[CAERN] Clareira Central

Kor tava sentado com as costas na árvore descansando, de boa, tranquilo, como se o mundo pudesse acabar em barranco só pra ele morrer encostado, quase que com os olhos fechados quando vê seu irmão sair do meio do mato totalmente sério, com a cara fechada. Seu irmão Ragabash fumava um cigarro ao passo que já estava bem próximo de Kor. Quando o Kor vê seu irmão, regala os olhos e até dá um pulo. Inicialmente era de alegria, porque seu irmão, era praticamente seu pai. Foi ele que lhe criará e deu tudo do bom e do melhor. Até onde Kor sabia, o danado estava em uma missão e iria voltar só depois de 3 dias, mas estava feliz por vê-lo novamente com vida, afinal, era seu familiar mais próximo. Tinha um sorriso no rosto e quando já ia em direção no mesmo para dar um abraço em seu irmão, percebeu que ele ostentava um semblante muito sério, pesado, como se carregasse um fardo muito grande. O sorriso de Kor se desfez. Aquilo não estava certo. Ele estava muito sério. Percebeu que tinha algo errado naquilo tudo.

" Não tá certo... tem algo errado... ele não é assim..."

Já ia perguntar se estava tudo bem quando seu irmão começa falar para não ir em hipótese algum para o ponto de encontro da matilha, que seus homens foram descobertos por Kathya, que um deles conseguiu fugir, que estava pensando que Kor era um espião, que não pensou que pudessem ser pegos. Aquilo era muita informação para Kor. O Senhor das Sombras Galliard ficou por um segundos perplexo sem entender o que estava acontecendo tentando analisar o que tinha sido dito. Chacoalhou a cabeça tentando encontrar sua lucidez e instintivamente soltou umas palavras que poderia ser um princípio de desespero.

- QUÊ!?!? COMO ASSIM!? Eu espião!? Você tá ficando louco!? Mas que...

Levou as mãos na cabeça como se fosse aquilo fosse no mínimo... um absurdo. Olhou para os lados rapidamente certificando que não havia ninguém próximo e então reduziu seu tom de voz para o mesmo de seu irmão, mas não diminuindo a entonação de suas palavras que claramente procurava respostas daquele acontecido, já que era seu rabo que estava em perigo agora. Como aquilo havia acontecido Kor não sabia, a única coisa que poderia deduzir agora era que tava na merda por causa das espionagens de seu irmão, mas ainda sim era seu irmão e se ele estava fazendo isso era porque tinha seus motivos. Só não queria estar no meio daquilo tudo. Mas agora era tarde. Olhando para Argus disse enquanto tentava encontrar respostas para aquilo.

- Me explica isso direito, Argus! Como assim nossos homens?! Como assim eu espião!? Você têm noção que eles podem estar querendo minha cabeça agora?! Você me disse que colocaria alguém para fazer minha segurança ali dentro, MINHA SEGURANÇA, mas você não me falou absolutamente nada de espionagem e eu achei no mínimo que o Alpha estava sabendo disso, por isso nem me dei o trabalho de avisar... mas...

Respirou fundo tentando se acalmar.

- Porque eles estão achando que sou eu que tava espionando? O que que seus homens tava fazendo, Argus?! Eu sei que medidas de segurança são necessárias por causa de traidores, mas porque não me falou claramente sobre isso?! Agora sou eu que estou sendo visto como um traidor! E pior disso tudo, eu nem estava sabendo! Se eu tivesse no ponto de encontro agora, provavelmente estaria apanhando igual um cachorro sarnento...

Andava de um lado para o outro tentando achar uma solução para aquilo.

- Você devia ter me falado isso, Argus! Se já chegou nesse ponto é porque no mínimo eles têm provas suficiente para achar que eu sou um traidor! E isso não é verdade! Se você tivesse me falado isso, eu tinha dado um jeito para não chegar nesse ponto! E agora?! Agora, to fodido... por uma coisa que nem tava fazendo e nem sabia...

Voltou seus olhos para seu irmão e então completou, respirando fundo, ainda tentando se acalmar com aquela notícia.

- Me explica isso direito, Argus, para eu ver que que eu possa fazer pra essa situação não piorar ainda mais e não cair mais ainda nas minhas costas por sua causa...

Pronto. Sabia que tinha pisado no calo de seu irmão, que era praticamente seu pai, por causa dos planos dele que saiu errado e Kor não sabia. Tomou um soco forte na cara por causa de suas emoções excessiva. Como sempre. Colocou a mão no rosto massageando o queixo até passar um pouco a dor e se recompôs como seu Argus havia pedido. Kor ainda estava aprendendo a lidar com isso, mas seu irmão tinha razão. Deveria ter mais postura, porém, aquele soco foi desnecessário. Talvez Argus estivesse estressado por tudo aquilo e Kor fosse mais um problema, ou solução. Não saberia. O fato é que diante das palavras de seu irmão se deparou com uma encruzilhada.

Ajeitou sua postura, firmou o seu olhar e deixou suas emoções de lado. Como estava próximo da árvore, encostou nela de novo enquanto pensava em toda aquela situação. Analisava os dois lados que seu irmão oferecia para seguir e percebeu que qualquer um que fosse, ia levar a culpa. Mesmo que não fosse a sua. Não havia escapatória. Aquilo tinha acontecido de uma forma que Kor foi o responsável por não saber dos planos de seu irmão e também foi o responsável por terem descoberto as estratégias de seu irmão. Até onde sabia, ninguém sabia do seu irmão. Iria ficar difícil falar que tinha sido outra pessoa já que de acordo com a descrição que seu irmão oferecia, todos procuravam Kor, ou melhor, sua cabeça.

" Vou pagar por uma coisa que não fiz e que nem sabia que estava acontecendo... Mas pensando bem...foi por uma boa causa..."

Cruzou os braços e então olhou para seu irmão sério, já que o assunto requeria uma seriedade e principalmente solução.

- Ok, meu irmão. Você têm razão, me desculpe. Já me recompus e jamais irei baixar a guarda novamente...

Colocou a mão no queixo tentando pensar em uma forma de solucionar aquilo.

- Mas me ajude então a sair desse problema, porque eu não estava preparado para ele, muito menos sabia da sua existência. Vou agir conforme você disse e te entendi sobre postura, sem gestos excessivos, firmeza, autoridade, seriedade se comportar como um Senhor do Cume e tudo mais... Mas como eu devo me defender exatamente dessas acusações que virão contra mim?

Abaixou suas mãos e completou seu argumento.

- Se você tivesse esse relatório dos pontos fracos da segurança da matilha em mãos eu posso provar que estava fazendo isso em nome da segurança, o que é a verdade. Da minha segurança e da segurança de todos se precavendo de possíveis traidores, ali dentro, por isso não poderia revelar esse monitoramento. O que é a mais pura verdade, só que não foi eu, foi você. Eu preciso de argumentos para que eles não me incriminem como espião, porque isso é uma coisa que não sou. Você tem esse relatório?

Cruzou os braços novamente.

- Outra coisa. Esse homem que foi capturado por Kathya... O que ele disse? Você sabe? Se referiu a mim ou se referiu a você? Tem essas informações?

Ainda pensando sobre uma forma de sair dessa enrascada ia tentando tecer argumentos para que não fosse sentenciado como um traidor ou como um espião.

- E se a Juíza usar algo Dom e detectar que isso seja uma mentira por mais convincente que eu for? Eu sei que você fez isso prezando pela minha segurança e também pela segurança da seita, mas meio receio é eles não entenderem dessa forma...

Respirou fundo soltando o ar lentamente como se analisasse profundamente aquela situação.

- Irmão, vou agir conforme você está me pedindo, mas preciso que me forneça as informações e os meios necessários para que eu consiga solucionar esse problema. Se eles detectarem qualquer coisinha errada que seja que faça duvidar da minha palavra, vai ser um motivo para eles desconfiarem mais ainda... mais ainda do que já estão... Por isso que preciso que me ajude me dizendo o que eu faço... Entende?

Esperava uma resposta do seu irmão, que era muito mais experiente que ele. Com certeza Argus teria uma resposta e um meio de escapar dessa própria jaula que havia feito para Kor.

Argus balança a cabeça negativamente mostrando ainda mais decepção por Kor mostrando nem prestar atenção direito no que havia falado e então solta algumas palavras que doeu muito mais do que se tivesse levado uma surra da sua matilha inteira. Talvez as coisas que tinha falado atingiu direto seu ponto fraco, que era sempre procurar ser o melhor em tudo. A única coisa que não queria ser era um fracassado ou uma decepção igual seu irmão estava falando. Estava fazendo o possível para ser o melhor que podia, mas para ser melhor precisava de experiência e experiência só se conseguia quebrando a cara como vinha acontecendo.

Abaixou a cabeça refletindo aquilo tudo sem deixar de prestar atenção nas palavras. Era duro escutar aquilo de alguém pelo qual tinha muita consideração. Seu irmão colocou a mão em seu ombro e então Kor ergueu a cabeça respondendo olhando bem nos olhos dele como ele estava fazendo.

- Eu que peço desculpas para você, irmão. Se eu não estou atingindo suas expectativas, é porque a culpa é toda minha e não sua. Estou tentando dar o meu melhor todos os dias aqui, tentando aprender com meus erros, mas parece que o máximo que eu consigo ser é um fracasso e uma decepção...

Fez um silêncio antes de continuar. Se Argus notasse agora, suas palavras eram totalmente gélidas, frias, sem emoção, duras como uma pedra. Seu semblante não denunciava qualquer demonstração de emoção. O que escutou doeu tanto em sua alma que aquele tumultuo de sentimentos que turbilhava em seu peito desapareceu quase que instantaneamente. Completou então:

- Pode deixar que vou agir como você esta falando, mas quero que saiba que estou ao seu lado para o que der e vier. Se precisar que eu assumo toda a responsabilidade para que isto não te prejudique, eu assumirei sem nenhum problema. Não quero ser um fardo para você. Do contrário, farei exatamente da forma que você está me pedindo... e vou...

Finalizou suas palavras com um olhar bem frio e vazio.

- Aprender a ser um filho do Avô Trovão como devo ser...

Esperava uma eventual resposta de seu irmão antes que pudesse tomar alguma atitude com relação a esse problema inesperado.

Kor então, sério e firme como estava, escutou atentamente as palavras de seu irmão e como ele mesmo havia dito, era bem o que iria fazer. Iria dizer a verdade e se isso não bastasse, nada mais bastaria. Infelizmente, nem tudo poderia ser sempre como gostaria que fosse, mas era um risco que corria por ter um irmão que se preocupava com ele. Olhou para seu irmão e então respondeu.

- Tudo bem, irmão... Tudo bem.... Vou agir dessa maneira daqui para frente sempre. Vou te escutar mais... e também vou falar a verdade como está me pedindo sobre isso. Acho que eles irão entender que você estava fazendo isso por uma boa razão... Pelo menos eles deveriam entender... Seria o mais sensato.

Já pensando sobre o assunto e como iria se argumentar contra aquilo tudo, completou seu raciocínio para seu irmão.

- Você tem esse relatório sobre as falhas de segurança da Vingadores aí com você? Se tivesse, seria uma boa hora de mostrar para eles o quanto a segurança de lá estava enfraquecida justificando assim seus motivos...

Kor escuta o que seu irmão havia para dizer e então acena positivamente com a cabeça. O Galliard também estava sério e firme. Suas expressão agora era totalmente oposta a do primeiro momento. Ao que se mostrava, parecia ter encontrado seu controle emocional para aquela situação, mas uma coisa não saia da sua cabeça.

" Droga... provavelmente vou levar uma surra deles já que estão achando que eu sou espião... Do jeito que são precipitados, é o mínimo... Tsc... mas que merda..."

Olhando para seu irmão então, colocou seus braços para trás e respondeu com um tom de voz tranquilo mas sem perder a firmeza.

- Entendo, irmão... Que assim seja então... Farei dessa forma. Falarei a verdade e espero que fique tudo bem com você... Não quero que nenhum mal lhe aconteça e estarei a disposição para o que for necessário.

Pensando sobre o seu próximo passo, completou com o mesmo tom de voz.

- Penso que será melhor que eles me procurem por aqui então...Assim resolvemos isso logo de uma vez. Com certeza haverá um julgamento. Mas e você... Pretende estar presente ou acha melhor te procurarem também?

Já esperava uma resposta de seu irmão quando se lembrou de uma notícia que gostaria muito de passar para ele.

- Ah! Já ia me esquecendo... Queria te avisar que sou Fostern agora...

Tinha um leve sorriso no rosto ao entregar essa notícia para seu irmão que era praticamente um pai. Não era bem o tipo de felicidade que queria ter dando essa notícia, mas diante da situação, preferiu falar isso agora.

Seu irmão responde sobre agora ser um Fostern, então Kor acena positivamente com a cabeça com um sorriso sincero no rosto de felicidade concordando sobre ser uma notícia boa. E realmente era uma boa em meio aquilo tudo. Era uma só em meio a um monte ruim, mas agora não importava mais, o que estava feito, foi feito. Olhou para seu irmão então e colocou a mão no ombro dele dizendo:

- O que tinha pra dar errado já deu, irmão... Iremos consertar isso juntos. O ideal seria se todos pensassem como nós, pelo menos não chegaria nesse ponto, mas fique tranquilo que eu estou com você para o que der e vier.

Na intenção de tentar ajudar Argus da melhor maneira possível, completou.

- Seria melhor que você fosse embora então... Você já tá com muitos problemas para resolver. Eu assumo daqui enquanto você agiliza suas coisas até eles te procurarem para maiores explicações...

Por final tinha uma expressão séria no rosto. Querendo ou não, Argus era tudo que Kor tinha e também se preocupava com ele pelo fato de sempre ter defendido o Galliard em tudo.

O seu irmão Ragabash some diante de seus olhos como se fosse mágica. Aquilo foi impressionante. Não era atoa que era seu irmão, porém algumas palavras ficaram na sua cabeça martelando.

" Não vou saber de mais nada agora... droga..."

Não sabia até que ponto isso seria bom para si próprio. Não saber do que acontece tem suas vantagens, mas esse era um sinal claro de desconfiança, uma que nem tinha pedido para acontecer. Encostou na árvore que estava anteriormente sentando. Encontrava-se em um dilema agora: ou ia para a matilha desobedecendo seu irmão ou esperava irem lhe procurar, o que era mais viável nesse momento. Como eles já sabiam da situação toda, decidiu esperar pelo menos por alguma ligação, dando assim mais tempo.