Ruas - Zona Norte

Emilie sorri um pouco incréula, mas não refuta as palavras gentis de Guille. Sua mão também aperta a dele com força, enquanto sua cabeça inclinada no banco fica virada para ele.

- Fico feliz em saber que considera isso. Essa noite foi tão dura que quase me fez pensar que a errada sou eu em me manter com esses valores. Me conforta muito ver que existe alguém nessa cidade que ainda se mantenha mais humano.
Dá um belo e cúmplice sorriso para Guille.

O Toreador não tinha o que dizer, apenas olha para a Malkaviana sorrindo como se nunca tivesse visto algo tão belo. Ele mantem seu olhar nela, e depois aproxima seus lábios da testa da bailarina e lhe dá um beijo tenro, voltando depois sua atenção à rua, porém, coloca seu braço em torno dos ombros dela, a mantendo próxima de si, querendo sentir sua pele tocar e pele dos braços dela, desejando guardá-la num pote, para nada a ferir, nunca mais.

Emilie retribui o sorriso de Guille e fecha os olhos por um momento quando ele beija-lhe a testa. Assim que ele envolve o braço em torno dela, a bailarina se aninha ao peito do lutador e fica alisando o pescoço e o rosto dele com a ponta dos dedos. Mantêm-se absorta naquelas carícias até visualizar o prédio de subúrbio onde ela mora. Aponta-o com o dedo.

- É ali... - diz com a voz meio mole, sem se afastar do toreador.

Guille encosta o carro em uma vaga próximo ao prédio de Emilie. Então ele olha para a garota profundamente nos olhos, sua mão direita tocando os cabelos dela, a esquerda busca a outra mão da bailarina e a segura firmemente, e então ele fala.

"- Entregue sã e salva."

O Toreador dá um sorriso e seu rosto se aproxima dela, seus lábios tocam os lábios da Malkaviana, ele a desejava, mas mais que isso, desejava protegê-la acima de tudo e seu beijo apaixonado nada mais era que ele se agarrando desesperadamente a esse sentimento, essa humanidade que tentava lhe alcançar depois de muito tempo.

Assim que Guille estaciona, Emilie segura o rosto do toreador, virando o seu completamente para ele. Os olhos castanhos claro, que o fitam intesamente, escancaram que ela tinha a mesma intenção que ele.  

- Obrigada, meu cavaleiro.

Os lábios da malkaviana se entrabem, e se lançam na direção do toreador. É difícil dizer quem beijou quem, já que ambos aproximaram-se um do outro no mesmo momento. O beijo é longo, apaixonado, intenso. A mão da malkaviana envolve a nuca do toreador enquanto a outra ainda aperta a mão dele. Suas pernas ágeis de dançarina logo deixam o banco do carro para irem se sentar no colo do lutador, e nisso ela encosta seu peito ao dele, abraçando-o, beijando-o, envolvendo-o junto a si como se fosse sua última chance de fazer isso antes da Gehhena.

O Toreador mantem o beijo por muito tempo, segurando a Malkaviana em seu colo bem proxima a si. Nao querendo nunca larga-la. Ela lhe beijara ao mesmo tempo e com a mesma intensidade, Guille interrompe os beijos com uma palavra de cada vez, pausada por um minuto beijando.

"- A gente... Devia... Entrar... O sol... Vem!"

Ele abre a porta do carro e a trás ainda em seu colo, levantando seu peso sem nenhuma dificuldade, como se eles tivessem num balé e ela estivesse sendo levantada por ele. Então ele começa a andar em direção ao predio dela, sem ver onde ia, sem nunca parar de beija-la. Mantendo seus sentidos aguçados, o que fazia o tato e o cheio, e a visão e audição daquele momento serem a maior sensação que o Toreador tivera na vida, mais do que suas lutas, que sempre considerara sua paixão unica. Estava apaixonado por Emilie e demonstrava isso na luxúria e desejo em seus beijos.

OFF: segue no refugio de Emilie

O beijo de Guille envolve Emilie completamente por um momento, de forma que ela não responde às palavras dele de imediato. Deixa que ele a carregue, envolvendo os braços ao redor do pescoço dele, rodeando a cintura dele com suas pernas, beijando-o sem sequer ver para onde ele a levava.

Num curto momento de lucidez, percebe que eles já estão dentro do prédio. O elevador precário estava parado no térreo, esperando que Emilie o direcionasse para o andar onde ficava seu apartamento. É nesse instante que a consciência da bailarina encontra espaço em meio a luxúria. Suas pernas delicadamente se desprendem de Guille. As pontas de seus pés tocam o chão, como se representassem mais um passo daquela coreografia que só eles sabiam. Suas mãos deslizam pelo rosto do toreador e, ainda hesitante, ela pára de beijá-lo, dizendo em meio a um suspiro.

- Espere... hoje não, ainda não. Eu adoraria apenas convidá-lo para entrar, para ficar comigo durante o dia... mas eu passei por muita coisa hoje, preciso entender tudo o que aconteceu. Tem coisas que eu preciso fazer, coisas que você não vai entender... Eu devo isso para Cláudia, devo para as minhas irmãs...

O rosto de Emilie ganha mais uma vez a tristeza melancólica de antes, mas os carinhos dela sobre o rosto dele não cessam, e conforme fala, o olhar dela ganha firmeza.
- Você está prestes a entrar na casa de uma louca. Precisa ter consciência de que sua mente pode não sair daqui do mesmo jeito que entrou... Posso deixar que durma na minha cama hoje, se achar que o sol vai te pegar no caminho para o seu refúgio. Posso deixar que veja o que eu vou fazer, se não tiver medo do que venha a acontecer com sua mente. Ou você pode me esperar, até que eu realmente esteja pronta para você, o que não sei se será essa noite... Só não posso deixar que você se envolva comigo, sem que saiba antes com o que está lidando.

O olhar da malkaviana fita-o profundamente, aguardando a resposta dele.

O Toreador fita Emilie nos olhos acompanhando o olhar da garota, ele sorri para ela e a responde, em voz baixa, quase um sussurro.

"- Você já me mostrou tanto com o que não estava acostumado com esses anos de não-vida. O que eu mais queria era acordar e te ver, ver que tudo foi verdade, que você realmente existe, e eu tenho um motivo para continuar a levantar todas as noites. Eu não temo o que eu veria de você, e anseio por tudo que puder me ensinar. Mas obviamente se você quiser usa privacidade eu entendo perfeitamente, mas já estou ansioso para te ver na noite de amanhã, mesmo antes de nossos corpos se separarem."

Guille permanece com seu corpo forte muito próximo a Emilie, e ainda acaricia o rosto delicado da Malkaviana.

A resposta de Guille faz Emilie sorrir. Suas mãos deslizam do rosto do toreador, e uma delas segura a mão dele novamente.

- Se você quer assim, podemos achar um jeito que seja bom para nós dois...

Sorri, antes de beijar de leve os lábios dele novamente, e o conduz para dentro do elevador, apertando o botão que os conduziria ao quinto andar

*Segue em Edifício Torre de Babel - Apt 502*

O garou olha para o relógio, as horas estava adiantadas mas seu trabalho ainda não. Encosta seu carro próximo a uma das guaritas da PM, retira seu celular e manda uma mensagem para o alpha da matilha.

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OFF
Mensagem enviada via MP com cópia para narração

Kamuriel percebeu que o taxista não era de falar muito, isso era bom para Kamuriel mas não bom para o Tremere. Ele precisava de informações e não tinha paciência pra ficar interrogando um mero homem. Ele pergunta brevemente:

- Tem jornal?

Espera a resposta, se o homem tiver jornal ele já o pegará para ler as noticias e ficar por dentro.

A ausência de consciência de Emilie vai ficando para trás, mas a percepção em que a bailarina emerge é completamente diferente de sua própria. Ela não tem tempo de se acostumar com o fato de estar na pele de outra pessoa, pois logo esta se vendo em meio a tanta violência que só consegue querer se encolher, com medo de ser atingida. Queria fechar os olhos para não ver os corpos sendo mutilados, o sangue jorrando para todos os lados, os ossos e músculuso brutalmente separados dos corpos, as órbitas oculares vazias a encarando. Mas não consegue, as imagens vêm sem aviso, sem permissão, estuprando sua frágil mente fragmentada.

Quando enfim consegue um mínimo de reação, um suspiro depois das imagens turbulentas, o que ela vê é apenas o cenário concreto daquele pesadelo. Crianças orfãs como ela, mortas como ela, mas mortas para sempre, enterradas pela dor, sem nunca mais terem a chance de encontrarem algo de bom nesse mundo.
Seu corpo nu, coberto de sangue se arrepia de terror, de enjoo, de aflição. Caminha, sentindo o sangue preencher ainda mais os vãos de seus dedos do pé. Observa os cadáveres mutilados tentando não olhar para o rosto de nenhum deles. Procurando em vão qualquer sinal de vida, qualquer saída daquele cenário grotesco, que enchia seu coração de angústia.

Os desenhos tão inocentes na parede, maculados pelo sangue, fazem lágrimas subirem aos olhos da malkaviana. Quem teria sido tão hediondo para aniquiliar com tanta brutalidade aquelas crianças tão puras? Emilie queria poder fazer alguma coisa por elas. Vingá-las, talvez. Porém, mal conseguia se recompor. Sua alma estava tão estraçalhada quanto os corpos ao chão.

Negava-se a acreditar que teria sido ela própria a causadora de tanta desgraça se mal conseguia encarar o que estava a seu redor. Nunca faria mal à uma criança. Não depois de Marie...

Desconsolada, ela caminha pelo orfanato olhando o que ainda tinha restado dele. Procura por alguma cama, algum armário, por lençóis que lhe permitissem se limpar ou se cobrir, por alguma pia ou tanque d'água que lhe permitisse lavar o sangue de sua pele. Sua alma jamais se lavaria.

Chegar num lugar limpo dá um pouco de alívio à Emilie. A angústia ainda a sufocava, mas pelo menos não precisava observar os rastros da destruição.

A bailarina pega uma toalha, e vai até o banheiro. Se lava completamente do sangue que cobria seu corpo, mas durante o banho tudo o que consegue pensar é se aquele sangue pertencia a um adulto ou uma criança, fazendo-a se esfregar obcessivamente, cada vez com mais nojo de si mesma.

O sangue vai embora de sua pele. Ela não se sente limpa, mesmo assim sai do chuveiro, secando-se com a toalha, e volta até o vestiário, abrindo todos os armários, procurando alguma peça de roupa que lhe coubesse.

Só então, vestida e seca, com os cabelos úmidos, é que Emilie começa a se perguntar como havia chegado até ali. Sua última memória era ter subido ao seu apartamento com Guille, mas já não estava mais entre as paredes seguras de seu Refúgio, nem o toreador estava com ela.
Contudo, não tinha forças para investigar. Sabia que ampliar sua percepção pelos dons de seu clã só a fariam ver com mais detalhes a chacina que havia acontecido ali e Emilie não aguentava mais.

Precisou tomar muita coragem para sair do vestiário e voltar até as salas cheias de sangue, passando por elas o mais rápido que podia e seguindo o caminho feito pelos corpos mutilados. Tudo o que a malkaviana queria era sumir, e não apenas em sentido figurado. Cruzando os braços, fechando-se em si mesma e na sua própria desolação, a malkaviana rebateu todos os focos de luz que ainda pudessem estar incidindo sobre si tornando qualquer olhar que eventualmente cruzasse sobre ela incapaz de enxergá-la.*


OFF: Ofuscação: 2

Natasha seguia pelas ruas da Zona norte, se movimentando rapidamente guiada pelo morcego que havia espionado as redondezas para a Garota, Natasha estava Ofuscada, pois apesar de querer matar sua curiosidade sobre o que estava acontecendo, ela não era idiota de meter as caras em um lugar sangrento, ela buscava caminhos que não se cruzassem com as pessoas, e tirou os seus saltos para correr se fosse necessário, ela havia colocado o Celular no Silencioso para que uma ligação não estragasse sua ofuscação.
Ela estava preocupada com aquela situação toda, a loucura acima do normal na rede malkaviana, seu contato de São Paulo e Emilie sem atender as ligações, e é claro o pesadelo que teve durante o dia que fez a garota chorar tanto sangue e quase tirou-a de si quando despertou, definitivamente algo estava acontecendo, começava a pensar na possibilidade de vários Cainitas terem tido o mesmo problema no inicio desta noite, o Massacre na Sicilia dava essa impressão a ela, e o prédio sangrento que o Morcego havia visto também. Só esperava não encontrar um Cainita fora de controle e se tornar mais uma vítima, mas confiava que poderia domar a besta dele como quem doma um leão selvagem.
Natasha dá de cara com um Orfanato, o lugar estava sombrio, quieto, e o Morcego voava naquela direção, a garota sente um calafrio, aquele lugar tinha alguma coisa de estranha, mas naquele momento sua curiosidade era maior do que o seu medo, ela precisava desvendar esse mistério, e por enquanto sentia-se segura pelo fato de todos estarem desviando os olhares da direção em que a jovem de cabelos verdes passava. Ela entra no local pulando o muro, andando pé ante Pé, para não ser ouvida, seus sentidos felinos já eram potentes, mas ela poderia aumentar isso exponencialmente, ela então o faz, logo franze a testa com a perturbação pelos sons da rua, e pelas luzes do local, mas era questão de tempo para se acostumar, mas o cheiro, era fortíssimo, era sangue, muito sangue, sua boca logo sente aquele gosto ferroso, uma vontade de sucumbir aos seus prazeres secretos por sangue, mas por sorte havia saciado essa vontade esta noite, e ela calça o salto, adeentra no local e presencia a chacina! Crianças esquartejadas sangue espalhado por toda parte, como se o próprio diabo tivesse passado ali e deixado a mácula do seu mal, aquela cena choca a garota felina, ela era mais humana do que muita gente, e aquilo fez com que lágrimas rubras escorressem no seu rosto, parecia que estava no próprio inferno, mas ela não recuaria, precisava saber mais! A fonte daquilo tudo, sua curiosidade era doentia, e ela ignorava medo, choque e tristeza para descobrir a causa daquilo, seu cuidado era redobrado no local e ela mantinha todos os seus sentidos ativos para ver se sentia um cheiro diferente, se ouvia passos, vozes, batimentos cardíacos, ou mesmo pessoas passando pelo local, ela precisava saber mais, e mais E MAIS!!

OFF: Ativo Auspícios e Sentidos Aguçados ao mesmo tempo.

Assim que a voz da menina ecoa em sua mente, Emilie pára de andar no mesmo momento. Seus joelhos tombam no chão e ela estica o braço para frente, num esforço, ainda que em vão, de alcançar a pobre menina.

- Não vou te esquecer, querida... Vou te ajudar. Vou fazer tudo o que eu puder para ajudar a todos. Eu prometo!

O contato dela fora embora tão súbito quanto chegara, mesmo assim, Emilie fala, na esperança de que ela ainda pudesse ouví-la, de que pudesse ainda confortá-la, por mais que, ultimamente, a protetora das crianças nada mais tivesse feito além vê-las morrer a seu redor.
Mas se ainda havia uma que confiava nela, restava à ela honrar essa confiança.

A malkaviana volta a se levantar, olhando para trás, lançando um último olhar ao orfanato.
"Eu prometo."

No mesmo momento em que começava seus primeiros passos dentro do orfanato Natasha ouviu uma voz do lado de fora, a voz parecia um grito devido a tão aguçados que estavam os sentidos de Natasha, no mesmo momento ela retorna para a parte em que ouviu a voz, era familiar, uma voz doce que ouvira pelo telefone, e logo se lembra de Emilie, mas nada via, mas sabia que seus primos sabiam se esconder tão bem quanto ela, olhando em volta Natasha diz com um pouco de Hesitação:

" - E-Emilie?"

O chamado à seu nome sobressalta completamente a malkaviana. Por um instante chega a pensar que é aquela pobre menina, que estava se comunicando com ela, mas não era a mesma voz, e sim, outra que chamara sua atenção noite passada. Conseguia ser mais bela pessoalmente do que pelas limitações do telefone.

- Sou eu... - Emilie desfaz a ofuscação, e fica procurando onde sua irmã de clã estava. Precisa fazer um esforço para se lembrar do nome dela.
Só então, pára pra pensar que poderia ser um inimigo Sabá se passando por ela, e tenta, em meio a sua fragilidade, encontrar forças para resistir se fosse o caso.

- Quem é?

Ao finalmente conseguir olhar na direção em que Emilie estava, a Garota Felina fica embabacada, era como uma estátua representando a perfeição feminina esculpida bem na sua frente, como um anjo no inferno, devido a isso ela sentiu um grande impulso de proteção e de demonstração da afeto, como se conhecesse ela a anos.
Natasha desmancha a Ofuscação e aparece bem na frente de Emilie, com uma micro saia preta deixando suas belíssimas pernas ressaltadas, uma camiseta de alça branca bem colada ao corpo modelando bem os seus seios, com o desenho de um gato preto a frente de uma lua cheia, parte de sua barriga ficava para fora, Natasha calçava também uma bota marrom de salto 11, seu corpo era simplesmente escultural e aparentava completamente ser uma humana, pois era notável até que respirava.
Com uma expressão de preocupação desarcerbada, mas completamente sincera, de quem via sua amiga de décadas em um perigo mortal, a garota de cabelos verdes diz com a voz doce:

" - Emilie, minha nossa! Que tragédia! Sou a Natasha, Lembra? Falei contigo ontem! Tadinha! Vamos sair daqui, a polícia deve estar chegando!"

Percebendo a desconfiança da sua Prima, Natasha dá um passo a frente com a mão no peito e diz com a voz mais doce, solícita e compenetrada do mundo, digna de uma pessoa pura e que não tem maldade no coração, talvez com a única intenção de ajudar, completamente sincera, talvez até beirando a uma entrega tão grande ao outro beirando a loucura:

" - Emilie, acredite em mim, sei que você deve ter passado por uma situação terrível aqui, mas acredite em mim, eu só quero o seu bem, te ver numa situação como essa parte meu coração, minha irmãzinha"