loucura lá em cima."

O Primógeno Brujah começa a se levantar caso Carlent não tivesse uma objeção, e então o cumprimenta, imaginando que ele devia dar instruções de como sair daquele labirinto, que impressionantemente tinha sinal de celular.

"- Estarei lá. Obrigado, e até logo."

Stevie então olha para Luis, se despedindo mais uma vez e então sai da sala que estava o Primógeno Nosferatu, já sentindo o ar mais limpo, mesmo ainda estando no esgoto, ele procura uma escada para sair dali e descobrir onde na cidade estava, enquanto isso olha para seu celular, não reconhecia o número, mas atende.

"- Stevie speaking."

*Uma voz grave de barítono, com um fundo áspero que a faz soar como um rugido de urso - uma voz em mil - soa no telefone, falando inglês com um forte e ainda mais inconfundível sotaque irlandês, particularmente cantado e com uns peculiares erres guturais. Mick não sabe quem possa estar por perto de Stevie, se ele estranhou o número e colocou no viva-voz, se há algum membro com os sentidos mais aguçados, então decide usar um subterfúgio.*

- Boa noite, Stevie. Aqui quem fala é Richard O'Brien. Mas você costumava me chamar de Mick.

*O vampiro fia-se em que o termo derrogatório usado para um irlandês católico em quase todo o mundo anglófono protestante, e que é seu próprio apelido, possa enganar qualquer um que esteja ouvindo. Mas também espera que Stevie entenda... ou se lembre*

A voz que vinha do telefone era grave, áspera, era realmente um rugido mais do que uma palavra. A língua inglesa, sua linguagem natal era um sabor para seus ouvidos, e principalmente para sua mente, que podia relaxar sem se esforçar para entender. Ele escuta as palavras, e principalmente escuta o sotaque, ele se lembra de seus tempos de criança, o bairro italiano que ele morava tinha alguns imigrantes de outros lugares, católicos em Chicago, de onde vinham? Da Irlanda, e aquele sotaque era típico daquele povo, a R pronunciado, o I que parecia que havia um Ô na frente.

Era inconfundível, assim como aquela voz, somada aquele sotaque, só podiam, juntos, pertencer a uma pessoa, e aquela pessoa era Mick Collins. O Brujah abre um sorriso, não sabia como aquele bastardo tinha conseguido seu telefone, nem o que queria com ele, mas só de ouvir aquela típica voz, a nostalgia batia, e Stevie responde, como se ainda estivesse em seu bairro natal, falando com seu papá, com um forte sotaque italiano em sua voz, sempre um tenor, com a voz belíssima, falava como se estivesse cantando, e cantava como se estivesse encantando.

"- Mick... Mick... Mick... No conosco nenhum Mick... A não ser... Wait... - E então ele tenta o máximo sua imitação do sotaque Irlandes de Mick - "- That bloody bastard que sumiu me devendo uma?"

A voz de Stevie havia começado falando sério, e então, quando falando com o seu "sotaque" irlandes estava claramente rindo as abertas, com um eco audível por Mick, era um italiano, não importava onde se encontrasse, sempre falaria alto.

*Stevie escuta a característica risada de Mick, baixa e cheia, e sua voz cheia de riso*

- Não é imitando tão mal um corkiano que você vai chegar a ser um, italiano de merda! Em Lisboa estão dizendo que agora você largou a estrada e virou a porra de um burocrata com título e o caralho, é verdade?

Stevie pega a venda e coloca nos olhos, ele sabia que os Nosferatus iam escutar sua conversa, mas duvidava que não escutariam se ele estivesse em casa também, então ele apenas deixa detalhes de fora.

"- É isso ai seu irlandês safado! Vai ter que aprender a respeitar seu Primógeno... Quando ele parar de nadar na merda."

Talvez Mick entendesse que estava no esgoto, talvez não, de qualquer forma não sabia o que o companheiro queria.

*Filippi concorda com a cabeça com Carlent*

- Estarei lá.

*Olha para Stevie meio desesperado quando vê que o primógeno vai saindo, mas, ao se ver sozinho com Carlent, força-se a olhar para ele, com seu rosto que prenuncia coisas tão boas quanto o gosto alimentar do nosferatu*

- Senhor Carlent, eu gostaria de fazer uma vistoria no novo Elísio antes de começar a reunião. O sr. teria o contato dessa Marie-Amélie?

*Mick continua rindo*

- O que foi fazer no esgoto, burocrata fodido? Deu a descarga nos relatórios? *depois prossegue mais sério* Acabei de chegar ao Rio de Janeiro, camarada... Poderia fazer uso de uma ajuda para... conhecer a empresa... *espera que ele entenda a alusão - não poderia falar mais claramente no aeroporto onde está parado*

*Filippi não parece achar particularmente revoltante a maneira como Carlent anota o telefone, embora procure colocar entre ele e o nosferatu a maior distância que consegue sem ser indelicado. Para sua própria surpresa, é obrigado a concordar com tudo que o primógeno diz*

- Mais motivos para entrarmos em alerta máximo. Estarei na reunião. Isso é fundamental para nossa sobrevivência. Com licença, agora gostaria de ir.

*Na verdade o brujah precisa se alimentar. E poderia fazer uso de algum tempo para lidar com suas bases...*

O nosferatu deixou o refúgio de seu novo amante, Vincent Lyon e começou a caminhar pelos esgotos. Ali era o espaço de seu clã, embora ultimamente estivessem aprendendo a viver na superfície do Rio de Janeiro. O principado nas mãos de Linda Wilson era um passo, enquanto os próximos movimentos talvez devessem partir daí. O que Andre faria?